208 segundos. Pouco mais de 3 minutos. O que você é capaz de fazer neste intervalo de tempo? Quase nada?
Pois esse é o tempo exato que Chesley Burnett “Sully” Sullenberger teve para decidir que caminho tomar após os motores do avião que pilotava serem atingidos por aves e pousar seu avião em segurança.
O engraçado é que a opção nacional de subtítulo para o filme, O Herói do Rio Hudson, vai justamente na direção contrária daquilo que o Capitão Sully defende a partir do segundo instante em que o vemos em cena, interpretado por um seguro e eficiente Tom Hanks.
Sully: O Herói do Rio Hudson conta a história do pouso realizado em 15 de janeiro de 2009 no Rio Hudson, no meio da cidade de Nova Iorque, e dos dias que se seguiram ao assombro mundial – e particularmente americano, que na época agradecia pela oportunidade de ter uma história com final feliz relacionada a colisões aéreas.
O drama da Warner Bros. Pictures tem direção de Clint Eastwood (Sniper Americano, Menina de Ouro, Sobre Meninos e Lobos, Invictus) e chega às salas de cinema brasileiras nesta quinta, depois de ter sua estreia nacional adiada por nós brasileiros convivermos com a tragédia da Chape.
O roteiro de Todd Komarnicki foi baseado no livro Highest Duty, escrito por Sullenberger e Jeffrey Zaslow, e é focado na investigação sobre os procedimentos de investigação por que passaram as decisões tomadas pelo capitão e seu co-piloto, Jeff Skiles, interpretado por Aaron Eckhart (Batman – O Cavaleiro das Trevas). No elenco também Laura Linney (Kinsey, The Big C) como a esposa de Sully, Lorrie Sullenberger.
Em 2009 Sully foi considerado um herói por ter salvado a vida dos 155 passageiros mais toda a tripulação ao decidir pousar no rio, mas, conforme o filme, não foi tão fácil assim convencer as autoridades de que ele realmente tomou a melhor decisão.
Sully é o herói improvável (e, como eu disse, não gosta de ser chamado de herói): um homem de família, com anos de profissão e treinamento, que diariamente faz aquilo que foi a única coisa que um dia sonhou fazer em sua vida, quieto, reservado e fazendo planos para sua aposentadoria. Não somente o pouso foi difícil como, para alguém como ele, os dias que se seguiram, isolado de sua família e perseguido pela mídia.
O desafio do filme é surpreender contando uma história cujo final todos nós já conhecemos, e ele tem sucesso nisso: a montagem garante algum suspense até o final e as cenas do pouso são extremamente bem feitas. Funciona bem, ainda, o uso de imagens do presente e do passado entrecortadas, nos dando pano de fundo para o drama que Sully e Jeff estão vivendo, além de imagens que mostram a dimensão do que teria acontecido caso o capitão não tivesse sido bem sucedido.
O ponto de partida principal, que mantém o suspense que citei, é a ideia de que uma mesma história pode ter diversas versões e que, em seu nervosismo pelo ocorrido, Sully não lembra exatamente o que aconteceu ou poderia ter tido uma impressão errada da situação, deixando de ser o herói que salvou a todos e passando a ser aquele que colocou a todos em risco.
A audiência tem certeza de que Sully tomou a decisão certa, afinal nós vemos o que aconteceu pelos olhos do capitão, enquanto as autoridades jogam informações sobre nós na tentativa de nos convencer do contrário. A escolha de Tom Hanks, então, se torna duplamente acertada: é o carisma que ele transmite ao personagem que não permite que esta confiança pereça, ainda que pudesse, ele consegue transmitir o terror que Sully sente ao imaginar que poderia realmente ter tomada a pior decisão naquele momento.
Não é mentira: uma boa história acontece quando temos um herói e os vilões muito bem definidos e Clint nos leva a identificar claramente quem é quem, ainda que isso possa ser considerado manipulação. Esta é a versão dele e de Sully para esta história.
São noventa minutos de filme muito bem aproveitados, deixando de fora qualquer sobra desnecessária, e com fotografia impecável. Filmado usando câmeras com tecnologia IMAX, assistir ao filme em cinemas que disponham da mesma tecnologia é um bônus para os amantes do cinema.
O filme reúne Eastwood com vários de seus colaboradores frequentes, que mais recentemente trabalharam com o diretor no sucesso mundial Sniper Americano: o diretor de fotografia Tom Stern e o desenhista de produção James J. Murakami, ambos indicados ao Oscar por seus trabalhos em A Troca; a figurinista Deborah Hopper; e o editor Blu Murray. A trilha sonora foi composta por Christian Jacob e The Tierney Sutton Band.
Ah, fique de olho: existem cenas durante e após os créditos.
A Warner Bros. Pictures apresenta, em associação com a Village Roadshow Pictures, Sully: O Herói do Rio Hudson, uma produção da Flashlight Films, Kennedy/Marshall Company e Malpaso. O filme, que tem estreia no Brasil marcada para 1 de dezembro, será distribuído mundialmente pela Warner Bros. Pictures, uma empresa da Warner Bros. Entertainment Company e, em territórios selecionados, pela Village Roadshow Pictures.
Para quem gostar do filme e quiser conhecer melhor o que aconteceu, o livro em que o roteiro foi baseado foi publicado aqui no Brasil pela Intrínseca e ganhou capa homenagem ao filme (sim, eu sei, também não gosto quando isso acontece).
P.S. Hanks não levou uma estatueta por Ponte Entre Espiões e merecia. Aqui ele merece novamente e eu espero que o desfecho seja diferente. Acredito que o maior desafio de um ator da magnitude dele seja que você enxergue na tela o personagem e não o ator badalado, e ele entrega.
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