Ainda que as referências do poster oficial e das falas de seus dois personagens principais sejam para Scarface, eu diria que Cães de Guerra, que estreia nos cinemas neste dia 08 de setembro, está mais para uma mistura de Senhor das Armas e O Lobo de Wall Street. E quando falo isso é de maneira elogiosa – ele consegue tratar do difícil assunto central do primeiro com a mesma voracidade que vemos no segundo – deu para pensar em Trapaça também, confesso.
Saem os negociantes de ações, entram os negociantes de armas. Em comum o uso das pequenas brechas legais até o momento em que a coisa se torna ilegal.
Com direção de Todd Phillips (Se Beber, Não Case!), Cães de Guerra ganhou a classificação de comédia dramática, mas eu realmente não sei se está a melhora categoria para ele: se ele arranca risadas da platéia, e arranca mesmo, muitas vezes é porque as situações em que seus personagens principais se envolvem são simplesmente absurdas demais para serem verdade.
Só que são.
A questão é que talvez você não olhe duas vezes para o filme quando estiver olhando a programação do cinema partir desta quinta e eu realmente acho que você deveria dar uma chance.
Jonah Hill (indicado ao Oscar por O Lobo de Wall Street) e Miles Teller (Whiplash e Divergente) interpretam Efraim Diveroli e David Packouz, amigos de infância separados pelo acaso – ou nem tanto pelo acaso, mas por Efraim ser reconhecido como um perigo para qualquer pessoa – eles se reencontram aos vinte poucos anos. David passa por uma fase difícil, ganhando pouco como massagista de ricaços em Miami e sem perspectiva de melhora, enquanto Efraim parece o retrato do jovem bem sucedido que encontrou a mina de ouro.
A mina de ouro, no caso, é a venda de armas para o governo americano graças as licitações de pequenos contratos para os quais os grandes vendedores não dão atenção. Efraim não fabrica armas, entendam bem, mas passa a maior parte do tempo no site do governo procurando por estes contratos, então negocia as armas com terceiros e então as revende ficando com a margem.
Quando a esposa de David, Iz (Ana de Armas de Bata Antes de Entrar), conta estar grávida, ele se desespera e a proposta de trabalhar com Efraim parece caída dos céus, ainda mais quando ele ganha em apenas um contrato mais do que ganharia em anos de massagem.
Do primeiro contrato para os milhares e, então, milhões de dólares, a coisa passa rápido e David não demora a embarcar na constante viagem em que seu colega parece viver. Até que talvez os dois tenham arriscado demais ao agarrar um contrato de muitos milhões de dólares para armar o exército afegão – momento que entra em cena Henry Girard (Bradley Cooper, excelente e que me deixou aflita com óculos fundo de garrafa) famoso no ramo das armas, mas na lista de terroristas do governo americano.
Se Jonah Hill arrasa com um personagem tão fascinante quanto assustador, Miles Teller entrega um interessante David: melancólico em princípio ele passa o tempo todo duvidando da sorte que teve, na verdade a sensação constante é de que ele sabe que em algum momento tudo aquilo vai acabar.
Mas o mérito do roteiro vai além das referências: de forma ágil ele prende a atenção do começo ao fim, intercalando cenas pesadas e outras em que é impossível não rir muito, e, o que poderia parecer impossível, fazer você realmente torcer para que os piores pesadelos de David não se tornem realidade, o que significa torcer por Efraim.
O roteiro é de Stephen Chin, Todd Phillips e Jason Smilovic, com base no artigo da revista Rolling Stone intitulado Arms and the Dudes, de Guy Lawson que conta a história real de Efraim e David – o primeiro foi libertado em 2015 após cumprir uma sentença de 4 anos de cadeia, enquanto David cumpriu uma pena de 7 meses em prisão domiciliar.
Os indicados ao Oscar Mark Gordon (Steve Jobs), Todd Phillips (Borat) e Bradley Cooper (Sniper Americano) são os produtores, e David Siegel e Bryan Zuriff trabalham como produtores executivos.
Cães de Guerra reúne Phillips e vários de seus colaboradores da trilogia Se Beber, Não Case!, incluindo o diretor de fotografia Lawrence Sher, o designer de produção Bill Brzeski e o editor Jeff Groth. O figurinista Michael Kaplan (Star Trek, Além da Escuridão – Star Trek) também faz parte da equipe. A trilha sonora é de Cliff Martinez (Drive, Traffic).
P.S. Acho importante destacar que ainda que alguns veículos retratem a dupla – tanto a verdadeira como a do filme – como traficantes de armas, eles não eram. Eles eram negociantes de armas… Que fizeram várias coisas ilegais. Não era como se eles vendessem armas para traficantes e bandidos ou comprassem armas de terroristas e bandidos. E o fato de que eles tinha um negócio perfeitamente legalizado e, bem, acabaram como acabaram, é uma parte muito importante da história.
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