Foi no último 02 de junho que aconteceu o primeiro, do que esperamos seja uma série infinita, evento Teia GNT, com a finalidade de conectar, colaborar, trabalhar juntos por um futuro melhor.
A abertura ficou a cargo de Daniela Mignani, diretora do GNT, que explicou que o canal tem como objetivo espelhar os interesses das mulheres brasileiras e iluminar caminhos que levem ao futuro. Segundo ela, ainda, o Teia mira no progresso, quer sentir que os debates, documentários e conversas levem-nos a avançar como indivíduos e como coletivo.
Ao longo da tarde aconteceram três painéis, todos com mediação da apresentadora Astrid Fontenelle. Cada um deles tinha como nome, e mote, uma palavra forte que tenha importância na vida de quem quer fazer a diferença: Coragem, Empatia, Coletividade.
Coragem
Carol Marra, Clara Averbuck, Gabriela Moura, Stephanie Ribeiro e Thais Braga Fabris são mulheres diferentes, com origens diferentes, objetivos diferentes, mas com a coragem como ponto comum. Coragem de romper padrões, de fugirem do que era esperado delas, de enfrentar a sociedade e se imporem como indivíduos. De, como elas mesmas disseram, romper com o ciclo machista, racista, transfóbico em que estavam inseridas.
E a pergunta que deu início a discussão é das mais importantes: qual foi o clique que motivou você a buscar sua verdade?
A estudante de Arquitetura Stephanie Ribeiro contou que foi só quando saiu da casa dos pais para entrar na faculdade, aos 18 anos, que percebeu o quanto o mundo é machista e racista. Até então, a proteção familiar a fazia ter uma visão “fantasiosa” da realidade. “Foi quando amadureci na minha narrativa e percebi que queria me posicionar como eu sou”, afirmou ela.
Para a escritora Clara Averbuck, uma das pioneiras a romper padrões na blogosfera, existe a percepção de que a mulher existe para a esfera privada e não para a pública. “Meu clique veio quando eu saí da minha cidade, Porto Alegre e vim morar em SP. Não queria ficar naquela cidade, queria sumir para descobrir quem eu era. Caí de cara no chão quando eu cheguei, mas isto fez parte da minha construção.”
Um ponto em comum uniu a todas as mulheres presentes: a dificuldade de ter sua capacidade profissional respeitada quando se é mulher. A atriz transexual Carol Marra contou sobre o processo seletivo em que foi cortada no momento de apresentar a documentação. “Parece que ser mulher vem com um monte de downgrades do ser humano”, afirmou Thais Fabris, fundadora da consultoria 65/10, que atua no mercado publicitário descontruindo as formas de se retratar a mulher na publicidade
A questão racial é um componente a mais na luta das mulheres negras. “Temos uma sociedade machista e racista, transfóbica. Uma mulher tem que provar duas vezes que é capaz. Uma mulher negra, uma mulher trans tem que provar dez vezes mais”, disse a relações-públicas Gabriela Moura.
“O objetivo da gente com este debate é ouvir histórias. O ingrediente que nos torna diferente, nos une. É preciso ter muita coragem, mas acho que a gente tem”, encerrou Astrid.
No painel Empatia foi a vez de Babi Souza, Juliana de Faria, Laura Kroeff, Nátaly Neri e Sérgio Barbosa falarem sobre como se colocar no lugar do outro é fundamental para a vida em sociedade, mas não é o suficiente: O que você faz ao reconhecer o sofrimento do outro?
“Empatia não é vestir a camisa do outro cegamente. É você procurar entender os motivos da outra pessoa, mesmo que não concorde. É conseguir enxergar o outro, não significa que você vai pular para o time”, afirmou a youtuber Nataly Neri
Babi Souza foi além. “Depois da empatia tem que vir o amor. Não é só se colocar no lugar do outro, mas o que a gente faz com isso depois é o que determina tudo”, disse. Para o professor Barbosa, trata-se de inteligência emocional, trata-se de sair zona de conforto. “A empatia rasga os preconceitos”, complementou.
Durante o debate, Astrid recebeu uma pergunta via twitter – empatia seria o antídoto para a intolerância? A apresentadora respondeu que sim e comentou o caso recente de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro.
“Estou muito impactada pelo que aconteceu com esta menina. Vejo muitas mulheres condenando a atitude dela, de alguma forma culpabilizando. Mas é se colocar no lugar dela por 10 segundos para desconstruir esta visão. Estou triste com isso”, disse Astrid. A apresentadora disse ainda que entender o outro é algo fantástico, mas que isto não é possível em relação ao estupro: “O fiu-fiu eu entendo, mas este caso eu não consigo entender”, afirmou.
O que você já mudou na sua vida pelo coletivo? O terceiro debate do dia no TEIA GNT abordou questões como esta, enviada pelo twitter pelo ator e apresentador do programa “Papo de Segunda”, João Vicente de Castro
Para o debate do painel Coletividade, ela recebeu a antropóloga e vice-presidente executiva do grupo WGSN para América Latina, Letícia Abraham; a empreendedora social Alice Freitas, Diretora Executiva da ‘Asta’; além de um dos fundadores da ‘Junta Local’, Thiago Nasser; a criadora do projeto ‘Re-Roupa’ – Gabriela Mazepa e a fundadora do podcast ‘Mamilos’, a mineira Cris Bartis.
Logo no início, Letícia Abraham falou sobre o conceito de escravidão corporativa: “Onde a gente deve colocar a nossa energia intelectual é onde queremos realmente fazer algo importante, algo que faça sentido para nós”.
Alice Freitas contou qual foi o gatilho para se envolver com o tema: “Aos 16 fui morar na Tailândia, o que me deu outra visão de mundo. Meu sonho era ser diplomata. Fiz uma viagem para lugares incríveis como Índia, Tailândia e Vietnã para acompanhar de perto algumas iniciativas sociais e fui mordida pela mosquinha do social”, afirmou.
Gabriela Mazepa também contou que começou a mudar o pensamento quando teve a oportunidade de morar fora: “Visitei algumas fábricas e vi que todas tinham roupa sobrando e, a partir daí, quis trazer a questão social para a moda. A proposta das minhas oficinas é sempre pautada pela coletividade”.
O conceito de “herói social” foi abordado na conversa. Cris Bartis, que afirmou que, por incrível que pareça, a maioria da audiência de seu podcast é masculina, respondeu: “Herói social para mim é quem adere essas a essas mudanças e transformações. A troca pode te transformar”.
Lilian Pacce, que estava na plateia, completou: “Aqui no Brasil a conscientização é muito pequena, porque o objetivo ainda é o lucro, somente o lucro”. Para complementar a discussão, Thiago Nasser afirma: “O coletivo ameaça porque não pode ser comprado”.
Ao final do painel, Astrid concluiu com uma mensagem emocionante: “A rede de sororidade que nós criamos no TEIA GNT não pode acabar por aqui, precisamos tecer sempre, pensando no sempre no coletivo. Agradeço, porque foram 15 pessoas (se referindo aos painelistas) maravilhosas que conheci hoje aqui e deixo meu muito obrigada a todos que participaram”, finalizou.
Uma ideia comum a todos os participantes dos painéis é que para vivermos numa sociedade mais sustentável temos que dar atenção a toda a cadeia de produção do que consumimos, nossas roupas, alimentos, móveis, etc..
Após os debates, foram exibidos dois filmes: Malala e Vidas Partidas. Os longas também foram debatidos, dessa vez com mediação de Marcelo Tas. Além de tudo isso, o evento contou com comidinhas, feira de livros, oficina de string art, e show com Ava Rocha. Ufa!
Isso tudo foi só uma pequena amostra do que foi falado nesse dia tão bacana. Para quem ficou curioso, os painéis estão disponíveis no site do Teia.
Como Astrid disse ao final, um evento como este é muito importante, como é importante que todos se mantenham conectados com as ideias discutidas no decorrer do dia. A grande verdade é que estamos passando por um momento social que ao mesmo tempo é muito difícil e de muita oportunidade, casos como o do estupro coletivo acontecido no Rio serve para mobilizar as pessoas, mas não podemos deixar que o movimento pare.
Pegando carona na física: toda ação gera uma reação em sentindo contrário e com mesma força, é preciso nossa energia para que nossa reação contrária, a nossa busca por mudanças, esteja junto para ser mais forte que a que nos atingiu.
Por mais Teias GNT, por mais debates sobre como unidos podemos fazer mais para a sociedade.
P.S. Eu não pude estar presente ao evento por conta de uma insistente sinusite, agradeço à Elisa Mafra por ter ido até lá e ter me ajudado a escrever este texto. Convido a todos a compartilhar e discutir sobre isso.