Durante três meses uma calma rua na Vila Pompeia em São Paulo foi tomada por vans de produção, câmeras, luminárias de todo tipo, um gerador enorme e muita gente indo e vindo por seu piso de paralelepípedos. A casa mais antiga do pedaço – infelizmente as demais da mesma época deram lugares a prédios e prédios – que vivia um pouco abandonada, provavelmente porque dava trabalho demais para a senhora que ali morava sozinha na companhia da Beth, vira-lata caramelo simpática sempre disposta a uma brincadeira – ganhou um bonito tom verde água.
Depois destes três meses movimentados na minha rua, em que eu e a Tequila até mesmo fizemos amizades com o pessoal que cuidava da segurança, é claro que eu estava curiosa para descobrir o que estavam aprontando naquela casa que acabou dando cara ao restaurante da Dona Maroca.
Tempero Secreto é a nova aposta de comédia do GNT e em seu primeiro episódio nos apresentou Cecília, executiva de marketing de um parque de diversões que surta no meio de uma coletiva de imprensa e “sai na mão” com um cliente que se acidentou na montanha russa – e eu não estou aumentando nada nada com relação ao “sai na mão” -, ficando sem emprego… E sem futuro emprego.
Sorte a dela que a avó, a Dona Maroca, tem um frango campeão, “confort food” do melhor tipo capaz de convencer qualquer “foodie” a gastar num restaurante com cara de casa e promessa de doces lembranças – daquele jeitinho lá que o filme Ratattoille ensinou pra gente que funciona.
Dona Maroca, diga-se, é aquela personagem que pode passar o restante dos episódios de coma porque já fez valer o salário: uma juventude bem movimentada garantiu ótimas frases para a personagem.
Fugindo de ser reconhecida, coisa difícil em tempos de fama rápida ganha em vídeo que se torna viral, Cecília gasta as economias, contrata os tipos mais estranhos e deixa a cozinha nas mãos da avó, que se recusa a dividir o segredo da receita até mesmo com o assistente.
Bom, rir da desgraça alheia é o que nos resta, e dona Maroca acaba atropelada no dia da inauguração com direito a crítico de culinária (vivido pelo sempre ótimo André Abujamra) e tudo. Que que a gente faz?
Eu, eu não sei, mas a Cecília tasca no molho um saquinho de tempero de macarrão instantâneo. De forma improvável a coisa funciona, sendo crime ou não, e é melhor ninguém contar o segredo do mais novo sucesso da noite gastronômica de São Paulo.
Até porque, a verdade sobre a Cecília todo mundo já sabe.
Ah, Natalia Lage e Leandro Soares, na pele de Tita e Ítalo, estão muito bem. Ela usando, naquela cozinha que lembra mesmo a da nossa avó, as expressões mais bregas chiques de hoje em dia e ele sempre a um passo de explodir o lugar.
O primeiro episódio não é hilário, mas funciona bem para apresentar os personagens e o clima geral da série, com uma cara um tanto exagerada, uma linguagem de tirinha de quadrinhos que já vimos em Lili A Ex.
P.S. Confesso, o casarão da minha rua é sonho de consumo há anos e anos, eu imaginando transformar o jardim em horta e encher o quintal de salsichas lindos.
P.S. do P.S. R$ 90,00 o prato de frango é coisa de doido mesmo, a gente dá um desconto porque a Cecília surtou, né?
P.S. do P.S. do P.S. Teve até Danilo Gentili fazendo ponta como médico sem noção. Quer dizer, ainda não achei alguém com noção no elenco.