Da tristeza…

Alguém já falou isso quando o Facebook disponibilizou a ferramenta para trocar o avatar em apoio a causa dos gays e transgêneros: um troca o avatar, o outro reclama da troca porque acha que tem causa mais importante e outro reclama do que reclamou porque, afinal, cada um defende a causa que quiser.

Agora é Minas Gerais ou Paris, como se eu não pudesse ficar triste demais com as duas coisas. Uma amiga que está no Oriente Médio fica triste porque em Beirute também houve ataque e não houve comoção.

Das duas primeiras tragédias é impossível não concordar com esse texto aqui, em que nos é jogada na cara nossa incompetência geral como nação – um governo é o reflexo de seu povo? – e que me embrulha o estômago porque, cara, tanta coisa ali é verdade.

Sobre Beirute? Eu cresci ouvindo que não era seguro desejar ir ao Líbano para conhecer onde meu avô nasceu. Assim como a seca no Nordeste, as bombas no Oriente Médio viraram rotina que, no máximo, ganha rodapé da página do meio.

Li uma vez, não lembro onde, que o problema do Brasil é não ter passado por uma guerra, não ver suas ruas destruídas, não ver todos precisando de ajuda ao mesmo tempo – porque bomba acerta casa de rico e de pobre, porque ser rico pode ser pior ainda, como aconteceu com muitos judeus na Segunda Guerra, quando suas posses chamaram a atenção dos nazistas para eles antes que para os demais.

Acho que pode ser verdade. Lembro de uma amiga filha de alemães que desde muito pequena nunca sequer rasgou o papel que embrulhava um presente, ele era retirado delicadamente e dobrado para ser usado uma outra vez, porque para quem não teve nada, nada pode ser desperdiçado.

Sempre tivemos tanto: uma terra que tudo dá, um mar tão grande e tão rico. É fácil desperdiçar quando nos parece “sobrar” as coisas.

Mas não sobrou nunca para o povo do sertão. Imagino a dor de ver os outros desperdiçar o que a gente nunca conseguiu ter.

Ainda pela manhã eu comentava no Facebook como estava inconformada de não ver uma empresa sequer, que tem estrutura de distribuição, que tem braço, que tem caminhão, se dispor a levar água e comida para o povo no Vale, que é o mais urgente. A própria Samarco: porque não fazer mundos e fundos para ajudar quem perdeu teto, família e tudo que tinha?

Um advogado provavelmente diria: eles não ajudam para que isso não seja considerado que assumiram a responsabilidade pelo ocorrido (como se desse pra discutir isso).

Quando o medo de perder dinheiro paralisa o que nos resta de humanidade, temos um problema.

Fico pensando que se Deus existe, talvez esteja na hora dele reiniciar esse negócio aqui, porque alguma coisa deu muito errado. O “criado a sua imagem e semelhança” falhou em algum momento.

 

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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