Quando a primeira temporada acabou eu tive muito medo de Hannibal ser cancelada. Aquela fotografia, os diálogos, as atuações. Mesmo quando algo era chato, a Bloom, sempre, você acabava gostando, porque aquela chatice servia de contraponto para algo muito mais elaborado depois.
O anúncio da segunda temporada foi de um alivio sem fim. Pronto, mais um ano, vamos lá, olha que é a NBC, então comemoremos em dobro.
A segunda temporada repetiu o sucesso da primeira e ainda conseguiu melhorar aqui e ali, tanto que o final dela foi de cair o queixo enquanto a gente se sentia, do sofá mesmo, afogado naquela chuva torrencial que se misturou ao sangue de quase todos os personagens.
Choramos por dois anos as perdas de Bervely Katz e da sanidade de Will. Queríamos Loundz morta. Brindamos à manipulação de Lecter e à beleza de Bedelia.
A terceira temporada começou totalmente diferente, ainda que mantivesse muito da essência. Como eu já disse aqui, Fuller brincou como nunca com as tramas dos livros, se antes ele brincava trocando personagens masculinos por femininos e usando apenas atos em meio a um roteiro muito próprio, na primeira metade desta temporada ele aproveitou quase tudo do livro Hannibal, quando preciso distribuindo fatos e ações de Clarice Sterling entre os personagens que tinha a mão.
Muitos acharam a série ainda mais lenta, outros reclamaram que a prisão de Hannibal levou mais tempo do que deveria. Eu gostei do que vi – mesmo que a recente releitura do livro acabe sempre por prejudicar nosso julgamento.
A segunda metade da temporada já estava definida: além de Hannibal, teremos o Dragão Vermelho. E o Dragão Vermelho de Richard Armitage foi lindo. Ele era perturbado na medida, ele era contido, ele era assustador. Assim como no livro, Hannibal se torna um consultor na tentativa de pegar esse novo vilão, no livro Will resiste a isso, aqui ele sugere.
Em Jack Crawford são ressaltados os aspectos que mais nos incomodavam, principalmente a frieza com que ele coloca Will como isca para tudo.
Loundz novamente escapa da morte, jamais perdoarei isso, e Bedelia se torna a psiquiatra de Will, mais inconcebível, impossível.
A busca pelo Dragão teve bons momentos – ou pelo menos um bom episódio: …And the Beast from the Sea – mas seu encerramento foi desastroso.
Pronto. Falei. Estava me sentindo tremaedamente culpada por ter odiado o final da série enquanto o povo todo fala do quanto ele foi perfeito, poético, transcendente ou sei lá mais o que.
Já eu fico aqui na dúvida: ele teria bebido demais antes de escrevê-lo? Estaria tomado pela soberba e achando que podia fazer qualquer coisa com a história? Estaria com raiva do cancelamento?
Hummm, acho que a última não: as decisões tomadas ao longo da temporada, e principalmente o final do último episódio, não deixavam muito espaço para uma quarta temporada ou mesmo um filme, como muito se falou. Regravar Silêncio dos Inocentes? Não precisamos.
Fico eu aqui então, solitária, olhando para a minha camiseta que estampa Hannibal contornado pela cabeça de alce e com a frase “eat the rude” sob o desenho pensando: Fuller, como você foi rude! Faltou elegância, faltou delicadeza.
Enquanto a parte da trama que se referia a tentativa do Dragão de enganar o FBI ganhou poucos minutos, a encenação da fuga de Hannibal – pra que? – e os devaneios que se seguiram na tentativa de me fazer crer que Will e Hannibal estavam apaixonados e que o destino dos dois estava ligado pareceram ganhar horas.
A metade final do episódio comete o erro já cometido em outros episódios após a entrada do Dragão: tira o foco dele para colocá-lo de novo em Hannibal, quando na verdade não existiria nada de errado em que aqui ele apenas fosse escada.
E a escolha da cena final não redime erros: o que é Bedélia sentada sozinha em uma mesa com três lugares vazios comendo a própria perna?
Sem sombra de dúvida conviver por tempo demais com um psicopata deixando que ele penetre em sua mente não é coisa da qual se saia sóbrio, são. Só não sabia que havia afetado o autor da série.
P.S. Certa foi a Alana que fugiu com a família.
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Simone, fiquei muito confusa com o final da temporada, mas tenho uma certeza, muita raiva do Jack. Ele sempre jogou o Will na fogueira e depois fazia cara de oh, não queria que isso acontecesse. Mas esperava mais do final.
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Em certa medida, Jack foi pior que Hannibal. Esperava tão mais. Tristeza define.