O título deste texto na verdade é o título deste outro aqui, de que quero falar.
Quando eu o li, compartilhado por uma amiga, ele foi um soco no estomago. Eu o achei lindo. E o achei absurdamente triste. Em tempos em que um corpo absurdamente magro não é considerado bonito, mas sim classificado como perfeito, fazendo com que todas as demais mulheres se sintam mal, é absurdamente triste pensar no quanto esta carta desabafo tem de verdadeiro.
Eu fui uma criança gordinha. Eu fui uma adolescente gordinha. Melhor: eu fui uma adolescente gorda e quando a coisa estava muito complicada minha mãe me levou a um médico. Mas minha mãe e o meu pai nunca me ridicularizaram – porque é isso que você faz ao chamar alguém de gordo – e eu nunca tive problemas com a minha imagem.
Só que eram tempos em que nós não éramos tão massacradas assim com esse ideal de perfeição. Entre as curvas da Marilyn Monroe e a falta delas de Izabel Goulart um longo caminho foi percorrido de pressão, preconceito e até preguiça. Sim, porque “modelar”, desenhar e criar roupas para mulheres absurdamente magras é muito mais fácil que criar para mulheres de verdade.
Eu consegui sobreviver mantendo uma relação saudável com meu corpo e com a minha comida – tudo bem que para essa segunda eu precisei de um tempo de psicoterapia para não usá-la como remédio para ansiedade – só que a maioria não consegue. A maior parte das meninas, meninas, de hoje em dia é tão massacrada com esse modelo que carrega um peso muito maior do que é possível ser visto em seus corpos.
Eu jamais esquecerei o choque de ver uma mãe ensinando a sua filha de 4 anos que ela não deveria comer doces para não engordar. Eu jamais esquecerei da propaganda de uma marca de “chapinhas” para o Dia das Mães em que uma menina de 9, 10 anos, “queria uma chapinha igual da mamãe para ser bonita”.
Eu tento, diariamente, ensinar a minha filha que a beleza vem nas mais diferentes formas, cores e tamanhos. Que estilo significa você se vestir como gosta e ainda mostrar quem é. Que gordo e gay não são xingamentos, apenas substantivos que falam sobre um determinado aspecto de uma pessoa. Rezo diariamente para que eu consiga me fazer ouvir em meio a tantas influência – e nessas horas eu digo que alguns programas de TV, execrados por algumas mães, me ajudam na tarefa. Mesmo a atual novelinha do SBT, Chiquititas, tem acertado o tom no tratamento das diferenças.
Carol, que estudou em uma escola em que tinha uma colega de classe com síndrome de Down, outra com nanismo e um terceiro surdo, me surpreende com a simplicidade que ainda carrega ao olhar as diferenças, entendendo que, na verdade, somos todos iguais.
Que ela se mantenha assim e reconheça o quanto ela é bela. Do seu jeito.
Conheça o projeto Beleza Real, cuja imagem ilustra este texto, neste link.