Meu pai herói

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Soa clichê, eu sei, mas dei sorte nesta vida em alguns aspectos e um deles foi pode chamar meu pai de herói, de ídolo. Lembram quando há um tempo eu falei sobre ídolos e de eu achar que ídolos devem fazer com que você queira ser uma pessoa melhor? Pois meu pai faz isso muito bem e há muito tempo.

Não, ele não tem superpoderes, nem teve profissão perigosa e tem seu tanto de defeitos – dizem as más línguas que eu herdei boa parte deles e de algum jeito eu fico feliz por isso apesar de serem defeitos -, mas ele é um vencedor, um homem que trabalhou muito para realizar seus sonhos e que me ensinou a seguir pelo mesmo caminho, sendo correta, sendo ética e acreditando em mim.

Meus avós não tinham posses, imigrantes batalhadores moravam numa casa simples no que então era o extremo norte da cidade. Meu avô foi candango em Brasília, depois metalúrgico. Minha avó cresceu trabalhando na roça na região de Ribeirão Preto e em São Paulo cuidava da casa e dos filhos. Sua voz inconfundível, forte, gritava por estes e pelos netos no corredor comprido coberto por piso quebrado vermelho e preto.

Meu pai começou a trabalhar cedo, com 11 anos, e saia de casa quando ainda estava escuro, costume que manteve, acho eu, que por toda sua vida de trabalho. Quando casou com minha mãe trabalhava como cobrador no centro de São Paulo quando um rapaz enxergou nele potencial para vendedor e deixou um cartão da empresa que trabalhava.

Com um filho nascido e outra no projeto, ele resolveu entender melhor como funcionava essa coisa de “comissão” e acabou o dia intrigado pela forma como dois rapazes haviam conseguido ganhar em um dia o que ele levaria um mês inteiro para ganhar. Resolveu arriscar, mas pensou com seus botões que televisão não era coisa pra todo mundo e bateu as portas do departamento do RH da Olivetti, afinal todo escritório precisava de uma máquina de escrever.

Convenceu o moço do balcão ao lhe dar uma chance, mesmo que ele não tivesse experiência ou estudo, meu pai não terminou o que seria equivalente ao ensino médio de hoje em dia. Dessa chance meu pai construiu uma vida de sucesso.

Tudo isso veio depois de andar muito pelas ruas dessa cidade com sapato Vulcabrás porque o solado durava mais tempo.

Tudo isso guardando dali, reaproveitando as coisas daqui, passando o que não nos servia mais, mas poderia ser o tesouro de outro, para frente. Meu pai sempre foi aquele que nunca gostou de festa, mas tiraria a roupa do corpo por um amigo.

Foi com seu exemplo que ele me mostrou que não é preciso abdicar de seus valores, muito menos dar valor as coisas erradas.

E que, se algumas vezes a sorte pode dar uma mão ao destino, o esforço é retribuído com sucesso e, usando deste, só depende de você.

Por tudo que ele tem sido para mim ao longo de minha vida, pelos vários momentos que valeram reflexão, pelas várias vezes que seu exemplo me guiou pelo meu caminho, pelo orgulho que sempre morará no meu peito, eu serei eternamente grata.

E espero poder ser realmente parecida com ele, pelo menos um pouquinho, porque terei a certeza de estar fazendo as escolhas certas.

P.S. Texto inspirado pela chamada da Sam para que contássemos Histórias de vida que inspiram.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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