Respeitem meus cabelos, brancos
Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar
Música de Chico Cesar para encerrar a semana, tá? Eu adoro!
***
Diz a Beth que minha franja branca a inspira – ela diz que arranca suspiros, o que enche meu coração – e que ela fica lá pensando com os botões dela em assumir os seus.
Eu confesso: não assumi os meus tentando enfrentar o padrão ou protestar contra a indústria de tintas capilares.
Assim como a família da Beth, venho de uma família de brancos precoces: meu irmão já os tinha com 20 anos e hoje tem o cabelo acinzentado o que só não chama mais a atenção porque ele raspa quase que a zero. Tenho uma prima cujos cabelos brancos começaram com 15 e lá pelos 30 ela já tinha a cabeleira toda branca branca, de verdade.
Os meus começaram lá pelos 30. Tem seis anos então que os primeiros surgiram e lembro que foi no cantinho da testa. Arranquei alguns, mas um dia eles me venceram. tentei então aqueles shampoos tonalizantes, não queria a ditadura da tintura a cada 20 dias no cabeleireiro Só que eles são ali, no cantinho do rosto lavado umas duas, três vezes por dia. Resultado: uma semana depois eles apareciam de novo.
Deixei pra lá e quando fui ver eles já formavam um arco. Tem gente que diz que é mais fácil eu deixar porque eles são só num lugar. Eu sempre achei que se eles fossem espalhados no meio de tanto cabelo que eu tenho, nem chamariam a atenção. No final das contas acho que se você deixar eles irem aparecendo como querem você acaba se acostumando e pronto.
Eu me acostumei e hoje acho difícil encarar de pintá-los. Eles fazem parte de mim.
No meio desse processo lembro de ler em um artigo que os cabelos embranquecem num processo natural cuja finalidade é atenuar o efeito das rugas do rosto, motivo pelo qual tanta mulher acha que fica melhor com cabelos mais claros que os naturais a medida que envelhece – dizem os maldosos que brasileira não envelhece, fica loira.
No meu caso acho que eles acabam desviando o olhar de nascentes pés de galinha – de pintinho, são pequenos.
Só que, é claro, falo deles pelo menos uma vez por semana: “você assumiu?”, “você não pinta?”, “poxa, você só tem a franja branca?” e, vejam só, “você pinta só a franja?”
A história mais engraçada é de uma conversa com um colega da trabalho, eu ali falando sério, ele encarando a franja com vontade. Até que ele não resistiu, apontou e perguntou “na sua família é todo mundo assim?”. Sim, ele estava sendo indelicado, sim, dava para pensar numa meia dúzia de respostas tortas. Eu não facilitei e perguntei “assim como?”. E então ele soltou um desajeitado “cabelos brancos…” Sim, deu vontade de falar que não aparecem só na minha família e sim para todos da raça humana, mas eu só disse que todo mundo tinha o cabelo branco cedo na minha família sim.
O que ele queria saber mesmo era porque eu não pintava e essa eu não respondi.
A questão dos cabelos brancos é menos delicada hoje, em que a gente vê umas mulheres lindas e poderosas assumi-los, mas ainda dá pano pra manga num mundo em que juventude parece ser o único tipo de beleza válida (ah, Meryl, não ligue, eu a amo).
Eu podia te dizer que eles são mais práticos e por um lado são mesmo, afinal eu não estou refém das tintas. Do outro lado eles tem textura diferente dos demais, ressecam mais, precisando de cuidados especiais, e, para assumi-los sem parecer a hippie-velha, tomo mais cuidado de sempre usar uma base, um rímel e agora – pós 2013 – um batonzão. Meus cabelos não são brancos porque eu não me cuido, na verdade eu cuido deles também.
E não acho que todo mundo precisa assumir não. Tenho certeza que deve ter gente que pensa que sou mais velha do que sou por causa deles – apesar de achar que eles causam pânico mesmo é dos amigos da mesma idade ou quase que ficam com medo do que vão pensar da idade deles por conta da franja alva aqui. Acho que a gente precisa descobrir qual o modelo que cabe melhor para nossa alma.
Eu não ligo. Acho que estou mais preocupada em que eles balancem bastante pelas aventuras que eu ainda vou viver nessa vida.
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Si, não sei se já te falei, mas eu acho tua franja branca demais! 🙂
eu sou do time que pensa “acho legal assumir, esconder pra que?”, mas não gosto muito de falar a respeito pq acho q posso parecer hipócrita: os 40 tão batendo aí (faltam só 4 meses!), e eu tenho só uns três ou quatro brancos pela cabeça, ainda por cima escondidos na camada de baixo da parte de trás. aí eu sempre penso q eu posso estar falando isso da boca pra fora, q se acontecesse comigo eu talvez pensasse diferente e quisesse esconder, então sei lá. eu penso demais, e por isso eu falo de menos (sobre esse assunto, ao menos. sobre o resto eu não calo a boca, hahaha).
mas eu concordo contigo nessa coisa: tem q fazer o q gosta. quer assumir, assume; quer esconder, esconde; quer cortar curto, corta; quer usar compridão, arrasa! sei lá, é uma sociedade inteira tentando (e quase sempre conseguindo!) mandar no corpo feminino, decidir por ela o q pode ou não pode. isso incomoda, e tomar responsabilidade sobre ele é bem complicado às vezes. mas vale a pena 🙂
beijo!
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Concordo demais com o final: tomar responsabilidade sobre nosso corpo vale muito a pena!
beijos pra vc e seus cabelos azuis que eu tbm adoro!
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Si, tudo é ditadura. Isso pode, isso não pode. Sempre tem quem questione. Sentir-se bem, é o que importa. Queria me ver livre das tinturas também, mas ainda me incomodo com meus grisalhos. Um dia, penso que conquistarei esta liberdade.
Beijo, menina
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IDENTIFIQUEI DEMAAAAIS com seu texto. A um mês de meus 32 anos, meus cabelos brancos chamam e é pauta quase sempre nos encontro de amigos. E sempre digo: Eu amo meus cabelos assim, e penso exatamente como vc, não quero ir de contra a tinturas etc, só deixam minha alma bem. =)
Manterei atééée eu achar legal, e acredito que para sempre. *-*
Vou começar os cuidados que o branco pede, shampoos específicos etc.
Muito bom seu texto.
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Oi Larissa, eu tenho pensado bastante nos shampoos especiais, mas ainda não comecei a usar, acho que vou esperar mais alguns aparecerem.
Pelo menos ninguém esquece da gente, não é mesmo?
Beijo grande