Tem medo irracional, como o de baratas, e o bem fundamentado, como o da mãe quando o filho não dá notícias.
Tem medo que a gente resolve com terapia, tem medo que a gente resolve com remédio (eu tomo toda vez que tenho de entrar em um avião) e tem aquele que a gente carrega pro resto da vida (meu pai e o medo de que um dia precise e não tenha dinheiro para ajudar os filhos).
Tem medo que passa a medida que a gente cresce, tem medo que cresce junto com a gente.
Carol tem vários medos: escuro, dentista, médico e fantasia que cobre o rosto.
A mesma menina capaz de tocar em qualquer animal, qualquer mesmo, foge assustada quando vê um coelhinho da páscoa – sério, ela agarra um dogue alemão como se fosse yorkshire, já perseguiu gambá e quase abraçou um bicho preguiça, pega borboletas e chega perto de lagartos, enquanto a tia morre de medo de lagartixas.
O medo de escuro quase passou já, hoje é rara a noite em que ela saia acendendo luzes a medida que anda pela casa e dorme com tudo apagado. O de dentista ela superou graças ao tanto que sua dentista é especial e teve paciência para conquistá-la. O de médico faz com que a gente tenha mais um motivo para agradecer o fato de que ela nunca teve nada mais sério que uma gripe forte com garganta inflamada – sim, ela já teve de levar pontos por conta de estrepolias, mas aí acho que qualquer criança teria medo.
O de fantasia é o mais persistente. Sim, ela sabe que é uma pessoa ali dentro, muitas vezes ela até conhece a pessoa. Sim, ela sabe que não lhe fará mal. Assim como aquela moça que sobe na cadeira por conta de uma barata sabe que esta não pode nem ao menos mordê-la.
A parte racional da menina muito inteligente, quase adolescente, sabe de tudo isso, mas isso não muda o que ela sente.
Então eu, que vivo preocupada em ensinar coisas pra ela, aprendi com ela algo muito importante: o medo da gente não nos torna melhor ou pior, faz parte da gente e merece respeito.
Ao longo desse tempo todo – ela tem esse medo desde muito pequena – a gente tem feito de tudo para respeitá-la: nunca forçamos sua entrada em um lugar aonde tenha alguém fantasiado, não fazemos brincadeira de seu medo, não forçamos uma aproximação e sempre explicamos claramente se existe o risco de uma fantasia aparecer – e a viagem pra Disney vai ficando pra outro dia.
Pouco a pouco vamos vendo a curiosidade vencer o medo, vamos vendo a conquista pessoal dela de enfrentá-lo.
Domingo, em uma vitrine de loja, um sapo verde pulava e dançava. Carol não fugiu, não se afastou. Se aproximou da vitrine, me perguntou como a pessoa lá dentro via ou respirava. Em meio as minhas explicações ela colocou sua mão sobre o vidro, na direção da mão do sapo do outro lado.
Ela saiu andando de costas eretas, peito estufado, claramente orgulhosa de sua conquista. Assim como a gente.
O medo ainda está lá, não sejamos tolos. Mas ela o venceu naquele pequeno instante e vai lembrar disso quando ele voltar.
Acho que nós, adultos, precisamos aprender essa lição: o medo volta, a gente nem sempre vence, mas isso não importa. Importa aquele pequeno instante em que conseguimos dar um pequeno passo, apesar do medo. Importa a pequena vitória.
Um mundo onde as pessoas aceitem os seus medos e os medos dos outros, e respeitem isso, será um mundo melhor, não vai não?
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Si em um trabalho de constelação familiar sistêmica eu aprendi que o medo existe para nos dar coragem e isso a Carol mostou para vocês neste domingo. Ela deixou a coragem dela ser maior e pos a mãozinha lá, algo completamente diferente do que ela tinha feito antes.
Sophia por sua vez tem muito medo de rojões, como vocês, nós já explicamos e hoje nós compreendemos e claro quando os rojões começam eu me posto perto de onde ela está e mostro que estou ali, se ela quiser correr para me abraçar, eu não irei sair dali. Hoje as vezes ela escuta e só me olha já não corre mais, mas é um passo de cada vez.
Li um livro uma vez “Crianças e suas vidas passadas” me ajudou a entender um pouco e a me posicionar diante do medo dela.
Adorei o texto.
Bjs
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Obrigada querida! Acho que a grande vitória de nós, pais, é deixar nossos filhos que estamos ali do lado quando eles precisarem…
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Eu morro de medo de árvores e tratores, escavadeiras, qualquer coisa do tipo. Se eu ando embaixo de uma árvore e olho pra cima, vejo aqueles galhos e sinto um pavor, um frio na espinha horrível. Procuro não olhar pra cima e sei que se contasse para alguém me achariam louca.
Quando vejo tratores, escavadeiras, qualquer coisa do tipo também me sinto mal. Tenho vontade de correr e subir em algum local alto.