Livros: Tudo Aquilo Que Nunca Foi Dito

Sinopse

Poucos dias antes do seu casamento, Julia recebe um telefonema do secretário de seu pai. Como ela já tinha previsto, Anthony Walsh – empresário brilhante, mas pai distante – não poderá comparecer à cerimônia. A ausência de seu pai em momentos importantes de sua vida não é novidade para Julia. Mas pela primeira vez, a personagem tem que reconhecer que ele tem uma boa desculpa – Anthony Walsh morreu. A ironia amarga da situação, com Julia forçada a adiar o casamento para enterrar o pai, faz aquela parecer mais uma das peças pregadas pelo destino na difícil relação entre os dois. Mas, no dia seguinte ao funeral, ela descobre, na forma de um enorme pacote deixado na porta de sua casa, que aquela não tinha sido a última surpresa de seu pai – e parte na viagem mais extraordinária de sua vida, uma oportunidade para que os dois digam um ao outro, enfim, tudo aquilo que nunca foi dito.

Um daqueles livros que ficam na ilha central da livraria e que me ganham por conta da orelha. Neste caso, em especial, porque fala da relação de um pai e uma filha e a oportunidade de serem realmente sinceros um com o outro, quem sabe recuperarem a amizade que nunca tiveram, mas sempre sonharam.

“Queria que falássemos de tudo e só falamos de mim. Precisa recuperar o espírito, temos mais dois dias só para nós, para falar tudo aquilo que nunca foi dito.”

A personagem principal, Julia, me ganhou. Uma ilustradora de 36 anos, faz desenhos infantis, prestes a se casar e que é surpreendida pela morte de seu pai na véspera de seu casamento. Sendo obrigada a adiar seus planos ela tem a oportunidade de rever as escolhas que fez em sua vida e não de maneira pouco curiosa.

Anthony Walsh, o pai de Julia, que sempre foi distante da filha, viajando muito a trabalho e pouco dividindo com ela suas conquistas, deixa uma surpresa pós morte das mais absurdas – se não se importar com esse enorme spoiler é só marcar o texto a seguir com o mouse: ele deixa para a filha um robô de si mesmo, com quem ela poderá conversar durante 6 dias sobre tudo aquilo que eles nunca disseram.

Outro personagem inusitado e interessante é o melhor amigo de Julia, Stanley, que, a meu ver, aparece bem menos do que deveria e é uma das pessoas mais bonitas de coração já descritas em um livro.

Tudo Aquilo Que Nunca Foi Dito é um romance em essência, já que Julia parte sem saber na descoberta do que é amor de verdade em sua vida, mas não deixa de ser uma bonita reflexão sobre como nós pais ás vezes erramos tanto, com a melhor das intenções, e ás vezes nem erramos tanto, mas nossos filhos demorarão a entender isso.

Para mim também foi uma revisão da forma com que vi ao longo de meus 35 anos algumas atitudes de meu próprio pai.

O final me deixou besta e chorei meu tanto, porque Julia não poderá reencontrar seu pai agora que a relação deles pode ser vista com outros olhos. E Anthony não poderá dividir com ela coisas que somente agora ele descobriu.

Do outro lado, a forma com que o livro acaba deixa o leitor livre para projetar o futuro que quiser, novas retomadas, novas descobertas.

“… Por exemplo, se tivesse dito antes, papai você é um canalha e um imbecil que nunca entendeu nada da minha vida, um egoísta que quis moldar minha existência à imagem da sua; um pai como tantos outros, que causava o meu mal dizendo que era para o meu bem, sendo, na verdade, para o seu próprio, eu talvez tivesse entendido. Talvez não perdêssemos tanto tempo e tivéssemos sido amigos. Admita que teria sido bom sermos amigos.”

Então, leia o livro – é daqueles que termina tão rápido que você nem percebe – e se deixe levar por essa rica oportunidade de rever conceitos, olhar com outros olhos.

Na Livraria Cultura ele está diponível tanto no formato papel, que comprei, como e-book.

Eu agora comecei a buscar mais a opção e-book, antes de escolher os últimos livros que comprei primeiro pesquisei sua disponibilidade neste formato antes de sair comprando em papel. Já passou da hora de eu começar a fazer a migração, por mais estranha que ela ainda me pareça.

Talvez porque, como disse Cora Ronai em um de seus textos sobre livros, o livro em papel lhe permite visualizar o andamento da sua leitura, o quanto falta para acabar. É material, é visível, dá a dimensão exata de que, se der aquela corridinha hoje pode terminar logo o livro, ou se não adianta e é melhor ir dormir e ler amanhã porque ainda falta muito.