O problema é o homem que guia a máquina

Só quem já participou de um passeio de ciclistas pode entender o que se sente estando ali, entre pessoas de bem com a vida e com o mundo e que buscam uma forma pacífica, saudável e divertida de encarar a vida.

A Bicicletada é ainda mais que isso: acontecendo em diversas cidades do mundo toda a última sexta-feira do mês, ela é a maior amostra de que bicicletas e carros podem dividir a rua. Ela serve para defender o direito da bicicleta, que surgiu muito antes do carro, de ocupar seu espaço, de ser alternativa, de ser respeitada.

Ontem foi dia de Bicicletada. Ontem, na cidade de Porto Alegre, um homem com raiva do mundo – só pode ser esse o sentimento dele – simplesmente ignorou o fato de que quase 200 ciclistas estavam a sua frente, ameaçou alguns deles e acelerou seu carro, destruindo aproximadamente 15 bicicletas e ferindo 15 pessoas. Por uma manobra do destino, por obra de algum anjo muito esperto, ninguém morreu.

Mas, ao acelerar seu carro, uma máquina de 1 tonelada, contra aquelas pessoas, era a morte que aquele homem pretendia causar. Não tem como falar que uma pessoa que joga seu carro contra pessoas desprotegidas não tinha essa intenção.

É por isso que eu penso: o maior desafio do ciclista urbano hoje não é ter grana para comprar sua bicicleta, não é ter o preparo físico para encarar uma subida, não é o suor que desce pelo rosto no dia de calor intenso.

O maior desafio é enfrentar o próprio homem. Aquele que se esconde atrás da armadura da máquina. Aquele que protegido por uma tonelada de ferro acha que pode mais, que pode tudo. Pior, que acha que o outro, aquele que anda, que pedala, não tem direito a nada.

O maior desafio é enfrentar a falta de humanidade, a falta de olhar o outro, a falta do compartilhar.

Eu assisti ao vídeo do pessoal da Massa Crítica POA, responsável pela organização da Bicicletada e chorei. Chorei porque me coloquei no lugar daquelas pessoas que devem ter entrado em pânico,  me coloquei no lugar daquelas pessoas que tiveram medo de perder sua vida.

Chorei porque tudo isso não faz o mínimo sentido.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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