Hoje, no horário do almoço, eu terminei de ler Diários de Bicicleta, do David Byrne. Aprendi tanto com esse livro, e sobre tantos assuntos diferentes, que, com certeza, ele vai gerar muitos textos neste blog.
Mas chove em São Paulo, de novo, e eu não podia me furtar de compartilhar com vocês um trecho contido no epílogo:
O fato é que no século XX o automóvel foi subsidiado em larga escala. As ruas lindamente pavimentadas que dão acesso às menos cidadizinhas e regiões obscuras dos EUA não foram construídas e mantidas pela GM ou pela Ford – ou mesmo pela Mobil ou pela Esso. Essas corporações se beneficiaram enormemente do sistema. Os trajetos ferroviários para cidades pequenas foram abandonados e os caminhões se tornaram, para a maior parte dos produtos, o meio mais barato, e às vezes único, de transportar produtos de um lugar para o outro.
Agora eu tenho que admitir que é legal dirigir por um continente e parar onde e quando eu quiser. O romantismo de estar “na estrada” é inebriante, mas um passeio através do país é uma coisa ocasional. Não é um trabalho diário, um modo de viver, ou mesmo o melhor jeito de chegar do ponto A ao ponto B. Na Espanha, o novo trem de alta velocidade nos leva de Madri a Barcelona em duas horas e meia. Pela estrada leva-se no mínimo seis. Ainda que o governo espanhol tivesse investido todo esse dinheiro em mais autoestradas, você não chegaria lá mais rápido.
Leio no jornal britânico The Guardian que o Pentágono enviou um relatório à administração Bush em 2004 informando que a mudança no clima é real e uma ameaça maior que o terrorismo, e terá – não “poderá ter”, mas terá – repercussões políticas globais extremas. Eles preveem uma luta global pela sobrevivência e por recursos naturais, que irá inevitavelmente resultar num estado de guerra quase constante em todo o mundo. Parece animador. E isto veio do Pentágono, não da Agência de Proteção Ambiental!
Andar de bicicleta não vai evitar que esta ou outras previsões sombrias aconteçam enquanto estivermos vivos, mas, talvez se algumas cidades enfrentam as realidades de clima, energia e transporte agora, elas possam sobreviver ou mesmo prosperar – embora a ideia de prosperidade pareça quase mórbida, visto que tantas cidades insustentáveis estão fadadas a perecer em enchentes, estiagens, desemprego e falta de energia. Acredito que algumas das cidades pelas quais andei de bicicleta tendem a desaparecer enquanto eu ainda estiver por aqui – elas engolem recursos como porcos, e o resto de seu continente ou do mundo não aguentará isso por muito tempo. Não ando de bicicleta para todo lugar por ser ecológico ou digno de nota. Faço principalmente pelo senso de liberdade e êxtase. Percebo que logo deverei ter mais companhia que no passado, que algumas cidades estão se preparando para essas mudanças inevitáveis, e estão tendo diversos benefícios como resultado.
E aí, você também se identificou em alguma parte desse texto nesta semana?