Educação: o instinto dos pais conta muito

Estou há dias com um post no forno sobre a escolha da escola para seu filho – tem teoria e prática, já que andei visitando várias escolas e colocando muita coisa na balança – e acompanhado com interesse as ações do Todos Pela Educação e o Seminário A Sociedade Em Rede E A Educação, o segundo através dos posts e tuítes da Samantha, mas antes de tudo gostaria de  falar um pouquinho do que vivenciamos em casa neste ano e que está diretamente relacionado a importância dos pais confiarem mais em si mesmos.

A Carol está no segundo ano do ensino fundamental. Mais de uma vez eu dividi com vocês a nossa opção pela alfabetização apenas a partir dos 06 anos de idade e dos valores que nos levaram a escolher a escola em que estava: ela se sentir acolhida, não ser mais um número, uma escola que provesse valores semelhantes aos nossos e cujo fim não fosse simplesmente o sucesso em algum vestibular.

No ano passado ela passou pelas maravilhas da alfabetização, da descoberta das letras, aquela fase em que as crianças leem as placas nas ruas, se realizam ao descobrir uma nova palavra.

Neste segundo ano fomos surpreendidos por muitas dificuldades na continuação desse processo e vimos sua curiosidade diminuir e o gosto pela leitura – tão caro para nós como pais – não despertar. Logo no início do ano conversamos com a escola e falamos de nosso receio de a Carol não estar preparada ainda para a fase seguinte – ela completou seus 07 anos apenas neste segundo semestre e está adiantada em relação ao restante da turma.

Nossos instintos como pais nos indicavam que era melhor voltar um pouco para que o estudo não se transformasse em um martírio. Fomos orientados no caminho contrário, de que o retorno poderia lhe desestimular e confiamos na avaliação da escola. Entendam bem, nós como pais estamos na busca constante por acertar com nossos filhos e muitas vezes nos sentimos desamparados frente aos desafios pedagógicos, nada melhor do que buscar o conselho de quem vivencia isso há muito mais tempo.

Infelizmente o que temíamos aconteceu: Carol teve cada vez mais dificuldades, tentamos de todos os modos ajudá-la, mas era como se algo bloqueasse o avanço e nos vimos novamente sem entender qual seria o melhor caminho. Em agosto fomos chamados à escola e fomos informados que esta queria que nós fizéssemos uma avaliação neurológica a fim de identificar alguma deficiência na capacidade de aprendizado. Nós, pais, não acreditávamos nisso e dessa vez resolvemos apostar na gente, já que a primeira tentativa tinha se mostrado inválida.

Numa conversa franca com os demais pais de alunos da mesma turma soubemos que várias crianças estavam com dificuldades, que o conteúdo era muito pesado e que não havia uma professora acompanhando as lições no período da tarde. Dividimos nossas ideias com uma psicóloga que vem acompanhando a Carol nos últimos meses e concluímos que a imaturidade emocional da Carol fazia com que ela não se sentisse “acompanhada” na escola, o tal acolhimento que nos era tão caro. Faziam com que ela apenas se sentisse cobrada e sem o suporte necessário.

Com base nisso mudamos a postura em casa e discutimos com sua professora e com a pedagoga da escola a necessidade de mudanças na forma como ela era tratada. Em apenas duas semanas foi perceptível a mudança de seu comportamento: voltou a ser uma criança falante e carinhosa, voltou a ler as placas de rua e, alegria enorme, no sábado quis ir a livraria, aonde escolheu um lindo livro sobre folclore, que leu com prazer à noite em seu quarto e quis levar para a escola ao longo da semana. É claro que ainda existem muitas dificuldades, que ela ainda reluta de manhã para ir a escola e que ela não consegue acompanhar o ritmo dos demais.

Não sabemos se ela perderá ou não esse ano, e essa nunca foi uma preocupação nossa, já que o que queremos é que ela tenha prazer em sua vivência como estudante, mas isso serviu para nos mostrar que é preciso confiar um pouco mais no que sentimos em relação aos nossos filhos e um pouco menos no que os educadores nos dizem, eles são humanos e também passíveis de erros.

Ao saber que nossa filha era um caso isolado em uma turma que ia bem nos isolamos dos outros pais, até para evitar que ela fosse vista como menos que os demais, e acabamos por perder a chance de ter evitado que ela se retraísse: na conversa franca descobrimos que o caso isolado na verdade era mais de 50% de uma turma, e que vários pais compensavam a falta de acompanhamento da escola estudando com seus filhos horas e horas após a escola – o que para mim é inaceitável, afinal, eles já passam quase 12 horas na escola todos os dias.

Percebo agora um certo despreparo da escola em tratar as diferenças naturais e ricas no desenvolvimento das crianças e não acho que a escola dela tenha sido um caso isolado. Com a necessidade cada vez maior das crianças de terem de passar o período integral na escola, se faz preciso que professores e educadores repensem a forma de transmitir conteúdo.

Estamos agora no momento de reavaliar qual o modelo que adotaremos no próximo ano: visitamos outras escolas, pensamos em alternativas para que ela fique meio período na escola (o mais difícil em função de um mercado de trabalho que não lida adequadamente com as necessidades das mães) e até mesmo discutimos com a escola mudanças caso seja uma opção continuar.

Disso tudo fica a certeza ainda maior da necessidade de nos envolvermos no dia a dia de nossos filhos e, mesmo eles sendo crianças, ouvir com atenção o que falam ou os demais sinais que nos dão de que algo pode não estar funcionando. Fica também a certeza, essa uma nova, de que devemos ouvir mais nosso coração e menos a teoria.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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