Alguém adivinha o manequim?

Camiseta Gregory, saia Hering, meia Lupo e sapato Uncle K

Há mais de quinze anos atrás eu me formava no colegial em tecnologia têxtil. Apesar  da vida ter me levado por outros caminhos, lembro com carinho do meu colegial entre tecidos e linhas, aprendendo sobre cores, pontos e texturas.

Já naquela época a questão da numeração em roupas brasileiras era um problema discutido e rediscutido pela indústria – além da questão da falta de padrão entre as lojas, existe a questão da falta de padrão dentro de uma mesma marca. Na época, já faz tempo heim, se falava que esta falta de padrão dificultava a exportação por parte das confecções brasileiras. Hoje, além disso, esse fator faz com que pessoas tenham medo de comprar roupa pela internet, por exemplo, por não saber o que vão encontrar.

O tempo passou, ouvimos falar sobre uma lei que estabeleceria limites de diferença para uma mesma numeração. Mas ela não vingou.

Em tempos de internet alguns sites optaram por criar no cadastro das usuárias uma tabela em que ela entre com suas medidas, o site faria a comparação com as medidas da marca e então diria o tamanho certo de roupa a ser comprada ali. Eficiente em alguns casos, em outros a tabela deixa a desejar, principalmente quando falamos de sites multimarca.

Outra coisa que não tem ajudado é a redução da tabela de medidas para atender a indústria que estabelece que o ser extremamente magro é o aceitável. Em tempos em que a indústria propaga investir em modelagem plus-size você entra em lojas em que o número 40 de hoje equivale ao 36 ou 38 de ontem. Pior, você descobre que quem usa 40 ou 42 hoje pode ser considerado plus-size por algumas marcas e agências, apesar da numeração vestir pessoas com corpo dentro da normalidade.

E por que eu estou falando tudo isso? Essa saia aí de cima foi amor a primeira vista. Eu particularmente gosto bastante algumas propostas da Hering de fazer modinha à preço acessível e com qualidade razoável. Tenho muitas e muitas camisetas da marca, assim como moletons para os dias que-eu-não-queria-sair-da-cama. Todos tamanho M, equivalente aí ao 40, 42.

Pois a saia acima é tamanha 46. Isso mesmo. Apesar de eu não ligar para o fato de usar uma saia 46, fico pensando em que sairia usando a 40… Ou como alguém um pouco maior que eu poderia comprar uma saia igual, já que a produção da marca não vai acima dessa numeração.

E pensando nos homens: meu marido, que nem engordou tanto assim desde que nos conhecemos, tem trocado constantemente suas camisetas G por camisetas GG pelo simples fato de que elas só diminuem.

Chegará o dia em que pessoas normais deixarão de comprar roupas em lojas comuns, será isso?

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

1 comentário


  1. Ótima reflexão Si, eu percebo essas tendências do mercado da moda quando vou a lojas em que, para começar as vendedoras devem ter entre 16 e 20 anos, são magras de dar dó e acham que já sabem tudo sobre a vida… elas olham pra quem usa calça 38 ou 40 com um “nojinho” e em muitas lojas de marcas boas e caras inclusive, eu já ouvi dizerem que não tem esses tamanhos, pois sai pouco, já que as numerações mais procuradas são 36 ou 34. Fico a pensar se tem tanta gente magérrima por aí para entrar em perfeição em roupinhas tão pequenas ou se a mulherada anda se expremendo para caber no que foi ditado como padrão de beleza e estética. No meu caso ando #deolho e ainda, priorizando as marcas que ainda comercializam roupas de tamanho convencional.
    Abraços

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