Feliz 2010 para vocês!

Pronto, férias forçadas acabaram (descobri já em casa que meu notebook não estava conectando por uma falha da VPN, podia ter descoberto antes não é?), primeiro dia de trabalh também se foi (e ele é sempre confuso, sem que lembremos exatamente o que temos por fazer e quem somos nós e nosso chefe nos enche de perguntas logo às 08h00) e podemos, finalmente, voltar ao normal, se é que essa é uma classificação possível para nossa vida.

Antes de falar dos livros que li e dos filmes que vi, queria falar desse começo de ano atribulado que tivemos. Na verdade, 2009 já teve um final meio torto, pelo menos para mim.

Num dos dias desse recesso mal cheguei à sala da casa de meus pais e fui bombardeada pela triste notícia da morte de um jovem empresário em frente a padaria Deôla da Higienópolis. Isso, ali do lado, perto de casa, na frente do Hospital Samaritano.

Além do fato do motivo da morte ser tão ordinário, o que me chamou a atenção foi a postura de meus pais: minha mãe defendia o fato de quem deveria ir presa era a irmã do empresário por ter insistido na reclamação e meu pai falava que o irmão não deveria ter ido tirar satisfação no lugar dela.

Entendam bem: meus pais são ótimas pessoas e não praticam o mal, mas ali eles expressavam opiniões nascidas do medo que afeta a maior parte de nós. Meus pais falavam ali sobre o fato de que hoje se mata por qualquer coisa e que a melhor defesa é nada fazer, de que quem reclama está procurando encrenca.

O bate-boca que tive com eles por causa disso foi acalorado. Apesar de entender seus medos acho inconcebível que todos nós tenhamos que nos sujeitar a qualquer coisa só por medo de que a pessoa do outro lado não seja razoável e nos tire a vida.

É seguir na mesma linha de quem agradece a Deus o fato de ter escapado com vida de um assalto (“Graças a Deus foi só um assalto!) e não faz o boletim de ocorrência.

Não sei vocês, mas eu acredito firmemente que devemos sim lutar por aquilo que acreditamos e que não, eles não têm o direito de nos tirar a vida por qualquer coisa.

Eu não sei qual foi a ofensa que o tal garçom fez a garota e não sou ninguém para julgar se era motivo para reclamação ou não – cada um sabe aonde o sapato lhe aperta e não somos ninguém para julgar os valores do outro – mas acredito piamente que ela tinha sim o direito de reclamar. E, mais que isso, se sentindo indefesa ou injustiçada ela tinha o direito de recorrer a alguém que lhe representa segurança para buscar apoio e defesa.

A vida nos oferece, a cada momento, chances mil de sermos melhores e fazermos coisas melhores, mas desistir de nossos valores e crenças não estão inclusas aqui.

Por isso fiquei tão besta quando vi minha mãe, uma pessoa que deveria ter valores mais parecidos com os meus, criticando a garota que acabava de perder seu irmão – e que provavelmente já vai fazer muito bem o trabalho de se culpar pelo ocorrido sozinha, sem precisar que ninguém lhe julgue – ao invés de criticar o motivo de crime tão vil.

E esse foi apenas um dos casos em que eu fiquei com o queixo caído, me sentindo um alienígena olhando para um povo que não compreendo – Cadê a Nave Mãe para me buscar? – já que isso se repetiu ao ler um artigo da Sam sobre mídias sociais e dei de cara com a notícia de que uma mãe foi criticada por dividir no twitter seus sentimentos pela perda de seu filho (como se esse não fosse o instrumento que usamos para falar de tudo que nos cerca, todo o tempo), sobre Boris Casoy falando de forma depreciativa de garis (como a gente se engana, não tem desculpa para isso) ou quando vejo a lista de assuntos vergonhosos do ano de 2009 escolhidos pelos ouvintes da Rádio Eldorado (é claro que os casos envolvendo políticos quase são a lista toda) e penso no tanto de pessoas que não enxergam nada de errado nisso.

Espero, sinceramente, que em 2010, eu tenha mais oportunidades de me sentir em casa, ao invés de estrangeira em meu próprio país.

Que possamos praticar mais o bem, descobrir mais amigos e realizar mais sonhos.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

2 Comentários


  1. Si, a gente se conheceu em outubro de 2008 e vc se tornou uma comadre em 2009, foi uma das amigas, reais, virtuais ou seja lá como for, mais próximas e importantes no meu cotidiano neste ano. E sei, não preciso “esperar” ou “desejar”, que nós estaremos juntas novamente neste ano e nos próximos. E acho que a Nave Mãe que nos salva é feita de gente amiga que não finge que a gente não é gente, mas, ao contrário, está sempre sendo humano com tudo que vivemos. 😉

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    1. Acho engraçado quando vejo alguém falando que a internet torna as pessoas menos sociáveis. Nossa amizade é a prova de que a internet ajuda a trazer pessoas especiais para nossa vida.

      Beijos

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