Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Câncer. A data foi criada em 1988 com a idéia de incentivar o debate sobre a prevenção da doença – cuja importância eu e outras blogueiras rebatemos durante todo o mês de Outubro (veja Outubro Rosa). Também foi idéia do Ministério da Saúde, no ano de 1998, lembrar a todos do importante significado das entidades de combate ao câncer e dos serviços que prestam a toda a população.
Para também participar desta data resolvi voltar ao assunto do câncer de mama, afinal, este é o tipo de câncer que mais mata mulheres hoje em nosso país. Além disso, achei muito apropriado voltar ao assunto depois da confusão criada neste mês após a divulgação por um grupo de pesquisadores americanos – na verdade uma força-tarefa criada pelo governo norte-americano – de que a mamografia só seria necessária após os 50 anos e, ainda assim, sendo realizada a cada dois anos.
Segundo tal pesquisa, o número de resultados negativos é muito grande até a faixa de 50 anos, o que justificaria a não realização do exame – eles apenas esqueceram de mencionar que o número de mulheres que realizam o exame na faixa dos 40 aos 50 anos é muito menor e de que, nos casos em que o câncer é detectado em seu início a chance de cura é 90% maior do que se detectado após seu desenvolvimento.
Engraçado é que, o mesmo grupo foi o responsável por, há 07 anos, indicar a realização das mamografias anuais a partir de 40 anos de idade. Só que, há 07 anos, nenhum dos membros atuais do grupo integrava o mesmo, hoje formado por 16 especialistas e professores cuja função é redigir recomendações para políticos e empresas. Entre eles não temos nem ao menos um oncologista sequer.
A pesquisa divulgada causou verdadeiro burburinho no meio acadêmico e entre os meios de comunicação, valeu reportagem no Jornal Nacional e até mesmo citação por Willian Bonner em seu Twitter.
Algumas entidades americanas chegaram a questionar quais os reais interesses dos divulgadores da pesquisa: a indicação da mamografia após os 50 anos diminuiria sensivelmente os custos dos planos de saúde e do governo, hoje obrigados a efetuar a cobertura do exame anual para mulheres acima dos 40 anos – fato que veio a inspirar a lei semelhante aprovada em Abril deste ano no Brasil.
A economia gerada pela alteração deste padrão chega a casa dos milhões de dólares. Só que, para isso, só foi feita uma avaliação matemática.
Só que, os tais especialistas esqueceram de considerar que, somente em 2009, o número de casos de câncer de mama no mundo deve chegar a 1,3 milhão e no Brasil deve passar de 50 mil casos diagnosticados.
Somente somando custos médicos, perda de produtividade e custos não médicos serão gastos quase US$ 29 bilhões, boa parte deles pode ser reduzido com o diagnóstico precoce e o tratamento certo.
As organizações internacionais Associação Americana do Câncer , Associação Americana de Radiologia e a Fundação Suzan G. Komen divulgaram posição contra a mudança, mantendo a recomendação de mamografias a partir dos 40 anos.
No dia 18 de novembro foi a vez do Departamento de Saúde dos Estados Unidos declarar que mantém a recomendação para que mulheres saudáveis a partir dos 40 anos realizem mamografias anualmente.
No Brasil o Instituto Nacional do Câncer, do Brasil, recomenda que a mamografia seja realizada, com um intervalo não maior do que 2 anos a partir dos 50 anos a não ser que a mulher tenha casos de tumor maligno de mama na família.
Uma observação importante: independentemente da qualidade ou motivação da conclusão da força-tarefa norte-americana, em nosso país lidamos com uma população diferente, com perfil genético próprio. As observações de lá podem não se aplicar aqui.
E o recado mais importante: toda mulher deve conversar com seu médico sobre a prevenção do câncer de mama e traçar a melhor estratégia para seu perfil de risco.
Não entre na triste estatística brasileira, onde só conseguimos 10% de detecção precoce dos tumores.