Ainda falando da sujeira que faz bem…

17042009

Quando fui escrever o texto de hoje de manhã pedi para a minha amiga Sam, sempre me ajudando, o link para a comunidade do Orkut que citei, e que ficava sobre sua coordenação. Sam me contou que deixou a coordenação, mas continua defendendo abertamente a campanha, como ela mesmo escreve aqui.

Além disso, ela me passou o texto abaixo, que reproduzo na íntegra, falando da sujeira que faz bem. Adorei o texto e na hora lembrei de quando nós duas passamos ótimos momentos no Parque da Água Branca com nossas famílias e nossos pequenos, logo depois de rolar na terra da área em que os cavalos treinam, resolveram comer pipoca. Não consigo esquecer da cara do marido da Sam perguntando se eles tinham lavado a mão e eu respondendo que depois a gente dava vermífugo para eles e tudo ficaria bem.

Não sei se o Gui me levou a sério, mas eu penso assim mesmo. Lembro de quando eu ia com a Carol todo mês no pediatra e a enfermeira comentava que achava ótimo o fato de Carol nunca ter tido nenhuma doença séria – mesmo tendo ido para a escolhinha a partir dos 11 meses – e eu sempre atribuí isso a duas coisas: minha falta de frescura com o clima – nunca fui do tipo de encapotar a Carol por causa de qualquer friozinho e ela raramente usa toca e cachecol – ou com sujeira – como já disse antes.

Acho que isso sempre foi uma reação minha aos excessos que eu via a minha volta. Tenho primos de segundo grau que têm alergia a terra e vivem com problemas respiratórios, enquanto são criados em um ambiente extra-protegido em que as janelas da casa são fechadas ao menor sinal de vento.

O texto também fala de algo que eu sempre assumi como verdade: o contato com bichos faz um bem enorme a essa criançada. Carol sempre teve total acesso as nossas gatas, aos cães dos meus pais, aos bichos do restaurante perto da casa deles – isso se refere a cavalos, bois, coelhos, pintinhos, avestruzes e porquinhos da índia – e, mais uma vez, nunca ficou mal por causa disso.

Ponha a mão suja na boca!

JANE E. BRODY DO “NEW YORK TIMES”

Se você perguntar às mães por que os bebês costumam apanhar coisas do chão e colocá-las na boca, é provável que elas respondam que se trata de instinto – é dessa maneira que eles exploram o mundo que os cerca. Mas por que a boca, quando a visão, a audição, o tato e o olfato são mais eficientes na identificação das coisas?

Quando meus filhos eram pequenos e exploravam as ruas do Brooklyn, eu sempre imaginava que graça eles percebiam em experimentar tijolos moídos ou cocô de cachorro seco quando costumavam rejeitar meu delicioso purê de batatas.

Já que comportamentos instintivos representam vantagem evolutiva -ou não teriam sido retidos por milhões de anos-, a probabilidade é que isso também nos tenha ajudado a sobreviver como espécie. E, de fato, um acúmulo considerável de indícios parece sugerir que comer sujeira faz bem.

Em estudos sobre o que os cientistas chamam de “hipótese da higiene”, pesquisadores estão concluindo que organismos como os milhões de bactérias, vírus e especialmente vermes que penetram no corpo em companhia da “sujeira” promovem o desenvolvimento de um sistema imunológico saudável. Diversos estudos longos sugerem que vermes podem ajudar a redirecionar um sistema imunológico que tenha perdido a orientação e, por isso, resultado em doenças imunológicas, alergias e asma.

Esses estudos, acompanhados por observações epidemiológicas, parecem explicar por que distúrbios do sistema imunológico como a esclerose múltipla, o diabetes tipo 1, as doenças inflamatórias dos intestinos, a asma e as alergias tenham apresentado elevação em sua incidência nos EUA e demais países desenvolvidos.

“O que uma criança faz ao colocar coisas na boca é permitir que seu mecanismo de resposta imunológica explore o ambiente que a cerca”, afirma Mary Ruebush, professora de microbiologia e imunologia, em seu novo livro, “Why Dirt Is Good” [por que a sujeira faz bem].

“Não só isso permite o “treinamento” das respostas imunológicas de que o corpo precisará para proteção como o processo desempenha papel crucial em ensinar ao sistema de resposta imunológica sobre sinais que ele deveria ignorar”, afirma.

Um conhecido pesquisador nesse campo, Joel Weinstock, diretor de gastroenterologia e hepatologia no Centro Médico Tufts, em Boston, diz que o sistema imunológico, no nascimento, “é como um computador não programado, que precisa de instrução”. Ele afirma que medidas de saúde pública, como limpar a água e os alimentos contaminados, salvaram incontáveis crianças mas também “eliminaram a exposição a organismos que provavelmente nos fazem bem”.

“Crianças criadas em um ambiente ultra limpo não estão sendo expostas a organismos que as ajudam a desenvolver os circuitos regulatórios adequados em seus sistemas imunológicos”, diz. Estudos que ele conduziu em parceria com David Elliott, gastroenterologista e imunologista da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, indicam que os vermes intestinais, praticamente eliminados nos países desenvolvidos, “provavelmente exercem o papel principal” na regulagem do sistema imunológico para que responda de maneira apropriada. Ele acrescentou que infecções bacterianas e virais parecem influenciar o sistema imunológico da mesma maneira, mas não com vigor comparável.

A maioria dos vermes pode ser considera inofensiva, especialmente para as pessoas bem nutridas, acredita Weinstock. “Existem muito poucas doenças que as pessoas apanham dos vermes”, disse ele. “Os seres humanos se adaptaram à presença da maioria deles”.

Vermes para a saúde

Em estudos com camundongos, Weinstock e Elliott usaram vermes para prevenir e reverter doenças do sistema imunológico. Na Argentina, portadores de esclerose múltipla infectados com o verme tricocéfalo humano apresentaram menos surtos da doença em um estudo que durou quatro anos e meio.

Na Universidade do Wisconsin, em Madison, o neurologista John Fleming está testando se o uso da versão porcina do tricocéfalo pode temperar os efeitos da esclerose múltipla. Em Gâmbia, a erradicação de vermes em algumas aldeias levou ao surgimento de reações de pele mais intensas a agentes alergênicos entre as crianças, segundo David Elliott. E os tricocéfalos porcinos, que residem por curto período no aparelho intestinal humano, também tiveram “efeitos positivos” no tratamento de doenças do intestino, do mal de Crohn e da colite ulcerosa.

Para Elliott, a regulagem imunológica é entendida hoje como um processo mais complexo do que parecia ser o caso no momento em que o epidemiologista britânico David Strachan introduziu a hipótese da higiene, em 1989. Strachan notou uma associação entre famílias grandes e uma incidência reduzida de asma e alergia.

Em resposta à pergunta “será que somos limpos demais?”, Elliott responde que “a sujeira tem seu preço. Mas a limpeza também. Não estamos propondo uma volta aos ambientes repletos de germes de 1850. Mas se compreendermos devidamente como os organismos do ambiente nos protegem, talvez possamos criar uma vacina ou imitar seus efeitos por meio de um estímulo inócuo”.

Lave com moderação

Mary Ruebush, apesar de seu livro sobre as vantagens da sujeira, também não sugere um retorno à imundície. Mas ela lembra que existem bactérias em toda parte: dentro do nosso corpo, sobre nosso corpo e em tudo o que nos cerca. A maioria desses micro-organismos não causam problemas, e muitos são essenciais à boa saúde.

“O ser humano típico abriga cerca de 90 trilhões de micróbios. O fato de ter tantos micróbios de tipos diferentes é o que o ajuda a se manter saudável na maioria do tempo”, escreveu. Ela deplora o fetiche atual por produtos antibacterianos que transmitem uma sensação de falsa segurança e podem fomentar o desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos e causadoras de doenças. Limpeza requer apenas água e sabonete comum, acredita.

“Certamente recomendo lavar as mãos depois de usar o banheiro, antes de comer, depois de trocar uma fralda, antes e depois de manusear alimentos, e sempre que elas estiverem visivelmente sujas”, escreveu. Weinstock vai mais longe. “As crianças deveriam ser autorizadas a brincar descalças na terra, e deveriam ser autorizadas a comer sem lavar as mãos”, diz.

Ele e Elliott apontam que crianças criadas em fazendas muitas vezes crescem expostas a vermes e outros organismos, pelo contato com os animais rurais, e sua probabilidade de desenvolver alergias e doenças imunológicas é muito menor.

Igualmente útil, diz ele, “é permitir que as crianças tenham dois cachorros e um gato”, o que as exporá a vermes intestinais capazes de promover o desenvolvimento de um sistema imunológico saudável.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

* O texto original você acessa aqui.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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