O mundo mudou, mas eles não perceberam

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Há duas semanas atrás eu estive na FNAC Pinheiros, que eu não freqüentava já há muito tempo. Lembro da abertura da loja, anos atrás, e do meu deslumbramento com todo aquele espaço dedicado aos livros e a música.

Quando estive lá nesta última vez eu constatei a real mudança que o compartilhamento de arquivos ocasionou para o mundo da música: o espaço dedicado a CDs, que antes ocupava um andar inteiro da loja, com muitas e muitas prateleiras, foi invadido pelos boxes de filmes e séries em DVDs, e hoje ocupa um terço do antigo andar.

Os CDs a venda têm preços muito diferentes do passado (encontrei CDs duplos de lançamentos por menos de R$ 30,00) e a procura era baixíssima, enquanto os andares dedicados a eletrônicos e livros estavam lotados.

Errado ou não, o compartilhamento de arquivos já é uma realidade e a briga das gravadoras que impede a entrada da loja iTunes no país, por exemplo, mostra o quanto ainda será preciso caminharpara que gravadoras e produtoras entendam que não existe caminho de volta.

A comercialização de entretenimento, no modelo anteriormente praticado, não existirá mais em pouquíssimo tempo e é triste perceber que estas empresas, ao invés de ações que adaptem seus processos e seus lucros ao novo mundo, preferem gastar rios de dinheiro brigando contra esta nova realidade.

Eles podem continuar fechando sites ou inventando moda quanto ao controle que cada usuário faz, a questão é que novas soluções, sites, programas irão aparecer para atender a esta demanda, de maneira lucrativa ou não.

Um novo capítulo desta história foi escrito nesta semana, quando a APCM – Associação Antipirataria de Cinema e Música, sem nenhuma tentativa de diálogo, fez ameaças ao site Legendas.tv e, após algum tempo, conseguiu intimidar o datacenter que hospedava o site, conseguindo bloquear o acesso de todos ao mesmo.

A atitude foi seguida de diversos protestos no meio virtual, sendo muito discutido no Twitter e gerando ótimos artigos, como o publicado pelo Ale do Poltrona.Tv. Ontem a noite o site da APCM foi invadido por hackers e, ao invés de visualizarem a mensagem da entidade sobre o assunto, o usuário recebia uma mensagem de “Viva os downloads” sendo redirecionado ao site Mininova.Org. Na manhã de hoje o site já estava fora do ar.

A discussão sobre o que é pirataria é extremamente válida, ao contrário do que fazem crer as associações formadas pelos produtores deste material, afinal, os sites de compartilhamento de arquivos ou de disponibilização de legendas não ganham dinheiro com suas ações. As legendas, que segundo pareceres citados pelo Ale, não são passíveis de direitos autorais, são criadas por pessoas apaixonadas pelos seriados, que o fazem em seu tempo livre e sem nada cobrar.

Outro parecer cita o fato de que os seriados são programas de televisão aberta e que, desde que o uso seja doméstico, não existe crime no download do produto.

Além disso, boa parte das pessoas que efetuam downloads também paga pesadas faturas para ter acesso à transmissão da televisão a cabo e somente utilizam o download para assistir sua série preferida em um horário mais adequado e, preferencialmente, não ter de esperar por meses até que algum canal se digne a transmitir o programa que estreou lá fora.

No fundo no fundo a questão é simples e já foi falada aqui: não existe caminho de volta e as empresas terão de se adaptar a este novo mundo. Eles podem escolher o caminho fácil, acredito que boa parte dos usuários do novo “sistema” aceitaria pagar para baixar sua música ou seriado (desde que pelos US$ 2 cobrados por música ou episódio lá fora não se transforme em R$ 30,00 aqui no país), ou o mais difícil, no qual, acredito eu, eles não têm chance de saírem vencedores.

Neste endereço você tem acesso ao que o pessoal do Legendas.tv está fazendo para normalizar seu serviço.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

2 Comentários


  1. A indústria fonográfica morreu e esqueceram de enterrar. Ou outros setores acordam para a realidade, ou terão sérios problemas. Como você disse, é preciso mudar o modelo de negócio.

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  2. A realidade é uma só: as mídias vão conviver independente do “pensar” da indústria. Esse tipo de comportamento só indica o despreparo e desconhecimento dos “chefões”.
    Será que eles ainda não se tocaram disso??…

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