Por que eu AMO Boston Legal?

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Nesta última segunda-feira, nos EUA, foram ao ar os dois últimos episódios de Boston Legal: Made In China e Last Call. Encerra-se, assim, um dos melhores seriados que eu já conheci.

A notícia não foi surpresa, em verdade Boston Legal seria cancelada no ano passado, quando a ABC resolveu não fazê-lo e encomendou uma nova temporada, mais curta, dando a oportunidade de que David Kelley trabalhasse em um digno encerramento. E a quinta temporada foi a altura de todo o resto.

Boston Legal nunca foi unanimidade de público, muitos se revoltaram pelos prêmios seguidos que James Spader faturou pelo papel do estranho Alan Shore (como eu falei aqui), a maioria nunca nem viu o seriado. Uma das manias de Kelley também não ajudou muito ao seriado: trocar metade do elenco a cada temporada.

O impacto foi especialmente sentido na quarta temporada, quando deixaram o escritório Crane, Poole e Schimidt os personagens de Denise, Brad e Paul . Os três eram extremamente queridos pelos fãs da série e complementavam, a altura, o trabalho realizado por Alan, Denny Crane e Shirley Schimidt.

Eu torci o nariz quando fiquei sabendo da saída dos três, antes mesmo da estréia, e xinguei bastante Kelley. Depois da estréia fui me acostumando com a nova dinâmica, ficando feliz com o maior tempo na tela de Jerry Spenson (sempre um de meus personagens preferidos), rindo com a participação de Clarence e me encantando com a novata Kate.

Os últimos episódios exibidos aqui no Brasil – Green Christmas, Mad About You, Roe vs. Wade: The Musical e Glow In The Dark, respectivamente os episódios 10, 11, 12 e 13 da quarta temporada da série – são exemplos maiores da maestria dos roteiristas e da competência de seus atores:

Green Christmas é um episódio de muitas tramas, temos Carl Sack and Katie Lloyd defendendo Denny Crane de uma empresa que o acusa de ter mentido sobre o comprometimento do escritório com questões ambientais; Alan defende Clarence, que corre o risco de perder sua casa para um banco; e Jerry sendo trocado por um iPhone.

Nunca morri de amor por Carl Sack, pelo contrário, minhas saudades de Paul me fizeram torcer o nariz para ele desde sua primeira participação. Mas este foi o episódio dele e seu encerramento foi fabuloso. Talvez isso se deva ao fato de que concordo firmemente com este ponto de vista que acha um exagero o que esse ecochatos fazem de suas vidas.

Kate também se sai muito bem em sua defesa, ao ir apontando, uma por uma, as verdades por trás dos ditos produtos ou serviços mais ecologicamente conscientes.

Com a palavra Carl:

É difícil saber o que realmente faz bem ao ambiente nestes dias. Uma hora nos mandam comer salmão de criadouro, para salvar os salmões selvagens. Um outro estudo nos diz que a pior coisa que podemos fazer é comer salmão de criadouros. Existe um novo estudo que diz que a pessoa emite mais gases quando anda do que quando usa seu carro. Isso porque para ter energia para andar mais a pessoa se alimenta mais, o que causa os tais gases. Ridículo? Pode ser. Todos falam sobre o tal etanol. Bem, acontece que, para abastecer um SUV com etanol puro gastamos 150 libras de milho, a mesma quantia que servia para alimentar uma pessoa durante um ano inteiro. Apenas um tanque cheio. Nós ouvimos sobre o fato de que os carros híbridos podem não ser tão bons como imaginamos. Eu digo, a informação algumas vezes pode ser muito contraditória e confusa. E. como consequência, você se sente sobrecarregado e com uma sensação de futilidade. Especialmente quando as pessoas correm e dizem ‘o fim está próximo’. Uma coisa que realmente iria ajudar é de os “Chiken Littles” parassem de gritar “Doom!” e se acalmassem. E então se promovesse um pouco de bom senso. Nós não vamos parar de andar de carro ou desistir carne. Ou do natal. Agora, nós podemos parar de comer salmão de criadouro. Nós podemos reciclar. Podemos usar menos o carro. Podemos usar lâmpadas fluorescentes. Pequenas coisas. Talvez se transmitissimos a mensagem de que pequenas coisas fazem diferença, nós todos começaríamos a fazê-las. Mas processar as pessoas por não fazer o bastante? Isto é meio bobo, não é não?

Alan também teve a oportunidade de dar seu show, acabando com o topete do advogado do banco. Eu me senti rendida quando ele fala sobre o quanto o banco fatura existindo crise ou não (lembrei do meu marido falando que, se você vir um banqueiro pulando pela janela, pule atrás; alguma coisa você vai ganhar, já que banqueiros nunca apostam para perder).

Mad About You é o episódio pelo qual esperei desde Son of the Defender (3×18), quando vemos cenas de um Denny novo defendendo um cliente junto de seu pai. Ele, finalmente, defende um caso importante sozinho. Fiquei um pouco triste, é bem verdade, por não terem aproveitado para mostrar mais da genialidade dele. Eu acho que é exagerada a exploração da doença de Denny para fazer humor.

Mesmo ainda um pouco louco, Denny pôde se sentir importante novamente, e isso fica claro na cena final, quando ele entra na sala vazia para respirar um pouco antes de voltar e falar com a imprensa.

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Missy Tiggs retorna em Roe vs Wade: The Musical. O caso também é controverso: Missy, tão louca como sempre, rouba o esperma de um homem com quem ela nem ao menos transou para poder engravidar de um bebê negro. Além da loucura cometida ainda tem o fato de que ela está fazendo uma tal terapia musical, anda carregando um rádio por todo lado e começa a cantar por qualquer motivo.

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A questão é: Ele tem o direito de exigir que ela aborte aquela criança, já que ele nem teve participação em sua concepção? Ela tem o direito de manter a gravidez, mesmo tendo fraudado o pai?

Alan defende o pai, Shirley defende Missy. Carl acaba levando porrada simplesmente por não concordar com o direito de Missy manter uma gravidez a revelia do pai.

Jerry defende Leigh de perder seu emprego por ter abraçado uma criança e dá um show. Primeiro ele cita um estudo chamado de Surrogate Mother Experiment, realizado nos anos 60, que teria comprovado que um abraço é mais importante que qualquer outra coisa ao utilizar macacos em um experimento.

Ele finaliza maravilhosamente:

O toque humano não pode ser quantificado. Ele não pode ser analisado com estatísticas. Nós não podemos colocar um número nele. É muito mais que uma porta para molestamento sexual. É melhor, mais direto, a última maneira de afirmar para outra pessoa sua própria humanidade.

Por último temos Glow In The Dark, onde temos a oportunidade de ver um pouco do passado de Shirley Schimidt e ainda somos brindados com a participação muito especial de Scott Bakula, de Enterprise e Quantum Leap (gente, sério, ele está quase sessentão e coloca qualquer moleque no chinelo – bela escolha Shirley!), colega e ex-namorado de Shirley nos tempos de faculdade, ele defende a construção de uma usina nuclear em determinada cidade, enquanto uma também amiga antiga de Shirley luta contra.

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Engraçado é que este é um episódio meio com clima de despedida. Carl desiste de Shirley, ao enxergar que ela jamais teria por ele o sentimento que teve por Jack (papel de Bakula), por exemplo. Sua tristeza é sincera e me deixou eternecida.

Mas mexeu comigo mesmo quando, primeiro Denny, depois Alan, consolam a querida amiga.

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Boston Legal é isso mostrado nestes quatro episódios: você se diverte, você chora, você tem empatia pelos bons garotos (mesmo quando eles são um pouco ruins), você torce contra os bandidos (mesmo quando eles são representados pela polícia, por exemplo), você torce pelos bandidos (quando são defendidos por Alan de maneira tão espetacular que você acredita que eles são os mocinhos), voce não se conforma com algumas coisas que são ditas,você vai ao delírio com os encerramentos mais elaborados.

Mais que tudo: você se apaixona por este escritório e, assim como Carl, chega um momento em que você passa a achar isso tudo normal…

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

4 Comentários


  1. QUE TEXTO MARAVILHOSO!!!!!!!!!!

    Eu amo a série. Nem sei dizer o quanto adoro este escritório. Desde aquele primeiro episódio, quando o Denny fala para o Alan: para vencer em um tribunal, é preciso que você tire um coelho da cartola. E o episódio inteiro girou em torno disso e tudo se desenrolou de maneira genial. As piadas do Denny, o bordão “Denny Crane”, a amizade entre ele e Alan. Parabéns pelo texto. Espero contar com você para o especial que estou preparando.

    Uma coisa: você recebeu o torrent do episódio de Capitu? Vi que você tinha me perguntado sobre ele via Twitter. Eu mandei por email pra você, mas não sei se foi. Depois me confirma isso.

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  2. Vinicius:

    Eu amo a série antes de ela existir, quando Alan Shore chega arrasando em The Pratice e muda tudo naquele escritório.

    Eu assisto novamente cada um dos episódios e continuo adorando e rindo ou chorando com eles.

    Pode contar comigo para o especial!

    Recebi o torrent, deu tudo certo. Pode mandar os outros.

    Beijos

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  3. Eu meio que me desliguei de Boston Legal e sei que isso foi um sacrilégio meu. Infelizmente, BL estava, junto com Bones e algumas outras, no saco de séries que eu via só pela FOX, e que quando a emissora mudou a programação de repente para dublado, eu fiquei perdida, atrasada, e sem conseguir acompanhar pelos downloads (de alguma maneira que eu não consigo entender, eu sempre estou vendo coisas demais, coisas ruins às vezes, e sempre tenho uma lista infinita de coisas boas que não consigo baixar e ver). Mas às vezes eu ligo na FOX e vejo dublado mesmo, porquê simplesmente não consigo desligar. BL é tão boa assim. Vi, por exemplo, esse episódio dos ecochatos, e fiquei totalmente do lado do Carl naquele encerramento. Eu tenho uma certa birra infinita com a PETA, por exemplo. Não acho que é certo tentar criar consciência nas pessoas agredindo seu livre arbitrio. Mas apesar de eu ainda amar BL e ainda achá-la muito mais brilhnte do quê n coisas que passam na Tv, acho que ela meio que se tornou uma sombra da BL das primeiras temporadas. A verdade é que sinto muita falta do Denny como advogado brilhante e arrogante que saía por aí dizendo “Denny Crane” sem nenhum pingo de bom senso. E acho que o Alan também mudou, ficou menos irônico. Sem falar que eu gostava mais dos coadjuvantes antigos: Paul, Brad, Denise, Lori, Tara, Sally e Catherine Piper e Bernard Ferrion.

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