Há duas semanas tivemos a reunião de fim de etapa na escola da Carol (lá, por enquanto, as etapas são trimestrais e não bimestrais). Além de falar com a professora da Carol sobre tudo que ela pôde aprontar neste período tivemos a oportunidade de ouvir a diretora da escola, a pedagoga Eliana, falar um pouquinho sobre metodologia de ensino e o que é realmente importante para as crianças nesta fase (o que me remeteu ao artigo da Sam sobre este assunto, que você lê aqui).
Eu confesso (e acho que já confessei algumas vezes antes), quando escolhemos a escola da Carol (na época foi escolha de berçário) eu não busquei uma “metodologia de ensino”, busquei um lugar onde eu sentisse que a Carol fosse ser amada e cuidada. E a escolha acabou sendo natural e fácil.
Quase cinco anos se passaram e ano que vem a Carol encara a primeira série do ensino fundamental (eu ainda me perco nessas coisas, sou do tempo do ginásio e colegial) e posso garantir: ela é feliz demais na escola. Adora a professora, adora suas atividades, adora das pedagogas. Sinto-me bem em saber que todos a conhecem pelo nome, desde as professoras aos rapazes da segurança, passando pelas meninas da cozinha e da limpeza. Atravessamos a rua de manhã ou de tarde ouvindo os “Oi Miletic” de todos os lados.
A primeira noite do pijama, quando ela ainda tinha três anos, foi mais um prova de sua felicidade: não chorou, adorou a experiência e a conta com orgulho. Experiência repetida anualmente em toda a sua alegria.
A pergunta de hoje foi: você quer passar as férias todas na casa da vovó ou vai querer fazer clube de férias. Resposta? Meio a meio. Mais uma amostra, afinal, trocar praia pelas atividades do Clube de Férias não é coisa pouca (tudo bem que tem passeio, artesanato, piscina de bolinhas).
No finalzinho do ano passado ficamos um pouco assustados pelo número de pais que declararam estar buscando uma nova escola para seus filhos (conversa de festa de aniversário, sabem como é) devido a “metodologia de ensino”. Como tudo a que se refere ser mãe fiquei preocupada de não enxergar o problema que todos os demais enxergavam.
Fiquei preocupada da praticidade que tenho com o Globinho influenciar minha escolha (hoje deixo a Carol pela manhã na escola e só busco no fim da tarde; no período da manhã ela tem as aulas normais e a tarde é reservada a diversão e as aulas extras, como natação e capoeira, sem que eu tenha que ficar carregando-a de um lado a outro; quando vou buscá-la até o jantar ela já teve) e fui pedir satisfação para quem devia: a mesma pedagoga com quem me identifiquei quando escolhi o Globinho há quatro anos atrás.
A conversa foi ótima. Aquilo que eu considerava importante: pessoas que realmente gostam dela, a preocupação em não alfabetizá-la precocemente e o acompanhamento cuidadoso de seu desenvolvimento emocial também eram prioridade da escola (a Carol sofre da maldição de Julho e acabou se adiantando um ano em relação aos colegas; isso não causou problemas no desenvolvimento intelectual, ela é esperta até demais, mas faz com que nos preocupemos em ela ter dificuldades em lidar com a maturidade dos colegas; seis meses fazem uma diferença absurda nesta fase da vida).
Acalmei-me e fiz com extrema paz a matrícula para 2008.
Na última reunião tive a certeza de ter feito a opção certa. Ouvi a Eliana falando sobre a importância das crianças serem felizes nesta fase de suas vidas. A importância do brincar e do espaço: “Cinema e teatro são importantes, mas a cada dois, três meses. As crianças precisam correr, colocar o pé no chão, brincar na areia, ter espaço, para que não se tornem cada vez mais ensimesmados.”
Ela falou sobre a melhor da coordenação fina ser obtida por atividades diferentes e interessantes (a Carol tem informática e culinária desde os dois anos de idade e já teve até jardinagem – a foto que ilustra este post é de uma das aulas quando ela tinha dois anos) e da importância de resistirmos ao apelo de algumas pessoas que desfilam com seus filhos que lêem o Estadão aos três anos de idade para que apressemos nossas crianças.
Da importância de se sentir querido e dos limites que eles parecem desafiar a todo o momento. Falei de meu novo medo (a escola vai ter a opção para ensino bilíngüe a partir de janeiro e eu não sabia o que fazer) de acabar por sobrecarregar a Carol com aulas diárias de inglês e ela falou do uso de brincadeiras, músicas e histórias para tornar o aprendizado lúdico e que o limite de cada criança continuará sendo respeitado como já é hoje.
E descobri que a “metodologia de ensino” da escola, a qual a Eliana chama de proposta, é humanista, baseada no trabalho desenvolvido por uma pedagoga cujo nome me falta agora, que acabou por falecer antes de ter seu trabalho finalizado. Segundo a Eliana a proposta original sofreu algumas alterações ao longo dos trinta anos em função das experiências vividas com cada criança.
Neste domingo fomos à festa de aniversário de um dos muitos primos da Carol (família de espanhóis é assim), que foi em um sítio. Carol não parou um minuto: correu atrás de gansos, imitava o engraçado som do tucano e ria do pavão. Ia provocar a cachorrinha e corria pelas escadas (acabou com uma perna toda ralada, a qual ela orgulhosamente queria mostrar aos amiguinhos hoje e foi de shorts), jogou futebol, empoleirou-se nos primos mais velhos para andar de cavalinho e brincou no balanço e no gira-gira.
O sorriso no rosto dela não poderia ser mais bonito de se ver. As bochechas rosadas, a olheira de profundo cansaço. Tudo mostrava o quanto aquele dia estava sendo feliz para ela. Dormiu em meu colo, na volta para casa, só acordando hoje pela manhã.
Lembrei de tudo que a Eliana disse e, mais uma vez, dei razão a ela e torço para que a Carol tenha muitos dias como esse ainda. Prometemos, eu e o Carlos, que ainda vamos fazer de tudo para que eles se repitam Um Dia das Crianças de criança, mesmo.
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Simone
que bonito seu relato sobre esta decisão tão séria na vida de sua filha e de vcs. Vc sabe, aqui em casa passamos por uma tentativa de mudança de escola, mas decidimos manter os meninos na atual porque eles parecem se sentir queridos e seguros. O emocional pesa, esta liberdade de ser criança também. O resto, sinceramente, não acredito que nossos filhos – de uma geração de homens e mulheres tão antenados, empenhados e presentes – não será bem sucedida em vestibulares, carreira, etc. Serão sim, eles têm estímulo, têm nosso apoio, têm um DNA bom e estão recebendo oferta de “conhecimento” o tempo todo e por todo lado nesta era da informação.
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simone, que decisão mais certa! parabéns! Adorei ler seu post, confesso que foi um entre os melhores que participam do concurso. boa sorte! e muito obrigada pelo envio do email