Eu sempre critiquei, e continuo criticando, as posições assumidas na maior parte dos episódios de Law&Order: SVU. Em quase todo episódio que poderia ser polêmico os roteiristas acabam optando por um final aberto, tipo: resolva você como essa história terminou.
De cabeça lembro agora de dois: no caso de uma mulher que começa a ajudar pessoas a se suicidar, que seria filha do Doutor Morte. No julgamento dela o pai se suicida e o episódio acaba, sem sabermos se ela seria condenada ou não.
Em outro, com a participação especial de Mark Valley, o Brad de Boston Legal, em que ele acaba por matar sua esposa, depois de descobrir que o filho que ele criara não é seu filho e que ela pretendia levá-lo com ela ao assumir seu amante. Ao invés de aprofundar essa discussão sobre o fato dele ter ou não direitos maternos, matam a mãe e acaba o episódio. Não sabemos nem como foi o julgamento dele.
Bom, isso tudo foi só para dizer que tive oportunidade esses dias de assistir ao episódio Unorthodox, da atual temporada, e que os roteiristas desse episódio em especial estão de parabéns, pois, em momento algum, procuraram a solução fácil. Tá, não foi irrepreensível, pois faltou responsabilizar o pai do menino pelas atitudes dele.
O caso do episódio começa desafiando desde seu início: primeiro a própria vítima, um jovem menino de nome David, de família judaica, passando pelo difícil processo de uma separação, já que o pai dele optou por seguir um seguimento mais ortodoxo da religião.
A primeira suspeita dos detetives recai sobre os homens da religião que participam de sua educação. E existem motivos, já que um dos professores já foi denunciado no passado por abuso, tendo a denúncia sido retirada.
Mas é nesse mesmo lugar que o menino busca por ajuda. Ele pede ajuda ao rabino, que acaba por levá-lo para uma cidade habitada apenas por pessoas da religião. Inicialmente a família, assim como os detetives, acredita que ele foi seqüestrado e, somente depois de encontrá-lo é que eles ficam sabendo o que realmente aconteceu.
A conversa com David, depois de sua fuga, mostra o verdadeiro problema: o menino vinha sido abusado por um colega de escola um pouco mais velho. Daí em diante um cenário assustador se forma.
Um garoto sem barreiras morais, sem noção do certo e errado. Esse é o culpado pelo estupro de várias crianças. O motivo? Para mim sempre foi claro: criado apenas pelo pai, que o deixava em casa sozinho com o irmão até muito tarde com acesso total a canais de conteúdo adulto, sem ninguém que lhe coloque limites, a formação dele evidentemente ficaria deficitária.
O roteiro parte para outra vertente: a advogada de defesa resolve responsabilizar a mídia pelas atitudes do menino. A mídia sozinha não faz nada. É necessário que os pais se mantenham conscientes de seu papel, imponham limites, dêem base para que as crianças aprendam o certo e o errado, forneçam os padrões.
O depoimento de Jack, o menino, falando que ele não via nada de errado no que tinha feito, de que nos filmes as pessoas também choram e gritam, mas gostam do que está acontecendo, é chocante. E eu acho que devem existir crianças que pensam assim, que não tem o discernimento.
Ao invés de um final em aberto, vemos Jack sendo inocentado das acusações. A questão fica para a gente: ele era realmente responsável pelo que fez, sendo que não tinha base? Seu pai merecia uma punição? E a justiça para o que aquelas crianças passaram? Elas nunca mais serão as mesmas…
Um episódio para te fazer refletir, realmente.