“Tá aqui, pessoas. Parece bobinho, vocês não imaginam o tanto que eu chorei pra escrever isso.Eram umas duas, duas e meia da tarde. Era um dia bonito, sol sem calor. Morava no Leblon e ia para o trabalho, no centro. O ônibus era um 464, acho.
O ônibus parou no ultimo ponto antes da praia de Botafogo, entrou mais gente, e a voz perguntou ao motorista:
– Comandante, posso pegar uma carona?
A voz era cheia, firme, equilibrada, mais para o grave, magnífica. Tive que olhar. Era um hippie. Um cara louro, cabelos no ombro, rosto bonitinho, cabelos mais para o liso, carregava aquelas coisas de veludo cheias de bijuteria artesanal. Magro, um metro e setenta.
Ah. Ele entrou, tinha um lugar vago, alguém perguntou:
– Não vai sentar?
– Não, obrigado. Já estou feliz por conseguir a carona.
Foi só isso, dito por aquela voz, aquela pessoa. Tudo mudou dentro do ônibus. Um homem levantou e deu o lugar para uma mulher que estava em pé. Duas moças se ofereceram para segurar embrulhos de pessoas em pé. Uma pessoa ao lado dele começou a puxar conversa. Ele respondia com frases comuns, contando de uma vida comum.
Atrás de mim duas senhoras começaram a conversar. Ao lado as pessoas sentadas começaram a conversar.
Aqui começa a ser difícil de explicar. O que posso falar é um puta lugar comum. Só existia amor. O ar ficou leve. As pessoas conversavam felizes. Quando entrou uma velhinha, dois homens se levantaram para dar lugar.
Eu me sentia como em alguns sonhos que já não tenho faz tempo. Nesses sonhos eu ia a uma fazenda em uma ilha. Lá não existia medo, desconfiança ou raiva, só uma sensação de felicidade absoluta.
Era assim ali no ônibus. Quando saímos do túnel Catumbi- Laranjeiras ele disse ao motorista que ia descer, agradeceu a todo mundo pela conversa e pela carona.
Meu coração estava disparado. Pensei em descer, correr atrás dele e perguntar o que fazer da vida daí em diante.
Nah sua doida, você já foi hippie faz tempo. As respostas não estão com ele.
O ônibus andou. Olhei pela janela. No chão da pracinha, um monte de folhas e restos de legumes da feira que tinha acabado. E carneiros. Sim, carneiros. Muitos carneiros felizes, comendo as folhas no chão. Carneiros pastando no Catumbi. Não eram carneiros branquinhos de foto de catecismo. Estavam com a lã bem sujinha até.
Jesus tinha acabado de virar a esquina.”
História da Leila. Lindo não é não??
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Me conta mais desse texto… que coisa linda….
giselle_vix@hotmail.com
Abraço…