Harry Potter: “O” final

Harry Potter

Sábado é o grande dia, esperado pelos fãs agarrados pela escrita de J.K. Rowling ao londo de longuíssimos 10 anos. Quem de nós não gostaria que o intervalo entra cada livro fosse mais curto? Quem de nós não gostaria que a história nunca se acabasse?

Apesar do lançamento oficial só acontecer no próximo sábado, a velha máxima quem paga mais consegue mais continua valendo e já tem loja em New York vendendo o livro, que uma jornalista do New York Times fez questão de engolir.

Eu, thank’s God e a Livraria Cultura, vou colocar a mão no meu amanhã às 20:00h, quando a livraria fará uma cerimônia especial de abertura das caixas dos livros (que eu vi de longe ontem ao passar próximo à livraria) e não vejo a hora de descobrir o que vem agora.

A jornalista do New York Times, Michiko Kakutani, já escreveu sobr eo que leu, e o UOL fez o favor de traduzir para os assinantes. Você não é assinante? Leia abaixo:

“Pendências são resolvidas no ‘grand finale’ de Harry Potter

Michiko Kakutani

Então, finalmente aqui está: o confronto final entre Harry Potter, “O Garoto que Sobreviveu”, o “símbolo da esperança” tanto para o mundo de Wizard como para o de Muggle, e Lorde Voldemort, “Aquele Que Não Deve Ser Nomeado”, o abominável líder dos Comensais da Morte e candidato a controlador supremo. O bem versus o mal. O amor versus o ódio. O seeker (apanhador do jogo de quadribol) versus o Dark Lord.

O épico mágico e monumental de J.K. Rowling, que se desenrola há dez anos, está profundamente enraizado na literatura tradicional e nas sagas de Hollywood – dos mitos gregos a Dickens, de Tolkien a “Guerra nas Estrelas” – e, fiel às suas raízes, ele não termina com um equívoco modernista e açucarado, e sim com um bom e velho final: um confronto digno da tela grande, que causa palpitações e calafrios, e um epílogo que indica claramente os destinos dos personagens.

Chegar à última linha não é um processo muito fácil – a parte final do último livro traz algumas passagens tolas com explicações e uns desvios estranhos em relação à linha básica da estória -, mas a conclusão da série, de maneira geral, e a narrativa sobre os episódios referentes ao personagem principal são carregados de uma inevitabilidade convincente que faz com que algumas especulações que emergiram antes da publicação pareçam agora ser curiosamente obtusas.

Com cada lançamento, a série Potter foi se tornando mais e mais sombria, e este volume – do qual uma cópia foi adquirida em uma loja de Nova York na quarta-feira (18/07), embora o lançamento do livro esteja oficialmente marcado para o primeiro minuto da madrugada do próximo sábado – não se constitui em uma exceção. Embora a voz surpreendentemente ágil de Rowling ainda se mova sem esforço entre o sarcasmo adolescente de Ron e a seriedade crescente de Harry, da exuberância juvenil a um comedimento mais filosófico, “Harry Potter and the Deathly Hallows” (“Harry Potter e as Insígnias Mortais”) é, preponderantemente, um livro melancólico que marca a iniciação final de Harry nas complexidades e tristezas da vida adulta.

Desde os seus primeiros dias em Hogwarts, o garoto de olhos verdes suportou o fardo de ser o Escolhido, lidando com as expectativas e os atributos relativos ao seu papel, e neste volume ele é nitidamente mais um Henrique 5° do que um Príncipe Hal, mais um Rei Artur do que um jovem Wart: os disputados jogos de quadribol dão lugar à guerra de verdade, e Harry muitas vezes deixa claro que desejaria não ser o líder real do movimento de resistência, arcando com responsabilidades terríveis, mas sim um adolescente comum – livre para cultivar o seu romance com Ginny Weasley e interagir com os amigos.

Harry já perdeu os pais, o padrinho Sirius e o professor Dumbledore (todos eles mentores que podem ter lhe transmitido ensinamentos), e neste volume as suas perdas se acumulam com uma velocidade enervante: pelo menos meia dúzia de personagens que nós conhecemos morrem nesta páginas, e vários outros ficam feridos ou são torturados. Voldemort e os seus seguidores infiltraram-se em Hogwarts e no Ministério da Mágica, provocando caos e terror tanto no mundo Wizard quanto no Muggle, e os membros de várias populações – incluindo elfos, gnomos e centauros – escolhem um dos lados.

Não é de se admirar que Harry muitas vezes dê a impressão de não estar suportando a desilusão e a dúvida nos episódios finais deste romance educacional em sete volumes. Harry continua lutando para controlar o seu temperamento, e quando, em companhia de Ron e Hermione, procura os desaparecidos Horcruxes (objetos mágicos secretos nos quais Voldemort ocultou partes da sua alma; objetos que Harry precisa destruir caso espere matar o senhor do mal), ele literalmente entra em uma floresta escura, na qual terá que lutar não só contra os Comensais da Morte, mas também contra as tentações representadas pelo excesso de confiança e a desesperança.

A esquisita conexão psíquica de Harry com Voldemort (simbolizada pela cicatriz em formato de raio que ele traz na testa, como resultado de um ataque do Dark Lord quando Harry era ainda bebê) parece também ter se tornado mais intensa, o que fornece a Harry pistas sobre as ações e o paradeiro de Voldemort, ainda que isso faça com que ele se sinta ainda mais atraído pelo lado escuro. Um dos pontos decisivos da trama diz respeito à decisão de Harry de continuar procurando pelos Horcruxes – a missão que lhe foi designada pelo falecido Dumbledore – ou, em vez disso, ir atrás dos três objetos mágicos conhecidos como Hallows, que, segundo se acredita, confeririam a quem os possuísse o domínio sobre a Morte.

A jornada de Harry o empurrará em frente rumo a um enfrentamento final com o seu arquiinimigo, e também o enviará de volta ao passado, para a casa em Godric’s Hollow na qual os seus pais morreram, a fim de aprender a respeito da sua própria história familiar e da igualmente misteriosa história da família de Dumbledore. Ao mesmo tempo, ele será obrigado a se decidir entre fraternidade e independência, livre arbítrio e destino, e a chegar a um acordo quanto às suas fraquezas e as fragilidades dos outros.

As ambigüidades são muitas no decorrer de “The Deathly Hallows”. O livro nos faz ver que o gentil Dumbledore, o sinistro Severus Snape e talvez até mesmo o terrível primo Muggle, Dudley Dursley, podem ser mais complicados do que pareciam ser inicialmente, que todos eles, assim como o próprio Harry, tem facetas ocultas de personalidade, e que a escolha – mais do que o talento ou a predisposição – é o que mais importa.

Um mérito de Rowling nesta série é o fato de ela conseguir fazer de Harry tanto um adolescente familiar – enfrentando as frustrações banais vinculadas à escola e aos namoros – e um herói épico, semelhante a outros como o jovem Rei Artur, o Homem-Aranha e Luke Skywalker. Este mesmo talento permitiu a ela criar uma narrativa que mistura sem dificuldades alusões a Homero, Milton, Shakespeare e Kafka, e piadas infantis a respeito de doces com sabor de vômito. Uma narrativa que funde uma pletora de gêneros (como o romance de internato, a estória de detetive e a busca épica) em um enredo que poderia ser um exemplo principal em uma pesquisa de Joseph Campbell sobre os arquétipos míticos.

Ao fazer tal coisa, J.K. Rowling criou um mundo tão detalhado quando Oz, de L. Frank Baum, ou a Terra Média, de J.R.R. Tolkien, um mundo imaginado com tantas minúcias no que diz respeito à sua história e aos seus rituais e regras, que se constitui em um universo alternativo – e isso pode ser um dos motivos pelos quais os livros de Potter contam com tantos fãs apaixonados e comentaristas fervorosos.

Com este livro final, o leitor descobre que pequenos incidentes e fatos de somenos importância dos livros anteriores (ocultos em meio a uma grande quantidade de distrações) criam uma trilha de pistas para o roteiro, e que Rowling reuniu as peças deste longo quebra-cabeças com a engenhosidade e o ardor de um Dickens. Objetos e feitiços dos livros iniciais – como o manto da invisibilidade, a Poção Polissuco, o Pensieve de Dumbledore e a motocicleta voadora de Sirius – desempenharão papéis importantes neste volume, e personagens encontrados anteriormente, como o elfo doméstico Dobby e Ollivander, o fabricante de varinhas mágicas, também ressurgirão.

O mundo de Harry Potter é um lugar no qual o mundano e o maravilhoso, o comum e o surreal, coexistem. É um local onde carros voam e corujas são capazes de entregar correspondências, um mundo no qual os quadros falam e um espelho reflete os desejos mais ocultos das pessoas. E é também um lugar totalmente reconhecível para os leitores, um local onde a morte e as catástrofes do cotidiano são inevitáveis e as vidas das pessoas são definidas por amor, perda e esperança – da mesma maneira que no nosso próprio mundo mortal.

Tradução: UOL”

Link: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/07/19/ult574u7595.jhtm

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

Deixe uma resposta