Cinema: Os Invísiveis

No ano de 1935, quando as primeiras leis contra os judeus foram aprovadas na Alemanha, aproximadamente nove milhões de judeus residiam na Europa. Quando a guerra chega ao seu final apenas um terço deles havia sobrevivido, sendo que mais de um milhão de crianças e dois mulheres morreram.

Em fevereiro de 1943 o Partido Nacional-Socialista declararia que a
capital do Reich estava “livre de judeus”. No entanto, entre os habitantes da cidade, aproximadamente 7.000 de judeus se escondiam dos olhos do exército alemão e daqueles que poderiam entregá-los para a morte.

1.700 deles viveriam o bastante para ver a vitória dos aliados e retomaram de alguma forma suas vidas, muitas vezes completamente sozinhos.

Os Invisíveis, produção alemã que chegou apos cinemas na semana passada com distribuição A2 e Mares Filmes, conta a história de quatro destes sobreviventes intercalando dramatização de depoimentos.

Hanni Lévy  (Alice Dwyer) tinha apenas 17 anos quando perdeu seus pais e se viu sozinha e perseguida. Com seus olhos e pele clara, conseguiu a ajuda de uma antiga amiga da família para tingir os cabelos e passava seus dias caminhando ao longo da famosa avenida Ku’damm para passar o tempo. Muitas vezes dorme em banheiros públicos e vai a várias sessões de cinema para fugir do frio.

Já Cioma Schönhaus (Max Mauff) descobre que seu talento para arte pode lhe garantir um lugar para ficar e dinheiro, desde que ele ajude a rede clandestina como falsificador de passaportes para outros judeus em fuga.

Ruth Arndt (Ruby O. Fee) se passa por uma viúva de guerra e consegue um emprego como empregada na casa de um oficial nazista – que sabe a verdade sobre ela, mas nada fala – servindo comidas do mercado negro para outros oficiais.

Eugen Friede (Aaron Altaras) tinha a seu favor um padastro católico e uma mãe convertida, mas a medida que o cerco se fechava ele foi obrigado a mudar de casa em casa, algumas vezes temendo que crianças denunciassem seus próprios pais por protegê-lo, até que se junta a um grupo de resistência distribuindo folhetos anti-nazistas.

Enquanto a dramatização nos mostra como conseguiram escapar diariamente da possibilidade de serem descobertos, os depoimentos nos contam sobre as pessoas perdidas, as dores sofridas, a fome, o frio e o terror – o medo constante que os impulsionava a frente, mas que também não lhes deixava dormir.

O que poderia ser um defeito, ao intercalar o filme com os depoimentos destes sobreviventes, Os Invisíveis nos chama para uma conversa sincera e dolorida, emociona sem se tornar piegas porque, nas vozes presentes, entendemos a força que moveu estes personagens e entendemos como eles puderam ser os heróis de suas próprias histórias.

Provavelmente passará um tanto escondido nos cinemas – ainda mais considerando que divide a atenção com grandes lançamentos como Venom e Pé Pequeno – mas que eu espero que seja descoberto por muita gente quando ao streaming.

 

Tendo estreado nos cinemas brasileiros na última quinta, dia 04 de outubro, o drama Os Invisíveis (Die Unsichtbaren | The Invisibles), do cineasta e roteirista Claus Räfle e estrelado por Max Mauff (Ponte dos Espiões e do seriadoSense8),  foi um dos destaques da programação do 22º Festival de Cinema Judaico de São Paulo deste ano.

DIREÇÃO: Claus Räfle
ELENCO: Max Mauff, Alice Dwyer, Ruby O. Fee, Aaron Altaras, Victoria
Schulz, Florian Lukas, Andreas Schmidt, Hans Winkler, Sergej Moya
PAÍS/ANO DE PRODUÇÃO: Alemanha/2017
GÊNERO: Drama/História/Biografia
MINUTAGEM: 110 minutos, aproximadamente
DATA DE ESTREIA: 06 de outubro de 2018

Com distribuição da A2 Filmes e Mares Filmes, o filme chega aos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Recife, Salvador, Vitória, Barueri, Jab Guararapes e Teresina.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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