Cinema: Todo Dia

E se todas as manhãs  você despertasse em um corpo diferente, quais escolhas você faria? Aproveitaria que amanhã não estaria mais ali e faria loucuras?

A. (interpretado por diversos atores e atrizes neste longa) decidiu que tornaria este único dia o menos complicado, deixando o mínimo de marcas ou lembranças, não mudando nada de realmente importante. Isso até conhecer Rhiannon (Angourie Rice), uma garota de 16 anos de Baltimore.

Esta é a história de Todo Dia, longa em que Jesse Andrews adapta para as telas o best-seller de mesmo nome de David Levithan (parceiro de John Green no excelente Will & Will).

A. não sabe porque isso acontece com ele, nem se existem outros iguais a ele, o que ele sabe é que ele quer mais que apenas um dia com Rhiannon, o maior problema é fazê-la acreditar e entender essa sua estranha realidade – ainda mais considerando que ele não faz ideia de em que corpo acordará no dia seguinte, garoto ou garota, qual etnia ou tamanho. A única certeza é esse olhar doce que ele tem sobre a vida.

Dizer que Todo Dia é apenas um romance adolescente é simplificar demais as muitas reflexões que sua história nos causa. A grande verdade é que a situação é tão irreal que é impossível imaginar seu desfecho ao mesmo tempo em que os dois personagens conseguem mostrar na prática a ideia de tornar pequenos momentos significativos.

Boa parte da trama funciona graças a Rhiannon de Angourie: ainda que tudo pareça absurdo e ela esteja convivendo com uma situação bastante difícil em casa – seu pai teve um colapso e ela ainda não conseguiu lidar com as consequências -, ela transmite uma serenidade toda dela, ainda que nunca deixe de ser uma adolescente a procura de seu próprio caminho.

Seu caminho cruza com o de A. quando este acorda no corpo de seu namorado e acaba lhe dando um dia mágico (bem diferente do que o egoísta normalmente daria). A., por seu lado, não consegue ficar indiferente e faz de tudo (como viajar horas) para retornar até ela nos dias subsequentes.

E aqui entra o mérito do livro e da adaptação: a naturalidade com que Rhiannon passa a aceitar sua relação com aquela alma em diferentes corpos poderia soar absurda, ao invés disso apenas embarcamos naquela viagem em uma torcida enorme para que o casal encontre uma forma de fazer as coisas funcionarem.

Ainda: o filme conta com ótimos momentos de humor, referências a filmes conhecidos em que trocas de corpos aconteceram e consegue usar a situação para falar de forma natural sobre identidade (seja pessoal, seja de gênero). Seu final, no entanto, pode parecer abrupto, nos deixando com aquela frustração de querer saber aonde essa história seria levada além (e David Levhitan deve publicar a continuação ainda neste ano).

Todo Dia (Everyday) chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, dia 12 de julho e conta com participação do garoto trans Ian Alexander (da série de ficção científica da Netflix: The AO). A produção tem distribuição nacional Paris Filmes.

Ficha técnica
Direção: Michael Sucsy
Roteiro: Jesse Andrews, David Levithan
Elenco: Angourie Rice, Justice Smith, Jeni Ross, Lucas Jade Zumann, Rory McDonald, Katie Douglas, Jacob Batalon, Ian Alexander, Sean Jones, Colin Ford, Jake Sim, Nicole Law
Gênero: Drama | Romance

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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