Cinema: Dona Flor e Seus Dois Maridos

Uma das histórias mais icônicas da cultura brasileira está de volta com nova roupagem para a apreciação do público. Com estreia nacional prevista para 07 de dezembro (quinta-feira), chega as telonas “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a mais nova versão cinematográfica do romance homônimo de Jorge Amado.

Sem a pretensão de se equiparar ao clássico filme de 1976 com Mauro Mendonça, Sônia Braga e José Wilker,  a versão 2017 trazida pelo diretor Pedro Vasconcelos não é um remake: tem o livro como  base, fugindo de eventuais comparações com antigas versões para TV ou cinema. Não há roteiro escrito, a não ser que se considere o do próprio autor: o filme segue cenas e diálogos ipsis litteris do livro, em um recorte bem montado que não deixa margem para invencionices.

Focando apenas no núcleo de Dona Flor e deixando de lado as tramas paralelas do livro, são muitos os acertos ao trazer novamente à tona a história da mulher que precisa escolher entre seu desejo e  a moral que a sociedade impõe. Um debate mais do que oportuno, à luz do momento atual que vivemos, onde o empoderamento feminino é uma pauta diária, o dilema de Dona Flor ganha novo sentido.

Se nos anos 70 a impressão era a de que “nunca houve uma mulher como Dona Flor” e se via em sua ousadia algo de ficcional e místico, hoje a visão que temos é de que “somos todas Dona Flor”. Afinal, que mulher não deseja poder ter tudo em um relacionamento: amor, paixão, desejo, apoio, carinho? Buscando isso no marido morto e no marido vivo, Dona Flor é a alegoria da mulher de hoje, que não aceita pouco de seus relacionamentos e busca sempre a completude de suas vontades. Sem concessões.

Uma mulher ter desejo sexual não deveria ser visto como algo condenável ou de outro mundo e, de fato, esse é quem sabe o maior trunfo do filme de Pedro Vasconcelos: a nova Dona Flor, embora pareça a mesma que já conhecemos de décadas passadas, surge com novo vigor e fala diretamente conosco e com nossos desejos. Claro, é mérito só de Jorge Amado criar uma história assim que, passados mais de trinta anos de seu lançamento, ainda permanece atual. No entanto, é preciso dar o devido crédito à equipe que trouxe a história à vida novamente dessa vez. Pedro Vasconcelos, com extensa carreira no teatro e TV, cuida de toda a poesia e das cores quentes da trama, dirigindo com amor e cuidado que lhe é particular dado sua relação íntima com a história: ele dirige “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a peça, há mais de uma década no teatro.

O trio que dá vida ao triângulo amoroso sobrenatural também é impecável. Juliana Paes, com seu carisma e beleza inquestionável, é a Dona Flor perfeita em seus medos e vontades. Marcelo Faria, que interpreta Vadinho também no teatro na peça de Vasconcelos, surge magnético e apaixonante, arrancando sorrisos e suspiros a cada cena. E até Leandro Hassum, rosto fácil da comédia pastelão e enlatada, está mais do que bem ao trazer um Teodoro todo perfeitinho e cômico na medida certa.

Na coletiva de imprensa, o diretor Pedro Vasconcelos afirmou que sua intenção com o filme é trazer um produto de qualidade e com alto poder popularesco. Uma história que cative o público por seu apelo e que com sua qualidade o faça ir atrás de mais cultura. Segundo ele, se o filme fizer o espectador correr atrás do livro para achar cada uma das cenas (e vai achar), seu trabalho está mais do que bem feito. Dado o que vemos entregue na telona, não é difícil acreditar que seu objetivo foi cumprido: ao ver Dona Flor novamente, nos apaixonamos mais uma vez por ela, por sua força e por sua história e é inevitável querer mais, seja relendo o livro, seja revendo o filme em questão ou seus anteriores.

Com produção de Marcelo Faria e Marcello Ludwig Maia, o filme tem a produção assinada pela Reginaldo Farias Produções Artísticas e co-produção República Pureza Filmes e FV Produções. Os distribuidores são Paris Filmes e Downtown Filmes. Dirigida por Pedro Vasconcelos, traz ainda no elenco Nívea Maria, Fabio Lago, Cassiano Carneiro, Duda Ribeiro, Ana Paula Bouzas. Após pré-estreia exclusiva na Bahia em 02 de novembro, a estreia nacional está prevista para o dia 07 de dezembro.

Observação: Anteriormente a estreia estava prevista para 23 de novembro.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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