Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola ensina o que um filme não deve ter

Eu já disse aqui mesmo que 2017 está sendo um ótimo ano para o cinema nacional, não é verdade? Continuo defendendo isso, mas a gente também tem sempre aquele filme que é a exceção a regra e, neste caso, a exceção não poderia ser mais exceção do que é.

Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola é um filme inspirado no livro homônimo de Danilo Gentili, que tem estreia neste 12 de outubro. Produzido pela Clube Filmes, com co-produção da Warner Bros. Pictures e distribuição Paris Filmes e Downtown Filmes, o longa dirigido por Fabrício Bittar reúne os atores Joana Fomm, Raul Gazolla e Rogério Skylab.

Gentili também protagoniza o longa ao lado do novato Daniel Pimentel. Daniel interpreta Pedro, menino que após a morte do pai vê suas notas despencarem e tendo que tirar 10 em sua última prova resolve apelar para aquele que seria o “pior aluno da escola” e deixou escondido em um banheiro da mesma escola um caderno em que conta seus feitos.

Quem acompanha Pedro na missão de encontrar o pior aluno da escola é Bernardo (Bruno Munhoz), amigo todo certinho que sonha um dia estudar medicina.

Gentili, claro, é o tal pior aluno, que “tocou o terror” em seus tempos de alunos e que hoje vive bem, em teoria provando que não é preciso ser bom aluno para dar certo na vida – não fica claro como ele consegue levar a vida tão bem e, pelo número de golpes aplicados no longa, desconfiamos que não seja de forma honesta.

É preciso dizer que a parte inicial do filme funciona, de alguma forma remetendo a clássicos adolescentes como Porky’s, filme dos anos 80 que fazia contraponto as comédias mais certinhas como A Garota de Rosa Shock ao usar de humor besteirol e falando muito de sexo.

O problema é que aqui o roteiro perde a mão e tudo se torna um exagero: entre palavrões ou expressões de baixo calão, o público passa por cenas como a de Pedro vomitando no banheiro – a câmera se levanta e praticamente dá um close no resultado do ato – à em que se entende que Cristiano (personagem de Fábio Porchat) abusaria sexualmente dos meninos, sem dizer uma em que um garoto faz xixi na cara de outro. Próximo do final do filme ainda somos contemplados com cenas de luta entre o mentor, vestido apenas com um robe branco, e Pedro em que simplesmente coisas demais são mostradas. O resultado é um filme não recomendado para menores de 14 anos ao qual eu não deixaria minha filha de 14 assistir.

Sim, talvez seja eu que seja careta, segundo Gentili eu nem sou o público que ele busca: “O filme foi muito baseado na ‘Sessão da Tarde’, naquela época em que se fazia filmes para diversão, sem c*gar regra” 

Fato é que nenhuma dessas cenas consegue o riso solto que procuram. Ainda que muitos deem risada, o clima geral é de desconforto e a gente “ri de nervoso” – nunca entendi tão bem essa expressão. Cenas gratuitas que pretendem chocar sem que o roteiro realmente precise delas ou pelo menos ligadas a piadas que realmente funcionem.

Carlos Villagrán, marcado eternamento como o Quico do programa Chaves, acaba se destacando: distante do personagem que marcou sua carreira, ele aqui interpreta o diretor Ademar em uma inglória tentativa de tornar sua escola a melhor escola, sem episódios de bullying e disposto a inspirar seus alunos a mudarem o mundo. Sim, um personagem que é também exagerado, mas que funciona bem demais porque é aquele “quase” que já enxergamos em alguém na vida real.

Pedro e Bernardo também funcionam bem junto enquanto pregam peças nos colegas da escola, uma pena que isso fique em segundo plano.

Ao final a sensação é que o filme poderia funcionar não fosse a tentativa constante de Gentili em chocar as pessoas. Ou melhor, em transgredir por transgredir. Em verdade o comediante coloca no roteiro aquilo que tem praticado em sua vida pública: nesta semana ele resolveu pregar uma peça em Maisa Silva e deu a menina de apenas 15 anos uma caneca com vodka ao invés de água em seu programa de televisão. O Ministério Público de São Paulo e a Vara da Infância e Juventude não acharam graça e podem vir a processá-lo.

Direção: Fabrício Bittar
Elenco: Bruno Munhoz, Daniel Pimentel, Carlos Villagrán, Joana Fomm, Raul Gazolla, Moacyr Franco, Rogério Skylab e Danilo Gentili
Roteiro: Danilo Gentili, Fabrício Bittar e André Catarinacho
Argumento: Danilo Gentili e Fabrício Bittar

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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