Doidas e Santas leva, novamente, Martha Medeiros para a telona

Divã, primeiro livro de Martha Medeiros a ser adaptado (virou teatro, cinema e televisão), contava a história de uma mulher de 40 que resolve fazer análise e se liberta, quer descobrir quem realmente é e o que manda seu coração. O livro é muito bonito, isso ajuda bastante na transposição para um tela.

Doidas e Santas também é de Martha Medeiros, mas ao invés de uma história com começo, meio e fim, ele traz um apanhado de 100 crônicas a autora publicadas em um jornal do Rio Grande do Sul. Entre textos sobre o crescimento de sua filha, começos e fins de relacionamentos, um comentário sobre uma peça de teatro, outro sobre um show de jazz.

Assim como seu predecessor, primeiro foi adaptado para o teatro, e agora vira filme com roteiro de Paulo Tiago, com estreia nesta quinta, 24 de agosto, que transformou algumas das situações das crônicas na história de Beatriz (Maria Paula), uma psicanalista que se tornou um sucesso dos livros de auto-ajuda falando sobre casamentos, mas que em sua vida se sente estagnada.

O casamento está longe de ser amoroso, sua cabeça não escreve o novo livro, a filha está entrando na adolescência (auto-explicativo), a irmã maluca no Greenpeace e a mãe entra e sai do apartamento dela como se ainda morasse com a filha.

Recomeçar nunca é fácil, depois que atingimos algumas coisas na vida criar coragem para tanto é mais difícil ainda. Vivendo sua primeira protagonista, Maria Paula acerta no tom e consegue nos transmitir as incertezas de Beatriz, sua frustração, algo bastante diferente dos demais longas em que atuou.

Quando finalmente cria coragem para pedir a separação, Beatriz sente-se como quem caiu da bicicleta: sem saber o que fazer, como se divertir, como se sentir. Entram em cena a vizinha, Valéria (uma ótima Flávia Alessandra), e a irmã Berenice (Georgiana Góes), tentando fazer com que ela encontre seu caminho.

Em boa parte do filme ela contracena com Nicette Bruno, que interpreta uma maravilhosa Elda: bem resolvida, decidida a aproveitar a vida até o final, ela colore os dias da filha, se contrapondo a forma séria com que Beatriz enxerga a vida, como se cada dia lhe pesasse demais. E é impossível não ver que Nicette se divertiu demais com o projeto.

O problema do filme reside na irregularidade do roteiro, o que prova ser difícil amarrar as situações de diversas crônicas em apenas uma história sem que isso soe um tanto forçado, além de um tom envelhecido (machista até, que fica fora do lugar). O cenário de novela das nove e trinta não ajuda: um apartamento sem muita cara de lar, um Rio de Janeiro colorido e sem defeitos.

Uma co-produção com a Argentina, é em Buenos Aires que Beatriz e Berenice tem suas melhores e mais naturais cenas – além do achado que é o cantor de tango Juan Antonio. É confortante ver essa aproximação com o cinema argentino, que tanto amadureceu nos últimos anos.

Doidas e Santas positivamente foge do que vemos normalmente quando falamos de comédia nacional, na verdade eu diria que ela é uma dramédia, mas ainda carrega várias manias antiquadas. Ainda assim ele melhora em seu terço final, encontra ritmo e termina melhor do que começou.

 

Sinopse:
Beatriz (Maria Paula) é uma psicanalista em crise. Não está satisfeita com o trabalho, tem problemas de relacionamento com a filha adolescente (Luana Maia), a mãe um tanto doidinha (Nicette Bruno), a irmã ausente (Georgina Góes) e um marido (Marcelo Faria) que não a faz feliz. Decidida a mudar sua vida, Beatriz decide se separar do marido e dá novos rumos à sua vida com a ajuda da amiga Valéria (Flavia Alessandra). É hora de recomeçar e, para isso, ela tem que estar preparada para tudo.

O elenco ainda conta com a participação de  Thiago Fragoso, Samantha Schmutz, Priscila Fantin e Jonas Bloch. As filmagens foram realizadas no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, na Argentina. O filme participou do 7º Cine Fest Brasil – Buenos Aires e do 7º Cine Fest Brasil – Montevideo nos quais foi elogiado pelo público.

O filme é produzido pela Melodrama Filmes, com coprodução da MGR Films/Arco Libre, Telecine e Riofilme e distribuição da Imagem Filmes.

Ficha Técnica:

Duração: 95 minutos

Produtora: Gláucia Camargos

Diretor: Paulo Thiago

Roteiristas: Regiana Antonini,Claudia Gomes e Pedro Antonio

Produtoras Executivas: Heloisa Rezende,Victoria Aizenstat e Marina Valentini

Produtor de Elenco: Guilherme Gobbi

Trilha Sonora Original: Paulo Francisco Paes

Diretor de Fotografia: Antonio Luiz Soares

Som: José Moreau Louzeiro

Direção de Arte: Ula Schliemann

Figurino: Rô Nascimento

Editor: Rodrigo Séllos

Edição de Som: Damian Stavropulos e Javier Stavropulos

Mixagem: Javier Stavropulos

Pós-Produção: Rosangela Freitas

 

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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