Corra! traz trama de suspense intrigante

Surpreendente é o adjetivo que pode ser melhor aplicado ao filme Corra! – pela maneira inovadora ao falar de preconceito racial.

Mas engana-se quem pensa que o filme trata apenas sobre racismo. Ele também traz elementos de terror, suspense e de ficção científica, e tem uma estrutura muito semelhante às situações retratadas na série Black Mirror, ou nos filmes de David Cronenberg, onde questões relativas ao uso da ciência e tecnologia para fins não tão nobres são discutidos.

A trama começa de modo convencional e lembra muito o filme clássico Adivinhe quem vem para jantar (estrelado por Sidney Poitier): o casal inter-racial formado por Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) vai passar um fim de semana na casa da família dela, no interior.

A ideia é apresentá-lo aos pais da garota, um neurocirurgião (Bradley Whitford) e uma psiquiatra adepta das técnicas de hipnose (Catherine Keener). A princípio, Chris acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas, com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador.

A atmosfera criada por Peele prende o espectador dentro do filme fazendo-o paralisar-se diante de um excelente e cativante jogo psicológico. Todas as sequências de hipnose são claustrofóbicas, permitindo que o senso de perigo se estenda incrivelmente através de uma criativa idealização da sensação experimentada por Chris; e o diretor explora muito bem essa aproximação do protagonista para com o público. Conseguimos sentir o mesmo desconforto sentido pelo protagonista. Nossa vontade é correr e fugir daquele lugar.

A ideia que Corra! propõe é que quem pensa que o politicamente correto resolve qualquer parte que seja do preconceito, gosta de ser enganado. Pior: a correção política na verdade pode ser um ótimo jeito de camuflar um tipo de exploração mais sutil, mas muito mais danoso. Como o próprio cartaz do filme já diz: “Não é porque você foi convidado que você é bem vindo”.

Filmado no Alabama em apenas 28 dias, o filme contou com um orçamento de filme independente, estimado em US$ 4,5 milhões. Até o momento em que estou escrevendo este post, seu faturamento já superou os US$ 300 milhões.

Uma curiosidade: A ideia do roteiro veio de um stand up de Eddie Murphy contando como foi conhecer os pais brancos de sua namorada, que o diretor Jordan Peele assistiu e achou que poderia render uma boa história.

Corra! É um dos melhores filmes que você verá nos cinemas este ano.

Ah! E o final é impagável! Não perca!

P.S. Estivemos na pré-estreia a convite do Freakpop.

Direção: Jordan Peele

Roteiro: Jordan Peele

Produção: Jason Blum

Trilha Sonora: Michael Abels

 

Escrito por Carlos Miletic

Apaixonado por literatura e cinema, não resiste a um filme de terror, muito menos a um livro de mistério. John Wick é seu modelo e Stephen King o seu pastor.

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