Cinema: Assassin’s Creed (e um pouco sobre a mitologia dos jogos e sem spoilers)

A difícil missão de transpor para o cinema um jogo de videogame. Acho que essa frase explica bem a recepção fria que  Assassin’s Creed acabou tendo nos EUA – talvez o fato de várias cenas serem em espanhol e precisarem de legenda também não deve ter ajudado.

E isso é uma pena porque o filme te proporciona uma daquelas sessões pipoca deliciosas, com direito a um protagonista que é um charme.

Superficial. Este é um dos primeiros defeitos apontados pelos fãs da série de jogos e é fácil entendê-los, já que Assassin’s Creed tem uma mitologia muito própria e aqui apenas arranhamos o que ela é – e não, não é preciso ser louco pelo jogo ou ter lido os livros para curtir o filme.

Particularmente eu achei que o filme funcionou bem para introduzir o que é a mitologia dos jogos, primeiro porque ela é imensa e seria preciso um filme enorme para realmente explicar tudo – pense que são vários jogos e vários livros -, segundo porque a forma como o fizeram permite que quem nunca viu, leu, jogou, nada relacionado consiga embarcar na “viagem”.

A mitologia de Assassin’s Creed

O Credo dos Assassinos é um grupo que vive nas sombras, tão antigo quanto os Templários. A existência dos dois está ligada e este segundo, ao contrário de tudo que já lemos por aí, aqui é retratado como vilão da história.

Os Templários seriam, um grupo fanático religioso que tem interesse em dominar o mundo, fazer com que a igreja se infiltre em bancos, governos e empresas. Eles buscam por artefatos que lhes permitam isso e o Credo dos Assassinos protege estes artefatos.

No primeiro jogo um homem nos tempos atuais, Desmond, foge da comunidade em que vive e acaba sendo pego pela organização que controla a Abstergo, empresa para a qual ele é levado e onde, em uma máquina de nome Animus, ele acessa a memória de seus antepassados. É assim que Desmond se descobre descendente de uma linhagem muito importante do Credo dos Assassinos.

E é assim que entramos nos jogo. Quando Desmond está no Animus somos ele e enfrentamos os desafios que seus ancestrais enfrentaram.

Bom, e se eu disser para você que todos os parágrafos anteriores são apenas um resumo bem pequeno? Sim, os jogos vão além disso, passam por vários antepassados de Desmond e o próprio ainda enfrenta desafios na vida real, já que a medida que avança no passado de sua família ele mesmo adquire conhecimento e força e descobre que os Templários também estão por trás da Abstergo e querem usá-lo para encontrar os artefatos.

E eu nem falei dos livros…

Os livros Assassin’s Creed

Sim, o sucesso da saga levou a Ubisoft, apaixonada por sua obra, a investir em uma série de romances que misturam história, ficção e ação. O primeiro deles, que estou lendo atualmente, traz como protagonista Ezio Auditore, o ancestral de Desmond cujas lembranças ele acessa no Animus, e nos conta como ele descobriu pertencer ao Credo e os primeiros confrontos que enfrenta, primeiro ao tentar vingar a morte de seu pai e seus irmãos pelas mãos dos Templários, depois para impedir que estes dominem a Itália.

O filme Assassin’s Creed

O filme foi escrito por Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage, teve direção de Justin Kurzel e é estrelado por Michael Fassbender, que interpreta Callum Lynch e seu antepassado Aguilar de Nerha, e também atuou como produtor do longa. Ainda no elenco  Marion Cotillard, Jeremy Irons, Brendan Gleeson, Charlotte Rampling e Michael Kenneth Williams.

Callum Lynch viu sua mãe morta por seu pai antes que este o mandasse fugir de casa e ela fosse invadida por um grupo armado. Quando o reencontramos ele está prestes a receber a sentença de morte por injeção letal nos Estados Unidos. Porém ele acorda após o que seria sua morte e descobre que foi levado para uma instalação da corporação Abstergo Foundation localizada em Madri.

Sophia Rikkin (Cotillard) lhe explica, então, que quer contar com sua ajuda para localizar a Maçã do Éden, artefato que permitiria desligar a mutação genética que torna pessoas violentas. Callum seria o único descendente de Aguilar de Nerha, membro do Credo dos Assassinos que viveu na época da Inquisição espanhola e foi a última pessoa que se sabe ter a Maçã do Éden em suas mãos. Para acessar as memórias de Aguilar, Callum será colocada na máquina Animus (aqui uma versão mais moderna e complexa da vista nos jogos).

Porém, algo não cheira bem desde o início e percebemos que o pai de Sophia, Alan Rikkin (Irons), parece ter interesses bem mais pessoais no artefato e que a Maçã do Éden fará bem mais que simplesmente diminuir a violência. Com isso temos o filme dividido em duas linhas temporais: cada vez que Callum está no Animus vemos Aguilar e sua luta para proteger a Maçã e mantê-la longe das mãos dos Templários; quando está fora da máquina vemos Callum enfrentar a raiva que carrega dentro de si por seu pai e pelo Credo que ele nem conhece, mas que Alan faz com que ele acredite ter sido responsável pela morte de sua mãe e vemos, também, o funcionamento da Abstergo e somos apresentados a outros personagens.

Com a opção por novos personagens, exceção de Alan Rikkin, o filme se mantém fiel ao universo dos jogos, mas o expande, já que pouco sabemos sobre os antepassados de Callum Lynch.

A superficialidade que eu disse ter sido bastante apontada pelos críticos aparece quando mais não é explicado sobre a Maçã, o conflito entre Templários e Assassinos ou sobre o que é o Credo afinal, mas isso não causa “furos” na história, fazendo mais falta a quem já conhece tudo isso do que a quem não conhece.

Sem sombra de dúvidas as cenas que enchem nossos olhos são as da Espanha de Aguilar. São nelas que vemos as lutas e perseguições características dos jogos, com tomadas aéreas belíssimas acompanhadas sempre da presença de uma águia de braços abertos (detalhe pensado para os fãs dos jogos), e lutas bem ensaiadas e empolgantes.

Os poucos efeitos especiais – o que significou um belo grupo de dublês em ação, ainda que Fassbender tenha afirmado só tendo usado  quando realmente necessário, afinal seu seguro não deve ser nada barato para a produção – acabam por valorizar o conjunto.

A trilha sonora também se sai muito bem – o que foi um alívio depois da escolha equivocada da música utilizada no primeiro trailer do filme – e rola até uma vontade de sair pulando cadeiras no cinema.

Mas sim, o filme tem defeitos, sendo o ritmo e o final simples os que mais marcantes. Tanto um como outro acontecem pelo mesmo motivo: na necessidade de economizar tempo, algumas situações e atitudes dos personagens ficam sem sentido, como se um pedaço da história que explicaria isso tivesse ficado faltando.

Além disso, depois de um filme recheado de cenas de ação deliciosas, você espera um final a altura e ele deixa a desejar – existe uma conclusão, mas a forma que ela acontece é simples. Repeti a palavra simples porque não consigo achar outro adjetivo, ele não é ruim, ele não é incompleta, mas ele merecia mais.

Talvez simplesmente exista tanto para ser contado que seria preciso um filme muito longo ou dois filmes para contar essas histórias e isso poderia ser arriscado demais? Eu apostaria minhas fichas nisso. E na incerteza de que se o filme tivesse menos das cenas na Espanha ou se tivesse mais delas e menos conflito no tempo atual o público também reclamasse.

Só que os defeitos não comprometem o filme de maneira nenhuma. Assassin’s Creed é um filme de ação divertido, um protagonista dando show, com sequências empolgantes, trilha caprichada e fotografia deslumbrante. E eu nem falei do quanto a Espanha está maravilhosa na tela. Ele diverte quem nunca ouvir falar na saga e ainda entrega vários eastereggs para quem é fã dela.

Estou aqui na torcida para que a bilheteria internacional dele seja boa e assim a gente possa aproveitar o número 2.

P.S. Gostou do filme e quer saber mais sobre o jogo e os livros? Recomendo muito este artigo aqui.

P.S. do P.S. Mais motivos para ver Assassin’s Creed? Aqui, óh.

P.S. do P.S. O batom usado por Marion Cotillard no filme é simplesmente MARAVILHOSO. Agradeço a quem puder me informar que tom é ele – estou apostando minhas fichas de que seja um MAC.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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