Grey’s Anatomy: It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding) (12×19)

Em meu texto sobre Chicago Med eu disse que voltaria ao assunto “médicos não respeitando a ordem de não ressuscitar” nesta aqui, então aqui vamos: Bailey é uma das personagens menos bem aproveitadas em Grey’s Anatomy. Começou sendo a nazista de bom coração que ensinaria aos nossos estudantes da época sobre vida e morte dentro de um hospital.

Teve um filho, passou por uma difícil separação, foi forte quando ninguém mais foi, mas então foi um tanto deixada de lado. Nem mesmo na disputa para ser a nova chefe cirúrgica a coisa foi a favor dela – lembram da candidata hiper perfeita que colocaram para disputar com ela, tirando seu brilho? – e ela acabou, então, servindo de escada para as tramas mais importantes das últimas temporadas.

Pois então temos Bailey no centro do palco e o resultado talvez não tenha ficado tão bom quanto ela merecia.

Bailey é confrontada com a escolha impossível: precisa decidir se o que seu marido fez ao ficar preso em um corredor com uma paciente crítica foi loucura ou foi necessária. Numa demonstração de maturidade ela pede que três de seus colegas façam este julgamento por ela, ao reconhecer que ela não poderia ser imparcial.

A cena que encerra o episódio anterior é vista e revista: a porta do elevador se abre e Ben corta a barriga da paciente para uma cesárea. A palavra final de Ben foi eficiente em nos lembrar que quando você está numa situação como essa você é capaz de não ver nada em volta de você e que por isso ele não viu a porta se abrir.

Tanto convence a todos que Owen, Meredith e Maggie concordam em dizer que ele não viu a porta se abrir. Mas incomoda à Bailey, e a mim, o fato de Ben parecer o tempo todo indiferente ao destino das outras duas personagens desta história: a mãe e a bebê que acabaram falecendo.

Sejamos honestos: talvez esta nossa impressão seja porque de novo ele está em uma situação impossível. Se ele demonstrar culpa, o que acontece com seu futuro na profissão?

Bailey, que enquanto isso está convivendo com as consequências do ato do marido, acaba ressuscitando o pai das crianças, ainda que a placa do DNR (não ressuscitar) esteja ali pendurado, vermelho, no monitor de dados cardiológicos. O que ela pensava ali? Foi de imaginar aquelas crianças sem pai e sem mãe? Foi para expiar a culpa que o marido devia sentir mas não sente?

Bailey fez algo que não devia ter feito. Um milagre acontece, talvez a única coisa boa que aconteceu para Bailey nos últimos dias, mas isto não deveria mudar o fato de que ela fez algo que não devia e que ela não sofrerá qualquer recriminação por isto.

Assim como em Chicago Med eu sinto no roteiro uma inclinação a me dizer que fazer algo assim não é tão errado porque podem existir boas consequências, mas me incomoda o fato de uma vontade não ser respeitada – ainda que aqui não tenha sido o paciente a decidir isso – e, mais ainda, o fato de que aqui, menos que lá, a decisão tenha sido mais egoísta do que transparece. Bailey está tentando se sentir um pouco melhor, diminuir as perdas, o homem sobrevive apenas como efeito colateral.

Grey's Anatomy It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding) (12x19) s12e19

E eu acho que ela também sabe disso, o que resulta numa talvez exagerada punição para Ben: seis meses de suspensão do programa. Para ele, que já entrou mais tarde do que os demais na faculdade, isso pode ter um peso que ele não conseguirá compensar nunca mais? Talvez. Talvez seja a diferença entre ser um cirurgião sensacional e apenas mais um cirurgião, mas ele precisa lidar com isso.

E culpar Bailey não é a forma correta dele fazê-lo. Ben me pareceu ainda mais imaturo e pequeno em sua reação, principalmente por ser incapaz de enxergar como Bailey está afetada por tudo isso – o que ela está sentindo e, não menos importante, como ela estará sendo observada.

P.S. April e Jackson: Zzzzzzzzzzzzzzzzz Só eu achei que o bebê começou a se mexer cedo demais? Well, ao que parece caminhamos para os dois se entendendo e, afff, eca.

P.S. do P.S. Arizona e Callie. Gente, nem sei por onde começar. Callie não amadureceu um tiquinho que fosse desde que embarcou na relação não correspondida com Georgie. Ela não consegue ficar sozinha e ela não consegue enxergar as consequências de seus atos. Tudo bem, o silêncio de Arizona no momento em que Callie dá a notícia é inexplicável – primeiro a briga, depois processo judicial, certo? -, mas como assim “vou levar sua filha pro outro lado do país, mas são só 6 horas de avião mesmo”?

P.S. do P.S. do P.S. Owen e Riggs: por favor, simplesmente parem de alimentar essa trama infeliz. Vamos superar tudo isso pessoal.

 

 

 

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

1 comentário


  1. Sensacional texto! Sabe que eu nem tinha reparado na atitude da Bailer nesse episódio? Estava preocupada com o Ben e a suspensão… e não percebi o egoísmo d Bailey, que você tão bem destacou aqui!

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