Coleção Vaga-Lume, amor eterno, amor verdadeiro

Eu fui a primeira devoradora de livros da família. Diremos então, que o pessoal não sabia ao certo como lidar comigo: eu herdava todos os livros dos primos mais velhos, o que me fez ler Christiane F. bem antes de ter idade para tanto e devorar um livro sobre história antiga para segundo grau, o ensino médio de hoje em dia, como se fosse literatura fantástica.

Do irmão quatro anos mais velho vieram os exemplares da Coleção Vaga-Lume – não lembro se cheguei a fazer os resumos por ele também, mas desconfio que sim – que ele precisava ler para a escola e que eu lia por gosto e com gosto.

A Borboleta Atíria, A Ilha Perdida, O Escaravelho do Diabo, Éramos Seis.

O Mistério do Cinco Estrelas viraria favorito para a vida, assim como qualquer livro do Marcos Rey, e tornaria o gênero policial/investigativo o meu preferido em literatura, séries e filmes. A história do office boy do hotel de luxo que morava na Bela Vista e que andava pelas mesmas ruas de São Paulo que eu me encantava, acho que foi um dos primeiros a fazer com que eu me sentisse a protagonista da história.

Semanalmente eu tinha direito a uma cota de dois livros, comprados às quartas ou quintas quando minha mãe e tias seguiam para o Shopping Center Norte para tomar café no Café do Ponto. Eles eram escolhidos cuidadosamente, mas dificilmente duravam além da sexta.

Tendo ainda uma semana inteira a frente sem que eu tivesse um livro novo para cheirar e ler eu lia, relia, “trelia” os que eu tinha em casa e devo dizer que poucos se prestavam tão bem a este trabalho quanto aos da Coleção.

Cheguei a decorar todos os livros da coleção, revia mentalmente meus momentos preferidos. Os guardava em um armário baixo em meu quarto junto de outros comprados em um sebo no centro de São Sebastião durante as férias de todos os anos – o sebo ficava pertinho de uma padaria em que meus pais compravam a mortadela e os pães franceses que segurariam a fome enquanto ficávamos em Toque-toque ou Guaecá para que meu pai pescasse.

serie vagalume o caso da borboleta atíriaMarçal Aquino, da segunda leva de livros da coleção, também ganharia meu coração com aventuras em outros países da América Latina.

Aprendi sobre a história de São Paulo, descobri o que era a profissão de continuista, aprendi sobre borboletas com asas de coruja, as pedras preciosas de Minas Gerais, sobre times de vôlei juvenis e Machu Picchu, um repórter em início de carreira, sobre exílio em tempos da Ditadura e sobre uma usina nos confins do nordeste brasileiro.

Ainda guardo alguns exemplares, judiados, lombadas partidas, folhas amareladas, quando não manchadas de forma a se tornarem quase imprestáveis. Esperam pela promessa de que um dia eu os lerei de novo.

Ou nunca. A grande verdade é que deixaram em mim as minhas mais queridas lembranças de infância. Foram a companhia de uma menina bastante sozinha e que quase não saia de casa.

Então, mesmo que não sejam relidos, já são parte de mim.

P.S. Esse texto foi inspirado por este texto aqui do Estante Virtual.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

5 Comentários


  1. “A Borboleta Atíria, A Ilha Perdida, O Escaravelho do Diabo, Éramos Seis”:
    acertou os meus preferidos \o/
    também amo “O Feijão e o Sonho” =)
    coleção vaga-lume foi a minha melhor amiga hehe
    muita emoção esse post!
    =**

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  2. Recentemente vi nas prateleiras da Saraiva três títulos da Coleção Vaga-lume, não lembro quais, espero, torço pra que tenha o mesmo sucesso de outrora. Que minha filha, que adora ler, aprecie também . ???

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  3. Me mudei faz pouco tempo e, na mudança, fui caçar no fundo de caixa de mil anos meu exemplar surrado do Caso da Borboleta Atíria. Minha mãe dizendo que tinha certeza que eu tinha jogado fora e eu teimando que DE JEITO NENHUM, JAMAIS JOAGARIA, TÁ AQUI!

    E estava! Velhinho, amarelo, meio se despedaçando, mas foi comigo pra casa nova!

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