Hannibal: Secondo (3×03)

Podemos considerar Secondo propriamente o início da refeição, depois do antepasto e da leva salada da abertura. E se, na culinária italiana, ele normalmente se refere ao preparo de uma carne, bem, os roteiristas não economizaram neste item.

Ele também foi um episódio dividido em três partes: Hannibal “digerindo” o perdão que Will lhe concedeu; Will indo à Lituânia, talvez tentando conseguir mais informações que lhe permitam pegar o canibal; e Jack, retornando vivo, na Itália a procura não de Hannibal, mas de Will.

Vejam que são três partes, mas Will está de alguma forma presente em todas elas.

Começando por Jack, a trama mais curta e mais simples, vemos que ele entende ser culpado pelo que aconteceu a Will. Se nas duas temporadas anteriores ele não pareceu ter tantas preocupações assim do uso que fazia de Will, ao contrário de Alana, aqui ele deixa claro saber de sua responsabilidade.

Ele foi longe demais, quer “curar” Will, mas não sabe se isso será possível.

Esse Will que Jack já não reconhece tem uma vantagem tremenda sobre o anterior: se nos perguntávamos até onde Will iria antes de quebrar, ele nos prova ter quebrado e ter se reconstruído de outra forma.

Se ele se entregou inteiramente à Hannibal, agora quer saber tudo sobre Hannibal, usar das mesmas ferramentas para pegá-lo. E é por isso que ele vai à Lituânia, à antiga casa do canibal.

No livro Hannibal – A Origem do Mal, tal castelo teria sido perdido pela família Lecter por conta da guerra. Nele o pequeno menino teria se transformado em um canibal por causa da maldade humana – e eu não gosto da justificativa, porque acho que tentam disfarçar a triste realidade de que a maldade existe no mundo e pronto, não precisa ser motivada – e que a perda de sua irmã representaria a perda de seu lado humano.

Aqui, saem os vilões da guerra e temos o próprio Hannibal se alimentando de sua irmã – e Bedelia não hesita em perguntar qual gosto ela tinha -, mas culpando outra pessoa.

Will encontra na Lituânia Chiyoh, que demonstra conhecer a maldade de Hannibal, mas num nível diferente do dele. Ela acredita ter o assassino de Mischa, irmã de Hannibal, preso porque ele lhe disse isso, mas a presença de Will e o fato dele libertar o prisioneiro acaba fazendo com que ela tenha de enfrentar a verdade.

Will que liberta o prisioneiro e nãos e surpreende pelo fato dele preferir tentar matar Chiyoh a fugir dali. Ao que parece ele realmente atingiu um nível diferente de entendimento dos instintos humanos.

E é esse Will modificado que entrega o perdão à Hannibal. Tal perdão incomoda tanto Hannibal que Bedelia não hesita em exercer o papel de psicóloga ou “consciência” do assassino ao longo do episódio, perde a inibição de tal forma que diz com todas as letras que ela escapará sem ele se eles chegarem perto demais.

Principalmente porque Hannibal está fazendo de tudo para que Jack e Will e mesmo os policiais italianos cheguem perto demais: mais um professor morto.

Uma cena que me fez pensar aonde Fuller foi capaz de nos levar, porque tenho a certeza de que você, como eu, riu quando Hannibal enfia o furador na cabeça do professor e, depois, quando ele fala que, tecnicamente, foi Bedelia que o matou ao tirar o furador e assim calar o homem delirante.

Estaria Hannibal se sentindo tão onipotente e com a certeza de que ninguém poderá pegá-lo? Ou apenas ele está cedendo ao mesmo instinto do prisioneiro de Chiyoh e sua vingança com relação a Will é a única coisa que importa?

Hannibal Secondo 3x03 s03e03 review resenha

P.S. Gostaria de saber se mais alguém ficou incomodado com a escuridão deste episódio: eu, que sempre elogiei a fotografia e estética da série, fiquei muito desconfortável por não conseguir ver claramente muitos dos cenários, principalmente na Lituânia. Proposital? Ocasional? Eu acredito que em parte proposital, mas talvez tenham errado a dose.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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