Consuma diferente e mude um pouquinho o mundo

Acho que mudar não é bem o termo, porque na verdade o que eu quero é resgatar algumas coisas que acreditam estar perdidas.

Ontem o Projeto Draft – lá você encontra artigos sobre empreendedorismo e criatividade no Brasil – publicou um artigo falando sobre a Beth Bakery. Quem me segue no Instagram ou Twitter já conhece a Beth, ou melhor, conhece os pães da Beth, que eu fotografo semana a semana tamanha a alegria de ver tanta coisa gostosa chegando na minha casa.

A Beth Bakery é uma padaria artesanal que funciona no sistema de delivery: de segunda a quarta você acessa o site, escolhe o que quer comprar, paga e na sexta recebe em sua casa tudo fresquinho. Pães deliciosos que durarão por uma semana inteira.

A pequena empresa tem algo mais que eu adoro: a cara de sua dona, de quem você se sente amiga assim que o primeiro e-mail de confirmação da compra chega em sua caixa postal.

Alegria que eu também sinto quando o seu Manuel da padaria perto de casa brinca com o fato de eu ter perdido a hora no sábado pela manhã, do pessoal da perfumaria duas quadras depois que me liga para avisar que chegou um produto que eu gosto, do moço da banca de queijos da feira guardar um queijo branco mesmo quando eu chego por lá mais tarde… Ou do pessoal do armarinho da avenida ou o jornaleiro lembrarem de quando a Carol era apenas um bebê em um carrinho.

Talvez seja uma visão romântica do consumo, mas eu acho que essa visão pode mudar um pouquinho o caminho pelo qual nosso mundo vai seguindo.

Em Paris uma lei protege o centro da cidade da abertura de grandes supermercados e preserva e incentiva os pequenos empreendedores. As pequenas feiras de rua – tá, por lá elas são mais feiras em galpões – também são protegidas. Assim, a imagem de um francês chegando em casa com sua baguete em um saco de papel é tão realista quanto era 50 anos atrás.

Por aqui é nossa missão garantir que eles continuem existindo. Aquele mercadinho da rua que te salva quando você está no meio da receita e precisa de algo que faltou na despensa, ou a floricultura que te salva em uma data especial que você tinha esquecido.

O comércio de bairro é parte importante da economia e tende a ser mais justo com seus empregados e mais cuidadoso com o que entrega – afinal, não é do interesse dele que você saia espalhando pro vizinho de prédio que ali não é um bom lugar para comprar. As pessoas tendem a ser mais atenciosas e quebrar galhos diversos, desde a troca fora de hora até um fiado eventual.

Enquanto algumas pessoas aproveitam a facilidade da internet para comprar roupas e eletrônicos de sites que me fazem desconfiar da legalidade dos modos de produção, eu a uso para descobrir quem voltou ao básico, aquela pequena loja de vestidos feitos a mão e que podem até vir com suas medidas exatas – aqui e aqui – ou para descobrir algo novo no Elo7 ou Tanlup, portais que juntas lojas de pequenos artesões.

Aproveito e passeio por sites de artesãs queridas como a Marcela, a Francine e as meninas do SuperZíper.

Além de, é claro, passar horas no Pinterest buscando inspiração para muitos “faça você mesmo” aqui em casa.

Ao iniciar meu aprendizado de fazer minhas próprias roupas – e meu primeiro curso de modelagem foi realmente só o começo – eu descobri que isso é possível, mas que sim, dá um trabalhão. Um trabalhão que dá orgulho de vestir por aí.

E que me fez entender o quão absurdo pode ser o preço de uma peça de roupa, para mais, por conta de marcas, e para menos, por conta da exploração e da escolha de matérias primas de péssima qualidade.

Hoje eu ainda compro uma peça ou outra em fast fashions por aí, tendo a evitar aquelas identificadas com o trabalho escravo, mas só depois de olhar a costura interna, o caimento e pensar sobre o material de que é feito. Assim eu consigo avaliar se realmente estou fazendo um bom negócio.

Também recorro ao supermercado para produtos de limpeza, mas deixo as frutas e verduras para a feira semanal – outro dia alguém me disse que não gostava da feira porque as coisas eram vendidas em grande quantidade, mas eu aqui sou a especialista em comprar apenas meia-dúzia, meia bandeja, três desse só, com educação eu nunca tive um pedido desses negado.

Ainda vou ao shopping, mas não deixo de procurar nas lojinhas da Alfonso Bovero. Ainda compro livros pela internet, mas ainda folheio livros na livraria de rua.

Em tempos difíceis, e estamos em recessão mesmo, essa mudança de atitude pode dar fôlego para muita gente que batalha para manter seu negócio rodando. Ah, e se for um pouco mais caro? Bem, talvez você consuma menos. Mais um ganho no processo.

O Otimista é alguém que percebe que dar um passo atrás antes de dar um passo a frente não é um desastre, é mais como cha-cha-cha.
Otimista é alguém que percebe que dar um passo atrás antes de dar um passo a frente não é um desastre, é mais como cha-cha-cha.

P.S. Bem legal esse texto da Lúcia Malla sobre o consumo de cação. Você sabia disso? Eu não.

P.S. do P.S. Outra dica boa: desapegue com os vizinhos. As roupas paradas no seu guarda-roupa podem ser ótimas para outra pessoa, troque. Não conseguiu trocar? Leve em um brechó ou busque grupos de desapego na internet, quem sabe você ganha um dinheiro extra. Não resolveu? Doe. Muita gente precisa.

P.S. do P.S. do P.S. Tenha uma horta, cozinhe mais em casa, junte os amigos. Crises são bons momentos para redescobrir o quanto o simples pode ser delicioso.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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