A vida ficou um tanto mais complicada

provérbio

Hoje pela manhã li um artigo excelente sobre as frustrações dos profissionais da minha geração, nascida no final dos anos 70 e início dos anos 80. O artigo foi muito feliz em comparar as expectativas profissionais dos nossos pais com as nossas e ao tentar explicar porque isso torna as coisas muitas vezes mais complicadas – vai lá, lê e volta aqui.

É claro que não é somente isso e que a forma como a sociedade tem sido conduzida pelo ter em detrimento do ser contribui para que mesmo os menos ambiciosos sintam-se um tanto frustrados com o que tem conseguido conquistar. É a ditadura do mais: as maiores varandas, os maiores carros, as roupas e acessórios mais caros, os cargos mais altos, as viagens mais distantes (ou mais viagens, vale também).

Num momento em que os parâmetros mudaram tanto é normal se sentir frustrado, afinal fomos criados para a segurança – estude muito, faça uma boa faculdade, consiga um bom emprego, siga reto sem desviar até a aposentadoria -, a segurança se torna relativa. Uma boa faculdade não garante realmente um bom emprego, um bom emprego pode acabar por causa da crise, isso se a boa empresa não acabar, e ninguém fica mais 35 anos no mesmo emprego, e é preciso continuar estudando por toda a vida, e como é que eu vou saber que a minha profissão vai continuar existindo? E, mesmo que eu faça tudo isso, se eu simplesmente não conseguir um emprego formal de novo?

Quando eu li O Mundo É Plano ficou marcado para mim: precisamos ensinar nossos filhos a aprender, não importa o que. E isso já vale hoje para nós mesmos.

Precisamos não somente abandonar o que conhecemos por segurança, porque nunca nossas certezas foram tão incertas, e saber que chega uma hora em que o “mais” simplesmente não existe. Porque não dá pra acreditar que um apartamento de dois dormitórios vá continuar custando mais de quinhentos mil reais num país em que a maioria da população não ganha nem dois mil – um conhecido me disse que achava que o mercado imobiliário está certo porque antes um apartamento e um carro chegavam a custar o mesmo; eu acho que carros custam caro demais nesse país também.

Porque pra ter o tal mais você vai ter de trabalhar tanto e viver tão pouco que nada pagará a sua infelicidades.

Precisamos realmente olhar o que nosso coração deseja (e, gente, a Revista Vida Simples de Outubro foi direitinho nesse ponto em seu artigo de capa, pena que ainda não tá no site para eu colocar o link aqui) e tentar. E se reinventar. E colocar nossas expectativas em diferentes conquistas. E saber que existe sim prazer nas pequenas coisas.

E se acalmar. Diminuir a ansiedade, o peso das decisões, aceitar errar.

P.S. Neste novo mundo o emprego CLT se torna uma realidade estranha para muita gente e eu vi que tem muita gente com dúvidas sobre como ter alguma segurança na velhice mesmo sem registro na carteira. Vou falar disso aqui no blog, tá?

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

2 Comentários


  1. Oi, Simone!
    Faz muito tempo que não escuto o termo “Yuppie”.
    Por ser uma tradução, o texto ao se referir à geração mais velha, diz daquela que conquistou “o sonho americano” que muitos persistem atualmente, mas não com as facilidades que o passado inexporado permitia pois existiam muitas lacunas a preencher. Atualmente todo o mercado formal está saturado. Os filhos dos que conseguiram conquistar o sonho americano, vivem dias de marasmo pois não há nada mais a ser conquistado, do ponto de vista de comparação, pois jamais realizarão mais que os seus antepassados.
    No Brasil, as famílias ainda estão presas a um modelo antigo e a geração anterior sempre achará que no seu tempo que era bom. Escutamos isso dos nossos pais e um dia falaremos para os nossos filhos quando forem adultos. Certamente os nossos pais também ouviram as mesmas coisas dos nossos avós! 🙂
    Preparada para o 7º BookCrossing Blogueiro?
    Beijus,

    Responder

    1. Oi Luma, eu também não via esse termo há um bom tempo.

      Eu não sejo da mesma forma que você, eu ainda acho que as famílias continuam investindo muito na educação formal e acreditando que uma boa faculdade, bom emprego e a casa própria são garantia de estabilidade e se frustram cada vez mais quando algo dá errado. Além disso, o fenômeno dos jovens que querem ir de trainee a gerente em um ano tem dado muito trabalho aos recursos humanos de muitas empresas.
      Preparada! Eu e Carol já separamos nossos livros!
      Beijos

      Responder

Deixe uma resposta