The Newsroom: Red Team III (2×07)

The Newsroom e a questão da confiança.

the newsroom red team III

the newsroom red team III

Uma história pessoal (se você vem sempre por aqui já se acostumou com essa mania, não é mesmo?): eu trabalhei para uma grande empresa de auditoria. Em meu primeiro dia de trabalho entrei, eu e mais o grupo aprovado para aquele ano depois de um exaustivo processo seletivo de mais de seis meses, em uma sala de reuniões sendo recebidos por vários engravatados parados a frente e com a música Simple The Best de Tina Turner tocando absurdamente alta enquanto imagens de vencedores em diversos ramos pipocavam em telas enormes. A lavagem cerebral em questão nos elogiava, mas também nos realçava que nada mais seria do mesmo jeito, deixávamos de ser crianças.

Em meu primeiro trabalho de campo ouvi de um gerente que só existiam dois tipos de erro: por omissão e por desconhecimento. O segundo poderia ser perdoado, o primeiro jamais. Então se um dia eu encontrasse qualquer coisa que me fizesse desacreditar os registros contábeis eu deveria notificar ao meu gerente para que ele decidisse o que seria feito.

Cinco anos depois eu saí daquela empresa uma pessoa diferente e uma excelente profissional e me orgulhava de associar àquela empresa aos valores que eu carregava comigo desde sempre de retidão e seriedade.

Um ano depois aquela empresa acabou, depois de quase cem anos de existência, porque um gerente nos EUA, ao ser informado por um membro de sua equipe sobre os problemas de um cliente, havia resolvido rasgar os papéis que comprovavam o desvio e abafar o caso. Quando a verdade veio a tona aquilo mudou todo o mercado, fez com que milhares de pessoas perdessem o seu dinheiro e deixou outras sem emprego. Porque apenas um homem tomou uma decisão errada – sim, ele pode ter discutido com o sócio responsável pela conta, mas os milhares de sócios e funcionários que a empresa tinha espalhados pelo mundo todo nunca foram consultados.

Quando eu saí de lá eu fui trabalhar com gerenciamento de risco de um grande banco e usava o exemplo acima para explicar o que é o risco de imagem: um pequeno ato isolado, por menor que seja, pode destruir uma imagem a tal ponto que não é possível recuperação e, quando isso acontecer, pouco importará quem cometeu o erro.

Corta para The Newsroom – que é sobre o que vocês querem ler mesmo – e então temos o melhor episódio desta temporada por causa de erros. E, ao longo de todo ele, eu não consegui definir se eu chamaria de omissão ou desconhecimento.

Jerry propositalmente adulterou a filmagem para convencer a equipe a divulgar a notícia. Do outro lado, e aí o tal “erro institucional” cabe bem, Maggie só conta que não estava na filmagem depois que o general já está berrando do outro lado do telefone, o pessoal só descobre que uma das testemunhas não bate bem da bola depois que a notícia já se tornou controversa, Mac só presta atenção ao contador do jogo depois que não tem mais certeza do que fez, Charlie só lembra-se do menino morto quando vai tirar satisfações da sua fonte.

Sim, Jerry foi um tremendo sacana, mas esse é um caso que remete demais a uma catástrofe aérea para culpar apenas uma pessoa – porque assim como em uma catástrofe aérea, é um conjunto de infortúnios, nunca é uma coisa só, que aumenta o grau do impacto final.

Sim, nós aprendemos ao longo do caminho o quão cuidadosos, justos e sérios são os membros da equipe que faz o jornal. Aprendemos a admirá-los, a amá-los até, e por isso odiamos Jerry por colocá-los nesta situação. A questão é que não foi só o Jerry.

Foi a Mac com medo de perder uma grande notícia por ter medo de confiar nas pessoas e então confiando demais. Foi a Maggie achando que não era importante falar que ela não participou da filmagem. Foi o Neal deixando para lá a questão de verificar se realmente o cara tinha ficado sem o celular porque tinha morrido. Foi o fato de ninguém confirmar a ficha médica da principal testemunha.

Não, não foi ganância. Se fosse, como Charlie mesmo falou no episódio passado, eles teriam corrido a soltar a notícia. Foi a vontade de fazer o certo aliada a um excesso de confiança que nos faz não checar duas vezes e um tremendo filho da puta no meio do caminho.

E agora, para recuperar de novo a confiança do público será preciso ainda manter a confiança na equipe, apesar do erro.

Pelo menos Leona lhes dará essa oportunidade, muito porque, por mais que eles lhe incomodem, ela sabe o quão corretos eles sempre foram, afinal eles incomodavam muito até por conta disso mesmo.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

20 Comentários


  1. Você tem razão, foi um conjunto de erros, mas vou xingar o Jerry de fdp para todo o sempre. Ridículo da parte dele processar a ACN.

    Esse episódio teve ótimos momentos, como a Mac entrando na sala de reuniões quase chorando pra anunciar que eles teriam que se retratar… </3
    Mas não foi meu favorito, não. Dois furos grandes:
    – A fonte do Charlie é oficial da marinha. Um militar jamais faria o que ele fez, colocando em risco a vida de milhares de companheiros por uma vingança (lembra que essa questão do risco foi exatamente uma das razões para os jornalistas hesitarem em dar a notícia?);
    – Como é que, de repente, a Leona é louca pelo News Night, que até outro dia ela odiava? Ficou forçado demais.

    Outra coisa: quem é a fonte do Will? É a mesma do Charlie? Isso não ficou claro, né?

    Os próximos episódios serão sobre as eleições presidenciais, mal posso esperar! Sorkin reina nessa seara!

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    1. Sobre os furos: particularmente o tal cara do exército me incomodou muito mais que Leona. Não somente pelo que você falou, mas porque eu acho que um suicídio de um rapaz não ia passar tão ignorado pelo Charlie, ainda mais se o pai do menino era amigo dele a ponto dele ter conseguido o estágio em primeiro lugar.

      Sobre a fonte de Will: também não entendi. Nos textos que li teve gente falando que foi a mesma do Charlie e teve gente falando que foi o cara que a Mac entrevistou. Não sei.

      By the way, a gente continua odiando o Jerry do mesmo jeito.

      Louca pelos próximos episódios e acendendo vela pra sair uma renovação.

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      1. É mesmo, o suicídio não teria passado batido.

        Nem estou cogitando a possibilidade de a série não ser renovada!

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  2. tudooooo menos o Jim !!!

    o Jerry conseguiu o lugar que até então cabia ao Walder Frey de GoT … ódio eterno a ele !!!

    vendo as notícias pelo mundo, o Sorkin não está tão errado assim … Sarin na Síria minha gente !!!

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    1. Risos o cara mais odiado da TV. Pobre do ator, porque tão cedo isso não será esquecido.

      O mundo real sempre será mais assustador que a ficção…

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  3. Acho que a Leona é uma provocadora, está sempre querendo mostrar quem manda. Por isso fica desafiando o Charlie.Mas, agora mostrou amor.
    A temporada vai ser curtinha assim? Ontem fiquei chocada porque fiquei esperando o episódio. As vezes me distraio. E pensei a mesma coisa com esta estória de sarin na Síria.

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    1. O detalhe sórdido é que quem garante que essa história de sarin na Síria é verdade? Pode ser um genoa da vida real.

      A temporada vai ser curta, só nove episódios. Tio Sorkin fez caca, a HBO filmou dois episódios que acabaram indo pro lixo porque ele escreveu um beco sem saída. (Queria muito ver esses episódios num box futuro). Ela deu nova chance pra temporada, mas o orçamento não permitiu uma temporada normal.

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      1. Ninguém sabe de verdade o que acontece nessas alçadas da política, não é mesmo?

        Esqueci de falar da leona: não acho que foi amor, mas ela sabe da equipe que tem, e que sempre a irritou, e deve rolar um “se eu não consegui tira-los não vai ser esse mané que ainda quer o meu dinheiro!

        Também queria muito ver esses dois.

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  4. Mais uma coisa que esqueci de comentar, me surpreendeu de você ter trabalhado com auditoria, gerenciamento de risco… não combina com blogueira, ainda mais de seriados.

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    1. Então, risos, eu costumo falar que quem me conhece na vida de lá, de contadora, não acredita que eu tenha os blogs. Quem me conhece do lado de cá não consegue me encaixar na vida de contadora. Acho que tenho dupla personalidade mesmo…

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  5. Não sei se o caso sarin é verdadeiro ou não mas as fotos são terríveis. Alguma coisa está acontecendo lá.

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  6. Engraçado você contar que foi auditora. Eu fui advogada de grandes escritórios fiquei me imaginando na posição da Rebeca. De fato este direito americano é estranho para nós. O cara que deu causa ao caos mover uma ação pleiteando indenização!!!! Só nos EU mesmo. Chama a Alicia Florrick que ela resolve a questão!!

    Acho que a Leona teve uma atuação magistral!! Falando do Daniel Craig!

    A season já está acabando e ainda não entendi porque a (Loirinha, esqueci o nome dela) corta e tinge o cabelo. Já faz tempo que ela voltou…. No primeiro episódio ela entra na sala com o cabelo curto e vermelho. Já acabaram as entrevistas com a advogada e ela continua loira… Estou muito perdida?

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    1. Risos, o povo lá consegue criar os processos mais obtusos que eu já vi na minha vida!

      Jane Fonda merecia o Emmy só por esta participação, não foi?

      Então, esse negócio com a Leona é logo depois da exibição da reportagem e Maggie ainda está loira, então imagino que a escolha radical tenha sido depois disso e antes da advogada começar a falar com eles. Não é?

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  7. Agora me ocorreu uma ideia muito louca. A advogada lá não tinha falado que precisava da Meggie antiga, com o cabelo normal, pra ter credibilidade no depoimento? Então. Será que ela está usando peruca? 😛

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    1. Então, que nem eu falei para a Ana: Maggie continua loira até o momento em que eles descobrem a merda que fizeram, então o corte de cabelo aconteceu entre esse momento e o momento em que a advogada começa a obter os depoimentos.

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  8. Nossa, fiquei super confusa com o cabelo da Maggie. não consegui acompanhar a linha do tempo. Sempre acho que perdi alguma coisa, que aquela cena dela cortando e tingindo o cabelo muito confuso. Agora fiquei aliviada. Vcs também não entenderam?

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    1. Então, que nem eu falei para a Ana: Maggie continua loira até o momento em que eles descobrem a merda que fizeram, então o corte de cabelo aconteceu entre esse momento e o momento em que a advogada começa a obter os depoimentos. Se não for isso, não dá pra entender mesmo.

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