Livros: Um hotel na esquina do tempo

um hotel na esquina do tempo livro resenhaNormalmente um local é marcado por seu endereço. Poucos tem a chance de serem marcados por aquilo que representam, menos ainda podem ser marcados por representarem um momento específico da história.

O hotel de que fala o título do primeiro livro de Jamie Ford tinha um endereço marcante ao separar os bairros chinês e japonês na Seattle da Segunda Guerra. Ele marcou a história por ser aonde as famílias japonesas, levadas para campos de concentração, guardaram seus pertences mais pessoais.  E, além de tudo isso, ele marcou a vida de Henry de forma irreparável.

A história de Henry pode ser parecida com a de muita gente: ainda menino enfrentou o preconceito de muitos por ser diferente, filho de uma tradicional família chinesa estudando em uma escola americana porque seu pai julgava que aquilo lhe garantiria um futuro melhor. É nesse ambiente hostil que Henry conhece Keiko, menina americana descendente de japoneses também ela vítima de preconceitos.

A solidão das duas almas praticamente os empurra para serem amigos, mas são as similaridades que os mantém juntos e faz nascer um amor incapaz de olhar diferenças, incapaz de entender o que acontecida ao redor deles.

E o que acontecia era a Segunda Guerra Mundial. Após o ataque a Peral Harbor os descendentes de japoneses passam a enfrentar duras restrições, até serem encaminhados para campos de concentração longe da costa.

Henry e Keiko vivem em um mundo paralelo a estes acontecimentos, ele fugindo da ditadura do pai, que não aceita sua amizade com uma japonesa, e encontrando uma família na família de Keiko. Ela? Ah, ela é daquelas almas iluminadas que enchem nosso coração e Henry lhe ensina sobre jazz, lhe apresenta Sheldon, o negro desdentado que toca sax, lhe admira, lhe diz palavras doces.

Mas eu estou indo rápido demais: quando Um hotel na esquina do tempo começa estamos muito a frente. Henry já tem mais de quarenta anos, acaba de perder sua esposa para o câncer e é surpreendido pela reabertura do tal hotel que falei no início desta resenha. Entre os achados ele espera encontrar um LP de Jazz que ninguém acredita mesmo que tenha sido lançado e revê sua vida em uma conversa com seu filho.

As lembranças de seus momentos com Keiko, da forma que foram afastados, de sua busca pela amiga perdida, vão acabar por fazer um filho descobrir realmente quem seu pai é, e ele nem fazia ideia de quem ele era de verdade. E, enquanto Henry conta sua história, nós leitores vamos sendo envolvidos em sua doçura e delicadeza e nos lembramos que, se a vida nem sempre é injusta, precisamos lembrar de que não é à toa que a esperança é a última que morre: a gente não pode é desistir.

A narrativa é despretenciosa. Mesmo os detalhes tristes da guerra são contados de forma a não chocar, o autor não aponta culpados ou inocentes, apenas nos mostra que vivemos cada um conforme nos permite nossas experiências, vivências e cultura.

E é impossível largar o livro antes de seu final – que é tão poético quanto todo o resto.

“- Não se preocupe, ela acaba voltando. Não perca a fé. Continue escrevendo. Tempo e espaço não são coisas fáceis de lidar, acredite em mim. (…) O relacionamento humano é um negócio difícil, difícil de ser cultivado. Mas não desista. Alguma coisa de bom vai sair daí. No final, acaba dando tudo certo, você vai ver.

– Eu gostaria de ter a mesma esperança que você – disse Henry.

– Esperança é tudo o que tenho. A esperança faz a gente acordar de manhã.”

Sinopse

O primeiro romance de Jamie Ford aborda os conflitos de longa data entre pai e filho, a beleza e a tristeza do que aconteceu com os nipo-americanos em Seattle durante a Segunda Guerra Mundial e a intensidade do amor profundo e sincero. Uma estréia notável, ao mesmo tempo amarga e doce. 

Ambientado nos Estados Unidos, em uma época que o mundo sofria as conseqüências da Segunda Guerra Mundial, ‘Um hotel na esquina do tempo’ é um romance sobre compromisso e esperança. O poder da generosidade e do perdão mostra que o amor pode vencer qualquer obstáculo

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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