Difícil é respeitar alguém que só pensa diferente da gente

Logo cedo hoje minha amiga Sam compartilhou um texto em seu perfil no Facebook. O texto em questão trazia como título Eu fiz cesárea, mas não sou menos mãe.

A autora do texto, a parteira Ana Cristina Duarte, inicia seu texto explicando que as muitas e constantes campanhas atuais que defendem o parto normal não estão aí para atacar as mães que tiveram outro tipo de parto. No parágrafo seguinte ela fala que uma mãe que teve seu filho por parto normal não quer diminuir ninguém ao dizer que se sentiu mais plena ao fazê-lo, se sentiu mais mulher, ela apenas está falando de sua própria experiência.

O texto é feliz em explicar que tais campanhas apenas e tão somente querem garantir o direito da mulher de fazer escolhas, no caso a escolha de um parto normal ao invés da cesárea marcada para se adequar ao horário do médico.

Porém, e sempre parece existir um porém, ele não muda o fato de que sim, hoje temos um clima de perseguição às mulheres que tiverem um parto por cesárea, mesmo que esse não tenha sido simplesmente decidido por uma questão de agenda – e eu acho que mesmo estes precisam ser defendidos.

Ao ver críticas ou a diminuição da gravidade de alguma justificativa de uma mãe pela escolha da cesárea – pouco líquido, cordão no pescoço, sofrimento fetal – é claro que essa mãe se sente também atacada. Se sente vítima de preconceito.

Acho que sim, são legítimas todas as campanhas pelo direito de escolha. Mais que isso, acho que toda  a mulher tem o direito de receber de forma clara todas as  informações necessárias para ter uma gravidez, parto e amamentação seguras e plenas.

Mas também acho que, tendo todas essas informações, ela deve ter direito de escolher como quer conduzir sua vida e isso inclui sim o direito de marcar sua cesárea. Eu não sei de seus medos, seus sofrimentos, sua dores, suas limitações, como eu poderia lhe dizer como deve reagir a eles?

Como eu disse no título, é fácil a gente emitir opinião, se colocar contra algo que é claramente errado, equivocado como os vários pronunciamentos dos Felicianos da vida, difícil é a gente respeitar o direito do outro de simplesmente pensar diferente da gente.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

5 Comentários


  1. Simone, gostei muito deste texto. Bem colocado! É realmente difícil respeitar alguém que só pensa diferente. Simples assim.

    Tenho uma amiga que sim, consciente de tudo, optou por suas cesáreas (tem 2 filhos e planeja mais 2). E acho que a gente tem que respeitar isso também, a escolha de cada um.

    Inclusive, já recebi confissões de mãe que queriam fazer a cesárea (seja por medo ou qq outro motivo) e que ficava se apegando em desculpas (cordão no pescoço, não virou, quadril estreito etc etc) para não ser julgada pela sociedade.

    Abs

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    1. É Vivi, essa é uma parte difícil do mundo de hoje com as vidas tão expostas e com pessoas que respeitam tão pouco as limitações do outro. Beijos para você e para sua amiga.

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  2. Eu tenho mais de 50 anos. Minha avó postiça era parteira na maternidade de uma cidade do recôncavo baiano.
    Confesso que acho muito estranho alguém falar no direito de optar por uma cesárea. Sou de um tempo em que a cesariana acontecia por falta de opção. Os partos eram majoritariamente via vaginal e o maior temor de uma mulher nos anos 70 era precisar de uma cirurgia desse porte, pois se ela acontecia é porque algo de grave estava acontecendo. Cesarianas até então eram entendidas como exceção e emergência.
    Diante de todas as informações de que nas cesarianas há maior incidência de morte materna, mais internações nas UTIs neonatais, diante da dor intensa que muitas mulheres enfrentam após uma cirurgia que invade sete camadas de tecido, como pode ainda uma mulher fazer tal opção?
    Não penso que essa mulher que opta pela cesariana seja menos mãe. Não penso que ela ame menos sua cria. Mas penso que ela tem a ilusão de estar optando. Penso que quando fazemos uma escolha coagidas ou com base em informações falsas, não estamos verdadeiramente optando.
    Conheço por experiência no meu próprio corpo os dois modos de trazer uma criança ao mundo. A cesariana não foi uma escolha pra mim, foi uma mentira dita por um profissional em quem eu confiava. Essa foi também uma grande dor.
    Se alguém recomendasse uma amputação da perna para resolver uma unha encravada todo mundo acharia um absurdo. E por que então achamos tão natural um procedimento cirúrgico arriscado a forma mais aceita para o nascimento de nossos filhos?

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    1. Ana, como eu disse no meu post, acho que o que devemos defender é a informação e que a mulher seja livre para fazer qualquer opção. Se, como diz, a opção pela cesárea é algo tão absurdo, tenho certeza de que a maioria esmagadora vai escolher o parto normal. O que eu não aceito é a crítica a mulher em si, porque nenhuma de nós calça seus sapatos diariamente para saber o que ela passa.

      Assim como você fala da perna amputada para dar seu exemplo, tomo a liberdade de falar da minha filha, que morre de medo de alguém que use fantasia. Ela tem 9 anos, é inteligente, vivaz e saber que aquela fantasia nada mais é que uma pessoa, às vezes conhecida, com o rosto coberto. Ainda assim ela morre de medo a ponto de ter se colocado em risco mais de uma vez apenas para fugir de alguém vestido de coelho ou algo que o valha. Eu jamais diminuiria o medo dela dizendo para ela que isso é besteira, porque o que ela passa quando sente isso já é terrível por si só.

      Então porque eu vou dizer que a pessoa é isso ou aquilo por experimentar sentimentos que eu não conheço? Sei lá se ela tem medo do parto normal, sei lá se tem algum trauma, sei lá o que ela pensa. Então que ela possa, ciente de todos os riscos de uma e outra opção, escolher a que lhe cabe melhor na alma.

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  3. Eu não penso que um medo deva ser subestimado, ou desconsiderado. Mas diante do temor de alguém me parece correto ajudar essa pessoa a tomar contato com as razões dele existir, conhecer suas origens e apoiá-la para que possa superá-lo.
    Geralmente as mulheres não tem medo do parto, mas sim das histórias escabrosas que ouviram ao longo da vida sobre partos. Partos mal conduzidos, partos desrespeitosos, partos com intervenções desnecessárias e invasivas.
    Quem tem medo do escuro poderá se tranquilizar ao lançar luz sobre aquele canto do qual ela teme que surjam fantasmas. Esse assunto, parto, precisa de muita luz, muita informação verdadeira. Precisa de muita troca de experiência, essa coisa tão feminina que é conversar, falar de sentimentos, receios, dúvidas e certezas.
    Eu acredito que vai chegar o dia em que nenhuma mulher arriscará sua vida num procedimento cirúrgico que ocasiona 3,5 vezes mais óbitos maternos do que o parto normal (fonte: OMS). Nesse dia, nenhuma mulher vai arriscar a saúde do seu bebê por medo (geralmente as UTIs neonatais servem às crianças que nasceram por cesarianas). Esse será o dia em que estaremos todas bem informadas, seguras e convictas de nossa perfeição em realizar o trabalho que a Natureza nos confiou. Parir é natural. Ser cortada para trazer um filho ao mundo não é natural. A cesariana é um recurso para salvar vidas e não para pô-las em risco.

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