Livros: Ex-Libris, Confissões de uma leitora comum

ex-libris confissões de uma leitora comum

Sinopse

Você dobra as páginas dos livros para marcar onde parou a leitura? Quais livros leva para a cama? Dedicatórias esquecidas em um livro usado provocam em você uma emoção especial? Em deliciosos ensaios, a autora mostra como seus livros prediletos se tornaram capítulos de sua história pessoal e, em rara combinação de humor e erudição, discorre sobre temas como leitura em voz alta, plágio, dedicatórias e livros usados, entre outros. Para ela, compartilhar palavras recém-descobertas ou ler em voz alta com amigos tem um gosto especial, e a compulsão de procurar erros gramaticais em qualquer coisa escrita também pode ser um prazer. Transitando com facilidade entre anedotas sobre escritores e episódios de sua família ?patologicamente? literária, Anne Fadiman oferece ao leitor, comum ou incomum, um fascinante relato sobre bibliofilia. ?Ex-Libris? é não uma apologia, mas uma declaração de amor aos livros, à língua e à palavra escrita. Um livro primoroso, para ser lido com a voracidade de uma traça e a sensibilidade de um ourives.

Apenas 10 anos depois de seu casamento é que Anne Fadiman, autora de Ex-Libris, foi capaz de misturar seus livros aos do marido. O que demonstra muito bem o quanto um apaixonado pelas letras pode ser ciumento. Ou metódico. Ou os dois. O maior motivo de tantos anos de separação é que George, o marido de Anne, organiza seus livros de forma desorganizada, já Anne os separava por assunto, autores e outras regras. Confesso que, neste caso, sou mais parecida com George, apesar de ter me identificado com Anne ao longo da leitura.

É com essa confissão que a autora abre Ex-Libris,em que conta das suas manias e paixões, de seus segredos e sonhos relacionados aos livros.

Já no segundo capítulo, O Encanto dos Sesquepedais, Anne conta a história de Wally, um vermezinho de boné vermelho que comia livros. Meu pai sempre me disse que eu comia livros e olha que ele nunca foi apresentado a Wally. Acho que aí reside a maior diferença entre eu e Anne: enquanto ela vem de uma família de apaixonados pelos livros, que disputam quem leu mais, eu vim de uma família em que o assunto livros era domínio só meu. Não à toa eu era a herdeira natural de todos os livros lidos ou não lidos de primos, tios e avós. Muitas vezes eu era a primeira a lê-los, depois de anos escondidos nas estantes alheias.

No terceiro capítulo, Anne aborda as estantes excêntricas, ou seja, aquela parte da sua biblioteca que só tem livros de um assunto que ninguém no mundo sabe por que você gosta. Eu confesso que não sou muito dada a excentricidades, no máximo poderia dizer que tenho um quê por livros de fantasia, em especial os infantis. Mas descobri, no capítulo, que sou mais romântica que imaginava, dada a admirar muitas pessoas que falharam em suas buscas, segunda Anne um modelo inglês de paixão, diferente do americano que valoriza o sucesso.

Em seguida ela fala de sonetos. Confesso, nunca fui dada a poesias, sempre fui uma apaixonada pelas crônicas.

Quando o assunto é como tratar seus livros, nós duas não poderíamos ser mais parecidas: os ame como quer. Que crianças os abram sem jeito, que você não os segure adequadamente. Guarde-os como achar melhor. Só não os abandone, os esqueça.  Além disso, folhas manchadas, dedicatórias com ouros nomes e capas desbotadas também tem seu charme.

Já se a questão é que tipo de leitor no aspecto localidade voltamos a ser diferentes: eu gosto de livros que falem de onde nunca estive, aonde a imaginação voa sem limites; ela vê prazer maior em livros de lugares conhecidos, melhor ainda se você puder lê-los no mesmo lugar aonde a história se passa.

Anne acha até espaço para falar de feminismo, e de um livro que ela tentou ler durante a licença maternidade e determinava o comportamento que as mulheres “deviam” ter em suas casas,  e lembra de um plágio que sua mãe sofreu anos antes, pior, quando resolveram creditar o livro apenas citaram o outro autor, um homem. Ela ainda fala que a língua para tornar homens e mulheres iguais realmente tem um custo, mas que isso não significa que não deva ser feito. Citando-a diretamente:

“O que estou dizendo aqui é muito simples: mudar a língua para tornar homens e mulheres iguais tem um custo. O que não quer dizer que não deva ser feito. Preços altos são inerentes a várias coisas que valem a pena como um todo. Isso significa que a perda de nosso negligenciado encanto deveria ser lamentada e então aceita com toda a civilidade que possamos reunir por cada escritor ‘worth his’er salt’.”

Ah, e ela me fez me sentir muito mais normal quanto ao fato de que eu corrijo qualquer coisa quando leio. Já abandonei livros com erros de português demais, já corrigi mais de um comunicado de empresa (e acabei virando a contadora que revisava comunicados). Volto a textos meus antigos, que ninguém mais acessa, e corrijo envergonhada os erros encontrados tardiamente. Mais que isso: dói em mim o erro alheio como se fosse meu.

Isso deve ser coisa de quem lê de tudo, de bula a blog.

P.S. Ex-Libris é, sem sombra de dúvidas, um livro para apaixonados por livro. Recomendo.

P.S. do P.S. Eu poderia falar muitas coisas sobre Anne Fadiman, mas jamais diria que ela é uma leitora comum.

P.S. do P.S. do P.S. Agradeço à querida Célia que me emprestou seu livro querido, que rodou aqui em casa nestas semanas.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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