Saudades de um crepe de verdade

Ai que saudades do Crêpe de France! Vendo os crêpes fica pior.

Houve um tempo em que eu não era blogueira e nem saia fotografando comidinhas por aí – sério, verdade mesmo gente – e que, toda semana, eu e o marido batíamos cartão no Crêpe de France na Vila Nova Conceição. Chegávamos a ir duas vezes em uma mesma semana, fizemos amizade com o dono, o francês Frederic Serre, e com o maitre, o simpático Marinaldo. O Crêpe mudou de endereço e nós mudamos com ele. Nos fartávamos do crêpe feito com o autêntico trigo sarraceno e bebíamos cidra – Frederic é considerado embaixador da região da Brêtania no Brasil e era o importador da deliciosa bebida – para encerrar com um crêpe doce, quase sempre de Nutella, que vinha acompanhado de um potinho com mais Nutella ainda porque o Marinaldo sabia do meu vício.

Ainda namorávamos. Noivamos, casamos, fomos a Paris na lua de mel – aonde comprovamos que o crêpe do Frederic tinha gosto de França, mesmo – engravidei, Carol nasceu e continuamos batendo cartão lá.

Um dia o restaurante fechou – TODOSCHORAMESMO – e Frederic sumiu. Chegamos a reencontrar o Marinaldo no Súbito do Conjunto Nacional, mas ele sumiu de novo. Para nós, além da lembrança, um exemplar do cardápio que tantas vezes folheamos antes de acabar pedindo a mesma coisa – um crêpe de queijo reblochon e sain paul, cidra seca e crêpe de Nutella.

Desde então eu já perdi o número de restaurantes aos quais eu e o marido fomos na tentativa de reencontrar aquele sabor, sem sucesso – descobri hoje que tem um restaurante em Pinheiros que promete o autentico crêpe sarraceno, adivinhem o que farei no final da semana? – pensando na sacanagem que foi o Frederic fugir para as montanhas (literalmente, já que agora ele mora em Campos do Jordão).

Semana passada, com a Carol curtindo o final de férias com os avós, eu e o marido resolvemos arriscar de novo, num novo endereço. Eu nem vou falar o nome aqui porque a experiência foi tão ruim que não vale a citação, sabem como é?

Mas foi essa experiência ruim que me fez escrever este post aqui. Vejam vocês, logo eu, que costumo não ser de muita frescura, sem meias palavras e que às vezes até acabo soando mal educada, não quis que ficasse chato e estraguei a noite por não expressar minha opinião logo de cara.

Estacionar na rua: já dava para perceber que algo estava errado, afinal, os manobristas do local, R$ 12,00 para guardar seu carrinho, utilizavam de cones para guardar vagas na rua. Um: isso é errado, o espaço é público e eles não tem o direito de fazer isso. Dois: vou pagar R$ 12,00 para ele parar na rua? Not. Chegamos bem na hora em que um carro saía e o marido nem hesitou ao parar na vaga enquanto o tal manobristas corria pela rua assobiando na tentativa de nos impedir.

Ao chegarmos ao local já vimos que tinha música ao vivo. Nada contra, mas esse é o tipo de coisa para a qual você precisa estar no clima, que eu acho que combina com bate papo com amigos ou almoço de domingo, mas não com jantarzinho a dois em ambientação francesa. Pior, a música ao vivo era sambinha. Nada menos relacionado, certo?

Mas a gente já estava lá na porta, o maitre vindo em nossa direção e coisa e tal, e os dois trouxas ao invés de virarem de costas e irem embora, insistiram. Continuando a saga isso-não-terminará-bem pedi a carta de vinhos, já que sabia que não encontraria a tal cidra, e quase enfarto ao dar de cara com vinhos de R$ 200,00, R$ 600,00 em uma casa super simples, eu sentada a beira da calçada. Nada contra vinhos milionários, só não tenho bolso para consumi-los e por isso mesmo não vou a lugares chiques que normalmente os vende. No local em questão a meia garrafa mais barata não saia por menos de R$ 40,00, um assalto. Desisti, já frustrada e não conseguindo imaginar que eu comeria crêpe acompanhado de Coca-cola.

Pronto, clima estragado, restava tomar uma água e comer o crêpe, certo? O garçom pergunta: duas águas de 300ml ou uma de 500ml. Resposta lógica: uma de 500ml, por favor. Bom, ele só não contou que a tal água de 500ml era francesa e saia pelo valor de uma boa garrafa de vinho chileno em qualquer outro lugar que não ali.

E o crêpe? Nada demais. Parecido com aqueles que você compra naquelas carrinhos, sabe? Pequenininho, de trigo branco, com opções de recheio bem brasileiras como frango com catupiry e não sei o que com ovo. Fui de presunto e queijo mesmo, mas a quantidade abissal de presunto (tipo, umas dez fatias), matou o pobre queijo e deixou o crêpe salgado demais. Ah, ele ocupava um terço do prato, o restante tomado por uma enorme salada de folhas. O conjunto da obra era esse quando meu marido perguntou se eu queria um crêpe doce de Nutella.

Eu optei por voltar para casa e comer Nutella de colher, se é que vocês me entendem.

E por que estou falando tudo isso? Porque eu aprendi uma lição: faça como no mercado financeiro e saiba que a primeira perda quase sempre é a menor perda. Se viu que a coisa não era o que esperava, dê um boa noite ao maitre e saia de queixo para cima.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

13 Comentários


  1. Olá Simone tudo bem?
    Entendo muito bem sua frustação em relação aos crêpes…eu passo por isso sempre….
    O Chef Frederic Serre esta em Sampa,mas não abriu nenhuma casa…ainda…. vou encaminhar seu texto pra ele que certamente ficara muito feliz!!!
    As veses ele dá aulas numa escola de culinária chamada Orbacco, legal que na aula vc degusta “le vrai crêpe”!!!
    Achei seu texto muito inteligente e bem humorado, parabéns!!!
    Tem uma creperia no Shopping Vila Olimpia eles são Colombianos e os crêpes são de farinha de trigo, mas são bem cuidados e com recheios interessantes.

    SUCESSO!!!!!

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    1. Oi Fátima,

      Ele precisa mesmo voltar, lá eu era tão feliz, risos. Essa escola de culinária fica em Sampa? Olha eu super interessada em tentar, risos.

      Vou tentar esses outros que falou. Olha quanto lugar para ir? Risos.

      Abraço grande!

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  2. Ola Simone , antes de tudo gostei de sua comparacao , como a maioria em Sao Paulo faz oferecendo precos caros e absurdas situacoes de tratamento com o cliente e nao pensando em qualidade e um bom atendimento.
    Conhcemos em comum Frederic / Luci , ajudei na construcao com eles quando abriu Crepe de France na V. N. Conceicao ( SAUDADES ).
    Hoje eu e minha esposa moramos em Boston – MA , nao temos nada parecido por aqui somente pizza , massas e chinese food . saudades de um bom crepe e cidra. Caso encontre Frederic , mande um grande abraco . a vcs tbem

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    1. salut
      sim vce esta passando pelo brasil hje estou em campos de jordao como gerante de um restaurante e de uma micro cervejaria e quem sabe daqui a poque terá um canto crepe……

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  3. Boa tarde, será que o Frederic já abriu um restaurante em Campos do Jordão?? Será que vc pode me passar o contato?? Muito obrigada.

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    1. Olá Lucilene, não sei mesmo se abriu, só tive notícias dele aqui pelo blog, infelizmente não tenho os dados de contato. Se eu souber de algo te conto, se você souber, me conta, tá?

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      1. salut
        sim vce esta passando pelo brasil hje estou em campos de jordao como gerante de um restaurante e de uma micro cervejaria e quem sabe daqui a poque terá um canto crepe……

        Responder

  4. Saudades do Crêpe de France… Meus pais nos todos os finais de semana, depois que mudou para o Campo Belo fomos algumas vezes, ate que um dia descobrimos que nao existia mais! Frederic sempre bem humorado nos oferecia a sidra, me lembro como se fosse hoje!

    Hoje é aniversario da minha mãe e ela só sabe disser que queria tanto poder sentir o gosto do maravilhoso crepe do Frederic mais uma vez, porque os lugares que fazem crepe assassinaram o crepe, então resolvi procurar alguem tem noticias? Será que ele continua em Campos?

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