Nunca esperar por um taxi parada

A frase que dá título a este texto foi tirada do texto da Cora, que aprendeu com Millor:

Millôr me ensinou uma coisa muito importante: nunca esperar por um taxi parada. Ninguém garante que um taxi passará com certeza, que estará vazio, que poderá me levar. Taxi se espera andando porque, mais hora menos hora, mesmo que não venha taxi algum, a gente acaba chegando onde precisa.

Terça eu chegava ao meu prédio, trajeto de todo dia: sair da estação Vila Madalena, descer e subir a Avenida Pompéia, só que dessa vez eu não tive de passar na escola da Carol, que havia ido ao dentista com o pai, e desci uma outra rua para depois subir a minha. Na frente do prédio uma vizinha com o cachorro. nos cumprimentamos e ela comenta que hoje a gente anda um pouquinho e já cansa e que eu nem parecia.

Falou que a gente precisa andar mais.

Contei que ando todo dia, pelo menos 3 quilometros, tem dias que 6, ida de volta para o dia a dia de trabalho. Ela arregalou o olho: “Você está vindo da estação? Lá longe?”

Me senti um ET. Outra vizinha acha que sou louca, mas porque vou ser assaltada, não por causa da distância. A primeira comenta que anda todo dia 40 minutos na esteira e que não emagrece nada. Eu subo para casa e outra frase do texto da Cora vem a cabeça: “…a cabeça estava desarrumada e andar dá um sacode, separa o que dói de verdade do que só atrapalha.”

Verdade pura. Eu tô bem, as crises de dor por causa do Sjogren estão mais espaçadas, penso num monte de coisas, olho a vizinhança. Vejo uma vizinha na academia da avenida. Ela vai de carro do prédio até lá, para então andar uns minutos na esteira. Mas a louca sou eu.

Outro dia o pneu do carro do marido furou. Lembrei da borracharia na avenida, perto da padaria. Ele nunca tinha percebido, passa lá todo dia de carro.

Eu sorrio para quem passa, cumprimento os ciclistas. Descobri uma moça que faz pequenos consertos de costura, de um dia pro outro. Fiquei triste quando vi uma casinha antiga ser reformada e ficar toda reta, sem a graça das casas de antigamente.

Penso no médico do filminho que passa no metrô falando que devemos andar olhando para frente e não para baixo, para não forçar a coluna. Mas se não olhar para baixo eu não vejo o buraco, a irregularidade, o fim da calçada.

Não ia ver o lindo sol amarelo e laranja que enfeita uma calçada.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

4 Comentários


  1. Eu também adoro caminhar ! Adoro ver as ruas, casas, comércio, fora que fazemos uma faxina mental maravilhosa. Tem tempo que não venho aqui, está lindo seu blog ! BJS !

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