Brincar de aprender ou aprendendo brincando?

Quantas vezes você já ouviu dizer que criança aprende copiando o comportamento do adulto? Tanto é que é comum ver nas propagandas de TV uma  menina usando os “enormes” sapatos de salto de sua mãe ou um menino com um terno em que caberiam três dele ali.

Acho que existe muito de verdade e acho uma graça quando a Carol resolve brincar em  sua pequena cozinha peguntando para mim e o pai se queremos bolo de chocolate ou purê de batata – seus “pratos preferidos” – ou quando ela me pede para passar maquilagem que nem eu faço todos os dias antes do trabalho.

No fim de semana ela sentou em sua cama e fez uma roda de histórias com seus bichos de pelúcis e sua gata de estimação – não sei ao certo se imitando algo que fazemos muito juntas ou se a professora da escola.

A questão é que é tudo brincadeira: ela não vai de maquilagem para a escola, não usa salto alto, e suas brincadeiras são brincadeiras mesmo, que podem se alguma forma ajudá-la a crescer, mas estão ali em primeiro lugar para que ela se divirta. Ela adora um esmalte, mas não tem essa de tirar cutícula, deixar unha comprida ou cor escura. Porque ela é criança. Essa semana ela está com um azulzinho bem claro nas unhas e por cima dele adesivos de bichos do mar.

Mas, eu garanto, ela não deixa de brincar porque fez a unha, motivo pelo qual sempre uma e outra estão borradas mal ela se levanta da cadeira.

Hoje em dia é comum ver meninas de sete, oito anos, pedindo para fazer festa em salão de beleza, pedindo penteados diferentes e maquilagem de bichinho.

E enquanto está no mundo da fantasia eu acho tudo isso delicioso.

Me preocupa é quando vejo criança com neurose de adulto. Hoje mesmo, uma notícia falava de um spa para crianças. Algumas semanas atrás foi a notícia de que a rede Walmart passaria a comercializar cremes anti idade para crianças. Existe algo de extremamente errado nessa frase e eu juro que não é construção da língua não.

Uma coisa eu garanto: se o mercado está lançando esse tipo de produto é porque existe demanda. E levante a mão comigo quem já viu alguma mãe controlando o que sua filha de 05 anos comia incluindo no contexto o fato de que ela já devia aprender desde cedo que não pode comer de tudo se quiser ser magra como deve.

Por isso mesmo a preocupação nem é tanta com o que tais produtos podem fazer com a criançada, mas com quais valores elas crescerão ao abandonarem tão rapidamente a fase da fantasia em troca de prioridades que, bem, nem são tão valiosas.

Como bem colocado por uma amiga no twitter, parte do problema é porque essa mesma mãe tem esses valores. Muitas vezes ela já vive tão angustiada com o fato de ter que “atender” aos padrões ditados pela sociedade que pensa estar fazendo um favor a filha por levá-la para esse mundo de aparências tão cedo.

Como eu já disse antes, prefiro incentivar outras coisas na Carol, como olhar o mundo de forma bondosa, não ter preconceito pelo diferente, se aceitar como é e se sentir merecedora de felicidades mil justamente por ser assim.

Sim, algumas vezes dá mais trabalho querer tudo isso, porque, para dar o exemplo, eu preciso repensar meu comportamento, policiar como ajo, rever minha forma de fazer as coisas. No final das contas, as duas ganham, porque eu também consigo deixar de lado o ter e praticar o ser, o amar, o desapego.

No final, ser mãe não é fácil mesmo, tem dia que esgota, mas vale tanto a pena quando você percebe que conseguiu realmente ensinar algo valioso!

E, no final das contas, para que apressar as coisas? Enquanto puder eu vou deixar que a Carol aproveite muito de suas brincadeiras, tanto as que já citei aqui, como subir em árvores ou correr com seus amigos ou jogar futebol ou com carrinho de controle remoto. Por enquanto só vídeo-game sofre controle por aqui.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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