A descoberta do gostar (2) – Orgulho de Mãe

É claro que não contei só aqui do namorado da Carol: contei para a terapeuta e liguei para a pedagoga da escola. Essa pedagoga não é mais a responsável pela turma da Carol, na verdade foi quem nos recebeu quando a Carol entrou no berçário, mas tenho um carinho grande por ela e sempre trocamos histórias da Carol, eu e ela.

Quando contei a história do namorado, da mesma forma que contei aqui, ela já foi exercitando o lado pedagoga, falando para eu não incentivar, que é cedo e coisa e tal. Até que eu contei o nome do menino. A pedagoga se derreteu e era só elogios pro menino e que a Carol era uma fofa.

Fiquei com aquela cara de nada entender do lado de cá da linha do telefone. Até que ela explicou o motivo: Caique, o motivo do gostar da Carol, é um menino com Síndrome de Down. Sim, dentre todos os garotos a quem Carol podia se apegar, foi a ele que ela se apegou.

Meus olhos se encheram de lágrimas de orgulho. Em casa a gente nunca saiu falando sobre diferentes e iguais, nunca achei que fosse preciso, até por achar que era cedo e que isso ia acontecer naturalmente, de um dia ela perguntar sobre alguém diferente. Mas a Carol nem perguntou, ela simplesmente “abraçou” a diferença. Para ela foi tão ou mais natural do que seria para alguém que vive ouvindo que todos somos iguais.

Ontem Carol chegou contando que deu o desenho ao Caique. Contou que tinha ficado envergonhada e que a professora foi com ela para entregar. Depois contou que alguns colegas, tanto meninas como meninos, não falam com o Caique, que têm vergonha ou acham estranho. E ela não entende. Dei um abraço apertado na minha pequena tão especial, porque se eu falasse eu ia chorar.

Depois ela falou que o Caique é um fofo e que falaram que ele tem uma doença. Que deve ser um arranhão que ele tem na bochecha.

Hoje acordou me pedindo para fazer um novo desenho, que vou fazer com mais carinho ainda.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

1 comentário

Deixe uma resposta