Admirável Mundo Novo: Redes Sociais Mudando a Vida

Soumitra Dutta

Como eu falei em meu artigo anterior, a principal motivação de ir ao Fórum de Gestão do IEL foi a palestra de Soumitra Dutta, professor do INSEAD e autor do livro Throwing The Sheeps On The Boardroom.

Fui descobrir quem era Dutta devido à presença do jornalista Mathew Fraser no evento Órbita 2009. Fraser é co-autor do citado livro e, na ocasião, deu uma pincelada em divertidas histórias relacionadas ao uso de redes sociais e como elas estão mudando o mundo.

Dutta, extremamente simpático, aprofundou a questão em sua palestra e me deu a certeza de que o investimento realizado na importação do livro, ainda indisponível no Brasil, foi uma ótima decisão.

No início de sua palestra, o professor falou sobre inovação e sobre a necessidade de chamar a atenção dos grandes executivos para o que está acontecendo no mundo. É da necessidade de chamar a atenção que veio o nome do livro e, segundo Dutta, ovelhas podem ser substituídas por quaisquer outros animais – mas duvido que o vídeo contido no site www.throwingsheep.com ficasse tão interessante se assim fosse.

Dutta ressaltou que jovens são diferentes, mas de uma maneira muito positiva. E é graças a maneira com que eles adotam as novidades – tão fácil e tão rápida – que o mundo está mudando e as empresas precisarão se adaptar, principalmente se considerarmos que parte deste exército já é cliente de muitas empresas e, muito em breve, se tornarão seus empregados.

As principais mudanças são decorrentes das diferenças estruturais entre internet e o mundo corporativo: enquanto as empresas ainda são baseadas em um sistema local, ditatorial, segmentado, de ascensão e influência vertical em orientação top-down, a internet cria pessoas para quem tudo é global, onde o conhecimento é democratizado, onde existe transparência e a pessoa é importante pelo que sabe e transmite, e não por seus títulos ou posição ierárquica.

E são essas diferenças que, muitas vezes, explicam a hostilidade com que as mudanças são recebidas no meio corporativo. Dutta cita como exemplo o fato de dois terços das empresas no centro financeiro de Londres limitarem o acesso de seus empregados ao Facebook ou o fato do Pentagono ter barrado o acesso ao My Space.

Do outro lado da moeda, temos um contingente enorme de pessoas que hoje são clientes destas mesmas empresas – que querem ser tratados de forma diferente, da forma que aprenderam ser a correta – e que logo serão funcionários destas.

Dutta contou a história de um pai que ficou preocupado com o quanto sua filha abria sua vida na internet. Ao compartilhar com a filha sua preocupação ouviu apenas que as coisas mudaram. Ao falar que ele jamais a contrataria para sua empresa em função disso, recebeu a resposta crucial: eu não quero trabalhar para uma empresa como a sua.

Após dar este exemplo, Dutta foi questionado por uma dos presentes quanto à velha imagem de que continuamos cometendo os mesmos erros de nossos pais. Assim como Dutta eu prefiro acreditar que não, a cada geração mudamos e evoluímos, aprendendo com os erros e sendo influenciados pelo o que evoluiu.

Eu me identifiquei muito com os exemplos dados por Dutta ao longo de sua apresentação e isso explica parte de meu sentimento “de não pertencer”. Faço parte de uma geração que ficou imprensada entre os velhos costumes e a nova geração que já nasceu conectada. Ao contrário de boa parte de minha geração, por outro lado, adotei todas as novidades – sou a tal da early adopter que falam por aí.

Talvez esse sentimento seja maior ainda porque atuo na área financeira de uma empresa não inserida no mundo de tecnologia ou propaganda, empresas onde, naturalmente, todos os profissionais acabam mais próximos de tantas novidades. Em minhas reuniões de trabalho às vezes me sinto um extraterrestre. E ninguém entende a caneca em minha mesa com os usuários do Twitter.

Outro exemplo dado por Dutta foi da importância da internet na eleição de Barack Obama, sobre a qual prometo falar mais assim que meu livro aterrissar em casa – infelizmente o envio de livros continua sujeito a tantas variáveis quanto possível.

Apesar de tantas coisas contrárias, Dutta identifica uma Nov apostura por parte das companhias norte-americanas que começam a usar as redes sociais como ferramenta de negócios e considera essa uma tendência que deve se tornar global: “As redes sociais são ferramentas poderosas que estão mudando o mundo dos negócios, da política e a sociedade em geral porque conferem uma transparência inédita às informações”.

Dutta citou a indústria farmacêutica como uma das primeiras que precisaram se reposicionar, pois a publicidade e o patrocínio de eventos médicos não conseguiram fazer frente à repercussão de blogs que se posicionam contra ou a favor de um medicamento.

A questão agora é: quais sairão na frente no Brasil e o quanto isso será vantajoso em relação às demais.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

Deixe uma resposta