O que importa é que seja amor

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“Este ano comemoro 15 anos de casado com uma pessoa com quem divido minha vida, minhas alegrias e tristezas, e por quem tenho profundo amor e carinho. Não enxergo nada de errado ou indigno no nosso amor. Tenho certeza de que ele é abençoado por minha família, por nossos amigos e por todos que nos querem bem. Se isso não é casamento, não entendo o que possa ser. Por isso me sinto envergonhado de, ainda hoje, no meu país, ter de me declarar solteiro. Tomo isso como uma falsidade ideológica e uma afronta à minha cidadania.”

Texto divulgado por Carlos Tufvesson junto do release de seu desfile na Fashion Rio, relembrando 40 anos de luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais

Hoje é dia de Parada Gay na cidade de São Paulo. Milhões de pessoas protestarão, mostrarão sua cara e sua opinião e comemorarão, porque não dizer, quem são.

Se a festa é alegre e linda, é triste que, em tempos tão modernos, essas pessoas não sejam respeitadas por quem são. Que muitos, por preconceito e/ou medo, lhes considerem menos merecedoras da alegria de ter seu amor reconhecido e respeitado. Que alguns considerem que eles são menos pelo simples fato de terem uma orientação sexual diferente da deles – agradeço ao Pablo por ter esclarecido a diferença entre opção e orientação sexual para mim:

O termo “opção sexual”, como muitos utilizam, é inadequado para qualquer situação. A sexualidade nasce conosco, não é mutável. Então, o mais adequado seria utilizar “orientação sexual”. Esse termo “opção”, é algo que buscamos quebrar já há algum tempo, pois dá a entender que “escolhemos” nossa sexualidade, que escolhemos ser homo ou heterossexual, o que não é verdade.

Assim como, também, já há algum tempo, estamos buscando quebrar o termo “homossexualismo”, que tem mais uma conotação de doença do que um termo. O correto, aqui, é homossexualidade ou gay mesmo, que eu acho mais leve.

Quem também disse muita coisa interessante sobre o assunto foram a Liliane Ferrari e minha querida amiga Sam Shiraishi. Se, por um lado, é triste que ainda exista tanto preconceito, por outro, é bom ver aqui um espaço em que não somente os homossexuais possam se expressar, mas um espaço em que, quem não enxerga diferença, possa também apoiar esta causa.

A Liliane fala em seu texto do medo que alguns pais têm de que seus filhos se tornem homossexuais influenciados pelo televisão – como se isso fosse verdadeiro – e digo aqui que passei por algo semelhante. Meu marido não é tão aberto quanto ao assunto quanto eu – eu não diria que ele é preconceituoso, já que dois de seus melhores amigos são homossexuais, mas ele também não encara isso com naturalidade – e uma vez tivemos uma discussão ocasionada porque minha filha entrou na sala onde eu assistia ao seriado Brothers And Sisters, um dos mais felizes na maneira como trata a homossexualidade, sem que ela seja uma condição, mas apenas um detalhe na vida de um de seus personagens, e viu dois homens se beijando. Eu expliquei a ela que isso é normal e que, quando crescemos, podemos amar homens ou mulheres.

Ela tem apenas 05 anos, então não levei a conversa muito longe, mas fiz questão de deixar claro que isso é natural. Ele considerou que eu fui longe demais, acho que com um pouco de medo de que realmente isso se tornasse natural na cabecinha dela. Louco isso não é? Pensando que ele é uma pessoa que não é preconceituosa eu pensaria que ele iria agir de outra maneira. Isso serviu para me mostrar que as pessoas têm níveis diferentes de aceitação quanto a este assunto

Mas quero que minha filha entenda isso como natural, até porque, eu não sei e ninguém sabe, essa pode ser a orientação dela no futuro e ela precisa sentir que será aceita dentro de sua casa sem preconceito algum, sempre.

A Sam falou em seu post sobre os transexuais, em um texto bastante feliz, e que faz refletir sobre eles, que sofrem ainda mais preconceito, já que a opção se manter no armário não existe. Pior, muitos não entendem que o fato de uma pessoa travestir-se nada tem a ver com sua orientação sexual. Um caso para exemplificar é o personagem de Clarence Bell em Boston Legal, que se vestia de Clarice para criar coragem de enfrentar as pessoas ou defender suas opiniões. Um dos personagens mais doces já criados por David E. Kelley.

parada gay 2009Se, por um lado, é triste que o tema da Parada Gay deste ano seja Mais Cidadania e Direitos Iguais, porque algo assim não deveria ser necessário de se pedir, algumas coisas têm mudado para a melhor.

Na publicidade a aceitação das diferenças já é mais recorrente e até mesmo exemplos de famílias diferentes do que seria considerado o modelo tradicional já são mais comuns. Em São Paulo já existe um posto de atendimentos especializado em homossexuais e travestis – mas devemos lembrar que eles precisam mesmo é de atendimento com respeito em qualquer lugar – e é muito mais normal ver casais de diferentes tipos nas ruas sem que eles sejam alvo de olhares atravessados – pelo menos em São Paulo essa é uma realidade feliz.

Como católica fico a espera do dia em que minha igreja também aceitará

Torço para que o mundo em que a Carol será adulta seja mais feliz justamente por aceitar tanta diversidade.

Para ler também:

Será Que Elas São? – reportagem da Revista Nova Escola sobre o fato das escolas nem sempre estarem preparadas para lidar com a questão da homosexualidade.

ONG Ajuda Pais a lidarem com a homossexualidade de seus filhos

São Paulo Ganha Primeiro Ambulatório Para Travestis e Homossexuais do País

São Paulo tem o primeiro hotel para o público gay

As Famílias Mudam

Orgulho Gay: Personagens Gays Nas Séries de TV

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

4 Comentários


  1. Olha, o seu marido não é o único que aceita/não aceita a homossexualidade. Para os homens, especialmente aqueles que já são pais, aceitar isso, mesmo que em um amigo, um conhecido, seria admitir a possibilidade que isso, caso aconteça dentro da própria casa, seja aceitável. Não existe pai ou mãe que diga “eu quero um filho gay” (exceto a Alanis Morissette). Não são todos que têm a cabeça aberta e buscam informações sobre o assunto para saber como lidar com o assunto. Seu marido, no entanto, já tem uma grande vantagem, que é você.

    Você, como fã dos seriados, com certeza convive com vários personagens. Imagina, lá em 1994, onde os gays ainda tinham um espaço menor, “Friends” já abordava o caso de Carol e Susan e era tão natural. “Will & Grace” é uma das séries mais fantásticas da história da TV. Em “Popular” o assunto foi tratado dentro da escola, mostrou violência. Em “Dawson’s Creek” todo mundo sonhava com um beijo do Jack, muitos assumiram-se para os pais quando Jack o fez para sua família.

    Então com certeza você está acostumada com o assunto. Para seu marido, talvez falte um pouco mais de informação sobre essa situação. E você, como companheira, como mãe, como blogueira e detentora de uma internet cheia de informações, poderia ajudá-lo a entender e mostrar que, por mais inaceitável que ele acredite que seja, é algo que acontece, não dá para mudar.

    Já é tão difícil ser gay, imaginar ser gay e ainda não ter o apoio daqueles que mais amamos?

    Parabéns pelo post, vou citá-lo lá no Universo Mix.

    Bjo! 😉

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    1. Pablo,
      Acho que não é só a TV, que com certeza tem sido de grande ajuda para as pessoas olharam tudo isso com mais naturalidade, mas eu e ele somos de “gerações” diferentes – temos 15 anos de diferença – e sei que isso acaba pesando, já que as coisas foram ficando normais enquanto eu ainda crescia, mas ele já era “adulto”.

      Como você disse, ninguém fala que quer ter um filho gay, mais por saber das dificuldades que ele vai enfrentar em sua vida do que por qualquer preconceito, mas precisamos ficar abertos ao fato de que alguém querido pode ser e é importante que ele se sinta respeitado.

      Outra coisa que percebo é que as mulheres têm uma tendência a aceitar a homossexualidade muito mais facilmente do que os homens. A causa disso eu não sei, talvez porque no passado o sexo feminino tenha sido menosprezado, mas as mulheres são mais abertas até mesmo para o “experimentar”, enquanto os homens nem por brincadeira.

      Mas, acredito mesmo, que se a gente falar muito, trocar informações, cada vez mais isso deixa de ser diferença.

      Beijos

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  2. post excelente, explicações do pablo idem.

    ps: procurei ‘homossexualismo’ no pdubt para editar e corrigir e… nao tinha nenhum! inconscientemente já usava ‘homossexualidade’ antes de saber.

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