Enquanto isso, lá fora: Kings

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Muito raramente eu acabo assistindo algum seriado que acabou de estrear pelos EUA, na maior parte das vezes eu espero para ver se ele sobreviveu a sua primeira temporada e estrear por aqui, evitando sofrimentos devido a cancelamentos prematuros (como eu sofri com Studio 60).

Mas não pude me furtar a assistir a estreía de Kings. E nada poderia ser pior do que o que aconteceu:

1. Estou apaixonada pelo seriado

2. Ele é a NBC (para quem não sabe, a NBC é aquela que vai mal das pernas com todos os seus seriados, não tem a mínima paciência de esperar o negócio pegar, quanto mais mantém no ar um seriado que tem público restrito)

Uma amostra de como a NBC funciona é o fato de ter colocado um seriado desta envergadura (explico melhor abaixo) para estrear na midseason e em um horário em que ele competiria contra Simpsons, Family Guy, American’s Funniest Home Videos e 60 Minutes – os programas indicam qual o tipo de público é encontrado no horário em rente a TV. Ah, e eles escolheram o dia da entrevista do Obama no 60 Minutes para estréia. Gênios, não?

Ou seja: se quiser ler o resto do meu texto ou, pior, também embarcar na viagem proporcionada pelo seriado, prepare-se para um eventual sofrimento absurdo em um curto espaço de tempo.

Kings é uma aposta arriscada por si só – e cara – por sua premissa: uma nova versão da história bíblica de Davi contra Golias. Aqui representados pelo soldado David Sheperd (muito bem interpretado por Christopher Egan) e pelo tanque Golliath usado na guerra.

O seriado pretende ser um épico de guerra (as cenas do campo de batalha mostradas no primeiro episódio são grandiosas), um drama familiar (onde amor, dedicação, traição e decepção andam juntos) e um drama político (artimanhas e corrupção acontecem, mesmo quando temos uma monarqia).

A história se passa no reino de Gilboa, onde o rei Silas Benjamin (o perfeito Ian McShane) acaba de reconstruir a capital Shiloh, após a mesma ter sido por três vezes destruída. Silas é um homem de poder e fé, e as duas se equivalem em importância.

Ele repete para seu povo a história de um sonho, em que uma coroa de borboletas é formada em sua cabeça, que seria um sinal de Deus para o seu reinado. Ele repete essa história quando anuncia a paz entre Gilboa e Gath. Depois desiste da paz, quando o principal financiador do reino, William Cross (Dylan Baker) o ameaça em função do dinheiro investido na expectativa de que a guerra durasse pelo menos mais um ano – o fato dele ser o marido da rainha não pode ser tratado apenas como detalhe.

A paz acaba vindo pelas mãos de David. Primeiro, na guerra, ele salva o filho do rei do cativeiro – sem saber quem salvava – para, em seguida, enfrentar um tanque Golliath a vista de milhões de telespectadores.

David se torna um herói e, por este motivo, tornasse o escolhido por Silas para ser o porta-voz da guerra. Mal sabe o rei e todos os demais que, no momento em que se levantou a frente do tanque ele, em verdade, iria se render.

David se sente um fraco e, após a morte de seu irmão, resolve enfrentar todo um exército de peito aberto, uma decisão tão corajosa como louca. Por causa de seu ato a paz virá, por mais que Willian Cross não concorde, afinal, como quebrar um gesto como esse? As palavras de David em frente ao tanque são fortes e doloridas, como devem ser.

Silas, no fundo, é um bom homem. Mas ser rei é o mais importante para ele e, por isso, ele deixa tanta coisa de lado. Ele tem uma segunda família, na qual encontra paz e carinho – o simbolismo do momento em que sua amante lhe oferece uma almofada quando ele reclama das costas contra a reação de sua esposa minutos antes para a mesma reclamação é muito forte.

Outra figura importante no jogo do poder é o Reverendo Samuels (Oz Eammon Walker), por quem Silas tem respeito, carinho e medo. No que foi mostrado no episódio duplo da estréia, Samuels pode se transformar no principal apoio e influência para o jovem David.

Uma cena que ainda não se encaixou para mim é a de David tocando o piano de Silas. É a cena em que ele conhece Michelle, a filha de Silas, e por ela se apaixona. Nela ele conta a história daquele piano, pelo qual ele demonstra adoração. A cena funciona muito bem, mas ela não se encaixa na história de um menino do interior, de uma família grande, cujo pai era um mecânico de carros.

Mas dela temos outras que deram leveza ao episódio em meio a tanta seriedade: a dança de David e Michelle e o momento em que os rapazes da guarda entregam o piano no apartamento de David.

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O episódio se encerra com uma cena mítica e cheia de significados: olhando pela janela de sua casa Silas vê David sendo coberto por borboletas, que acabam por formar uma coroa em sua cabeça.

Do outro lado da cidade, Jack, o filho mais velho de Silas – perfeitamente descrito como uma Paris Hilton com pênis – se encontra com Willian Cross para arquitetar um plano para que ele suceda seu pai o quanto antes.

Eu não percebi a uma hora e meia deste piloto, uma adequada mistura de tudo a que se propõe o seriado. Um elenco afiado, personagens interessantes e multi-facetados, uma trama real e envolvente. O que se espera de um bom show.

Resta torcer por seu sucesso.

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Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

9 Comentários


  1. Eu não consegui resistir e esperar a legenda em português. Mesmo com meu ingles limitado, usei a legenda nesta lingua. Muito embora muitas passagens dos diálogos tenham sido nebulosas, devo dizer: roteiro estupendo, atores fantásticos, fotografia-edição-sonoplastia primorosas, tudo é um brilhante exercício de direção. Espero que a esperiência de assistir este episódio duplo aconteça por muitas e muitas temporadas.

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  2. Eu adorei o episodio piloto.. meu medo é o trato que a NBC tem com as series.. eu vi um roterio bem feito sem falhas.

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  3. Após ler seu texto, assisti o primeiro episódio. Como sou cristão, amei a abordagem e vou tentar te explicar sobre o que de repente não entendeu: A série não se baseia só na história de Davi e Golias, mas na vida do Davi bíblico como um todo. A cena de seu encontro com o Reverendo Samuels, representa o momento em que ele é ungido Rei pelo profeta Samuel, daí a mão do reverendo tocando sua fronte. Quando foi ungido Davi ainda era pastor de ovelhas (daí o sobrenome Shepherd que quer dizer pastor em inglês). A primeira cena dele brincando com um cão da raça collie, cães pastores por natureza também é uma indicação.
    O Davi bíblico era músico e o piano tem haver com a harpa que ele tocava.
    Uma outra coisa interessante é que o Davi bíblico casou-se com Mical, filha do Rei Saul. Na série Michele é filha do Rei Silas e ao que tudo indica, inicia um romance com David.
    Um abraço!

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  4. Pefeita a série.
    Axo poucos filmes e seriados, que todo o conjunto esta em hamonia e perfeição.
    Kings junta drama, aventura, filosofia, religião e politica. É genial a série, se compara a série Roma. Pena ter sido cancelada, mas mesmo assim a primeira temporada vale apena.

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  5. estou vendo kings pela mutilshow e realmente estou gostando, vale a pena e eu recomendo para todos assistirem, abraços !

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  6. Assisti a serie toda da primeira temporada, simplesmentes….. muito muito bom….!

    Ação Aventura romance suspense e muitas emoções…. 🙂

    Recomendo!

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