As verdadeiras razões da infelicidade

Copio aqui ótimo texto de Barbara Gancia sobre o sentimento de infelicidade retratado no filme Foi Apenas Um Sonho:

cacetada na mediocridade

Passei os últimos dias questionando a razão pela qual “Revolutionary Road” (Foi Apenas Um Sonho) é ambientado nos anos 50.

Cheguei à conclusão de que, naquela época, para os homens, era impossível escapar do conformismo da carreira profissional. Quando o sujeito entrava num determinado emprego, era lá que ele ia ficar até a chegada da aposentadoria.

E, para as mulheres, a fantasia era a única via de escape do marasmo da vida da dona-de-casa, não havia muitas opções na era pré-feminismo.

Só que o descontentamento do casal Frank (Leonardo di Caprio) e April (Kate Winslet) Wheeler é o mesmo que a gente vê nos casais afluentes de hoje. Vivam eles em Connecticut, em Alphaville ou num condomínio de luxo em Dubai.

Sabe aquele casal bem-posto que precisa viajar todo fim de semana, que precisa conhecer as ruínas de Angkor Vat ou os gorilas de Ruanda na próxima viagem ao exterior, pois já esteve em todos os lugares mais convencionais em férias passadas?

Essa angústia, essa necessidade de estar constantemente em movimento para debelar o tédio e para aceitar as próprias limitações é que condena os Wheelers à infelicidade conjugal.

O problema não está no casamento, está no vazio de cada um. E, por não conseguir conviver com isso, eles usam a mudança da família para Paris como tábua de salvação.

Frank justifica a mudança para seu colega de escritório: “Em Paris, vou poder ser eu mesmo, vou poder me expressar”. O amigo pergunta: “Mas não dá para fazer isso aqui mesmo?”

Hoje, todo mundo se considera “especial”, todo mundo acredita não ter nascido para a mediocridade, todo mundo se acha no direito de ter felicidade e sucesso intermináveis.

Mas a maioria não possui qualquer talento palpável que justifique esse se achar singular. E acaba topando com o vazio existencial e ficando sem ter para onde fugir.

Muito poucos de nós fomos talhados para viver um destino único, para ser “grandes” pessoas e fazer coisas memoráveis.

E quem não sabe aceitar essas limitações tem grandes chances de entrar na terceira idade com o pé esquerdo.

Fazia tempo que eu não gostava tanto de um filme como gostei de “Revolutionary Road”. É uma cacetada na cabeça, um filme dificílimo de assistir com performances para lá de sensacionais de Kate Winslet e Leonardo Di Caprio.

Di Caprio não poderia deixar de ter sido indicado para o Oscar de melhor ator por seu Frank Wheeler.

Desde já, ele é o maior injustiçado das premiações deste ano.

O problema não é o caminho para a felicidade, mas sim o que julgamos que ela seja…

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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